Mesa redonda, realizada no canal do jornal A TARDE no YouTube, discutiu os desafios da indústria
Os principais desafios da indústria baiana no pós-pandemia, os impactos da Covid-19, os pontos fortes do setor e suas deficiências, a falta, até o momento, de um plano de ação claro quanto à retomada da economia e a reabertura comercial. Esses foram alguns dos principais assuntos discutidos no A TARDE Conecta de ontem, mesa redonda, ao vivo, realizada no canal do jornal A TARDE na plataforma digital YouTube. A programação integrou a cobertura em homenagem ao Dia da Indústria, comemorada ontem.
Participaram do debate o economista e jornalista Armando Avena, como mediador do evento; o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Alban; o vice-governador do estado e secretário de Desenvolvimento Econômico, João Leão; e o superintendente do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), Mauro Guimarães Pereira. A associação representa mais de 90 empresas instaladas no Polo Industrial de Aratu, na região metropolitana de Salvador.
Primeiro a falar, o vice-governador João Leão parabenizou a articulação e a soma de esforços entre os chefes dos poderes executivos estadual e municipal no enfrentamento à crise sanitária, destacou a gravidade da situação, mas disse também que os investimentos no estado não pararam durante esse tempo. Segundo Leão, houve um crescimento de em novos aportes e negócios na Bahia, no primeiro quadrimestre de 2020, em comparação ao mesmo período do ano anterior, de 147%.
Ainda segundo Leão, tão logo as coisas normalizem os chineses (do consórcio vencedor da licitação) voltam para assinar o contrato de construção da ponte Salvador-Itaparica. Só aí serão R$ 750 milhões em ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), disse o vice-governador.
“A pandemia não criou problema só para a indústria, mas para o comércio, as cidades do interior, a favela. Provocando medo, insegurança, atingiu até o psicológico (das pessoas). Hoje não se pode sem dar um abraço mais. O problema é sério e traz a interrogação de quanto tempo mais (isso vai durar)? Vou precisar fechar minha indústria? Um série delas fechou porque produziu demais e não tem para quem vender, outras demitiram. Agora é desacelerar a pandemia e abrir (as atividades) devagar”, falou ele.
Propulsor do desenvolvimento
Questionado por Avena sobre o que seria a “desindustrialização” por qual passa o parque industrial baiano, o presidente da Fieb, Ricardo Alban lembrou que em todas as economias do mundo o setor industrial é o grande propulsor do desenvolvimento, mas que no Brasil o último trabalho de planejamento para o setor se deu ainda no governo militar, 40 anos atrás. De acordo com Alban mais do que nunca é preciso revisitar o conceito amplo de globalização e o encadeameto produtivo.
“Vários setores econômicos vivem o problema como um todo. Muitos se reinventaram, ou converteram as atividades produtivas nos segmentos de bens não-duráveis, diferentemente dos de bens-duráveis, como automotivo, por exemplo. Foram vários os tipos de impacto, e é óbvio que muitos negócios vão fechar. Alguns voltar com a operação depois, ou gradualmente, Mas quando uma indústria fecha ela não reabre mais”, disse.
Entre “outros fatores” causadores da “desindustrialização”, Alban bateu na tecla da perda de produtividade – e competitividade – da indústria nacional por conta da “falta de foco no investimento em educação” no país. Ele criticou também a atual desarticulação política no âmbito federal, e o ambiente de negócios hoje pouco favorável à atração de novos investimentos.
“No momento em que o mundo vive uma crise sanitária, de saúde e econômica, estamos prestes a viver no Brasil uma crise também política. Só que para planejar é preciso um ambiente seguro. Nesse mesmo instante, trilhões de dólares estão vagando pelo mundo em busca de um porto seguro. Aqui falta planejamento, um projeto (maior) em obras de infraestrutura, e que o estado brasileiro seja o grande regulador e impulsionador do crescimento econômico do país”, afirmou.
Armando Avena ainda citou que o Brasil se aproximava do “ciclo” de aproximadamente 90 dias, média no mundo inteiro para a pandemia perder força. Para em seguida comentar acordos que devem estimular o setor petroquímico, como a parceria entre a Braskem e a Petrobras na compra / produção de nafta (derivado do petróleo), e a entrada em operação da operação da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), arrendada pela iniciativa privada junto à estatal brasileira.
“Por conta dessas e outras inovações, empresários (do polo industrial) começam a olhar (o futuro) com otimismo, isso a despeito das dificuldades (da economia), e do setor já combalido por décadas. Empresário não costumam enxergar no curto prazo. No Brasil existe o custo [alto] com energia, tendo uma grande reserva de gás natural, logístico, entre outros. E ainda falta muito planejamento e ação”, falou o superintendente do Cofic, Mauro Pereira.