Segundo Fecomércio-BA, o comércio baiano deve deixar de faturar R$620 milhões nos 11 feriados previstos para o ano, na Bahia | Foto: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE
Neste início de ano, muitas liquidações de verão começam a surgir, e no cenário atual chegam com o intuito de recuperar as vendas do ano anterior, aproveitando a demanda da alta temporada. Portanto, os lojistas, que ainda lidam com as vendas em ritmo mais lento por conta da pandemia de Covid-19, vibram na esperança de que as promoções atraiam o cliente, para aquecer o comércio.
Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-BA), em dezembro, a intenção de consumo das famílias baianas registrou alta de mais de 7,2%, representando um cenário mais otimista, após os prejuízos provocados pela pandemia do novo coronavírus. Além disso, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a categoria de vestuário e calçados, seguida pelos artigos de uso pessoal e doméstico encontram-se nas prioridades das maiores intenções de compras dos consumidores.
Logo, mais de cinco mil estabelecimentos, entre shoppings e lojas de rua da capital baiana e da Região Metropolitana de Salvador (RMS) estão participando da 23ª edição da Liquida Salvador, promovida pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL), ofertando descontos que variam entre 10% e 70%, em diversos segmentos, prometendo contribuir na movimentação do comércio. Além disso, os clientes poderão concorrer a prêmios inéditos.
A campanha, considerada como uma das maiores impulsionadoras do varejo baiano, iniciou em 29 de janeiro e segue até 8 de fevereiro.
“Mais do que nunca, a campanha é importante para os lojistas e para impulsionar as vendas”, enfatiza o coordenador da campanha, Bernardo Carvalho, em nota divulgada por assessoria.
De acordo com a CDL, no ano passado, a movimentação financeira estimada pelos organizadores foi de cerca de R$ 600 milhões. Além disso afirmou que, normalmente, o crescimento calculado de um ano para o outro é de 5%. No entanto, por conta da instabilidade do período, em razão da pandemia do novo coronavírus, a CDL não divulgou a expectativa de vendas para este ano.
Nas lojas e shoppings, os segmentos com descontos variam entre vestuário, calçados, perfumaria, beleza, acessórios, utensílios para casa, itens de decoração, artigos para presente, eletrônicos, dentre outros.
Impactos no comércio varejista baiano
No ano passado, no período de liquidações, ainda não havia iniciado a pandemia. Sendo assim, o ritmo da procura este ano diminuiu consideravelmente. “Há uma busca muito menor da liquidação este ano. O comércio obteve um avanço no ano passado, mas foi por conta do auxílio emergencial. Agora, no início do ano, sem o auxílio emergencial, com as contas de início do ano para pagar, a inflação de alimento subindo, acaba sobrando muito pouco para as famílias na Bahia”, aponta o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze, em entrevista ao PORTAL A TARDE.
A Fecomércio-BA, embora aponte que o comércio varejista baiano teve expansão de 0,5% em novembro de 2020, no comparativo com o mesmo mês do ano anterior, calcula uma perda acumulada de R$ 6,2 bilhões nos nove meses iniciais da pandemia.
Ainda segundo projeções da Fecomércio, em 2021, o comércio baiano deve deixar de faturar R$ 620 milhões nos 11 feriados previstos para o ano, na Bahia. “Esse é um valor ainda muito pequeno. A gente fez o cálculo imaginando que tivesse o carnaval e todos os feriados”, cita Guilherme.
Após um ano bastante atípico, o economista pontua a importância de fomentar as vendas neste início do ano. “Se você não reduzir o preço, fazendo liquidação, dificilmente você irá conseguir atrair o consumidor. Logo, é preferível você reduzir o preço para o consumidor e depois, em uma melhora da economia, tentar aumentar sua margem. Mas neste momento a gente avalia que é um momento de oferta”.
Com o fim do auxílio emergencial para algumas famílias, que foi bastante responsável por reverter o saldo do setor varejista baiano no segundo semestre, e o aumento expressivo dos alimentos, uma boa opção para os varejistas seria a de postergar esse período de liquidação. Segundo Dietze, o auxílio emergencial ajudou 41% da população da Bahia. "Então é enorme o montante de famílias que dependeram do benefício. Não adianta agora o varejista aumentar o preço, porque esse consumidor está basicamente sem renda", complementa.
Em comparação com o 1º, o 2º semestre de 2020 obteve maior crescimento para o varejo baiano. “Março, abril e maio foram os meses críticos e a partir de agosto, foram variações expressivas de crescimento. Logo, é nítida a recuperação do varejo no segundo semestre. Mas mesmo com a recuperação, a gente deve ter um ano de 2020 negativo, por conta de um primeiro semestre muito ruim”, avalia o economista.
Nos primeiros meses do ano, as compras iniciais, liquidações e o dia das mães são responsáveis por impulsionar a economia, diferente do segundo semestre, que traz fortes campanhas de liquidações e várias festas comemorativas. Neste 2021, o semestre também não contará com o carnaval. “A gente vai ter um primeiro semestre [de 2021] bem fraco, não ruim e negativo como tivemos no auge da pandemia, mas muito fraco porque a restrição da renda continua baixa”, explica.
“Além disso, tem a redução da confiança das famílias com essa segunda onda, com medo de perder o emprego, com medo do que vai acontecer na economia, e isso tudo gera insegurança, que por sua vez, gera menor consumo”, alerta.
“É um cenário muito ruim que a gente tá vendo ainda nesse início do ano. Mas a gente só vai ter uma estabilidade, um ritmo maior, não só com o emprego, mas também com a vacinação, que é uma variável fundamental para a gente ter uma confiança, tanto de empresário, quanto dos consumidores” afirma.
Compras online – a “nova cara” das liquidações
Devido a pandemia de Covid-19, as compras realizadas de forma online passaram a ser mais realizadas e, inclusive, incentivadas, como método para evitar aglomerações e a propagação do novo coronavírus.
Logo, os clientes passaram a optar por canais digitais de compras, seja para receber no conforto do seu lar ou por realizar a retirada por meio do sistema drive-thru, isto é, sem precisar sair do carro para buscar os produtos. Inclusive, vários comércios da capital baiana se reinventaram com este sistema para manter, no mínimo, um “modo de sobrevivência” para a economia.
Conforme um levantamento da Ebit/Nielsen, empresa que mede a reputação de lojas virtuais, apenas no 1º semestre de 2020, o faturamento de lojas online cresceu 47%, em comparação com o mesmo período de 2019, representando a maior alta do setor em 20 anos.
Ainda segundo os dados, 7,3 milhões de brasileiros compraram pela primeira vez no e-commerce, neste respectivo período. Entre os segmentos que mais cresceram, tanto em relação a demanda, como faturamento neste período, estão: aplicativos de delivery, informática e construção/ferramentas.
A pesquisa, inclusive, apontou que desde o início da pandemia de Covid-19, o número de pessoas que fazem compras pela internet subiu de 19% para 34%, até o final do ano passado.
Influenciadores e os famosos “achadinhos”
Os shoppings e demais comércios passaram a ser adeptos da comunicação por meio das redes sociais, visando se aproximar e atrair ainda mais clientes, e com isso, os influenciadores digitais tornaram-se peças fundamentais para o impulsionamento das campanhas, através dos famosos “achadinhos”, no qual os influencers divulgam para os seguidores peças/objetos/serviços bastante procurados e atrativos que estejam em promoção, ou seja, com o tradicional “valor remarcado”.
Na prática, os “achados” são os mais novos “bater perna”, em busca de melhores ofertas. Com isso, ao invés das pessoas gastarem horas de loja em loja, o tempo é passado no Instagram, em páginas que reúnem os garimpos.
Endividamento
Embora as promoções sejam atraentes para os consumidores, economistas alertam para que as pessoas obtenham cuidado para não estourarem o orçamento. Em dezembro de 2020, 63,4% das famílias de Salvador possuíam algum tipo de dívida, ou seja, correspondente a 588,3 mil famílias endividadas, conforme aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada mensalmente pela Fecomércio-BA.
Os primeiros meses do ano costumam ser recheados de dívidas, que se estendem por parcelas, visto que segundo o Sindivarejista, durante esta época de descontos, cerca de 95% dos consumidores optam por pagar as compras com o cartão de crédito.
CDC
Em caso de propaganda enganosa, os consumidores podem contatar diretamente os vendedores, em busca de solicitar providências, uma vez que o artigo 35 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) permite que o consumidor exija aquilo que foi ofertado.
*Sob supervisão da editora Keyla Pereira