O bicudo vem diminuindo a rentabilidade e contribuindo para o encolhimento da área plantada
Produtores de sete municípios do oeste baiano estão declarando guerra ao bicudo do algodoeiro. A praga tem reduzido a competitividade da região e vem sendo apontada como o maior causador de prejuízos à cotonicultura local.
Há um mês, os produtores de algodão se reuniram em Barreiras, a 860 km da capital baiana, para reformular o Programa Fitossanitário da Bahia. Entidades como a Embrapa, a Fundação Bahia - responsável por pesquisas na região -, Agência de Defesa Sanitária da Bahia (Adab) e a Associação de Produtores e Irrigantes da Bahia (Aiba) também integraram a discussão sobre as estratégias que serão adotadas.
A próxima safra de algodão começa a ser plantada já no final desse mês e é justamente em seu início que está a maior chance de incidência da praga.
"O bicudo é praticamente o que está tirando a competitividade do cotonicultor", diz o produtor, engenheiro agrônomo e diretor da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Celito Breda.
Ele afirma que a praga é responsável pela perda de 10% da produção por ano. Os custos com defensivos agrícolas somados a esse prejuízo na produção chegam a levar metade do lucro do produtor. "A gente costuma gastar R$ 300 com o controle do bicudo, por hectare, mas, em alguns casos, isso chega a R$ 1,2 mil", diz Breda.
Essa redução na rentabilidade tem contribuído para um encolhimento da área de algodão na região. Na próxima safra, ela deverá ter cerca de 220 mil hectares, um tamanho 50% menor que há cinco anos.
No seu lugar, entrará a soja, levando o plantio, no oeste, a uma situação próxima da monocultura. "Isso traz um risco técnico e também econômico. Se você põe todos os ovos numa mesma cesta, quando ela cai, o prejuízo é maior", diz Breda.
Reprodução rápida
A grande maioria dos produtores tomam os cuidados necessários para evitar o bicudo do algodoeiro, mas as falhas na prevenção de poucos já é suficiente para botar toda a área em risco.
Isso porque esse besouro se reproduz com bastante rapidez. Breda conta que um único bicudo pode gerar até 2 milhões de outros besouros durante um ciclo de algodão, de cerca de 180 dias. Ele age, no algodoeiro, perfurando o botão floral e a maçã dessa planta.
Para evitar que isso aconteça, os produtores devem estar atentos às plantas voluntárias, que crescem fora das áreas de algodão. Um tipo são as tigueras, que brotam espontaneamente. As soqueiras são os restos da cultura que foi substituída.
"Esse ano, com a substituição de área de algodão por soja ou milho, se isso não for muito bem planejado, sobrará muita planta para o bicudo se alimentar", diz o diretor da Abapa. Ele ressalta que essa praga é uma das mais fáceis de controlar.
Além de capacitação e treinamento intensivos, as entidades ligadas a essa produção, no oeste baiano, estão apostando na cooperação entre os produtores. Os cerca de 190 cotonicultores vão se dividir em pequenos grupos, que se reunirão e combinarão as ações de prevenção, mês a mês.
Durante a reunião, no mês passado, o pesquisador da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Paulo Degrande, destacou a importância da união das microrregiões. Ele acredita que a tendência será o esforço conjunto no controle simultâneo do bicudo nas áreas produtoras, dentro de uma rede de protocolos de monitoramento, aplicação, produto e checagem.