Dono das boates San Sebastian e Amsterdã, Vasconcelos aposta na fidelidade do público LGBT
O Brasil possui 60 mil famílias formadas por homossexuais, o que corresponde a 0,1% da população. O dado, no entanto, não dá a dimensão real da quantidade de pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo, porque o recorte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) limitou-se apenas às constituições familiares, o que indica um número superior. Com a expansão do direito à união estável e o avanço da sociedade na aceitação à diversidade sexual, o público gay surge como importante nicho para os empreendedores. E quem souber aproveitar este potencial só tem a lucrar.
O motivo? O mercado é promissor por dois principais pontos. Um deles é que boa parte do público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros ) está nas classes A, B e C, segundo pesquisa realizada pelo Conectaí Ibope, portanto, dentro de uma categoria considerada com um bom padrão de vida. Em entrevista realizada pelo instituto com quase três mil pessoas em março deste ano, 14% delas responderam pertencer à classe A, com remunerações que variam de cerca de R$ 5 mil a R$ 9 mil; 11% disseram se encaixar na B, cuja faixa salarial está entre R$ 2 mil e R$ 5 mil; e 10% afirmaram fazer parte da C, com rendimentos que chegam a R$ 1,6 mil.
O outro motivo que pode encorajar investimentos nesse nicho é que os homossexuais, em sua maioria, não têm filhos, logo, mais disponibilidade para gastar. Como não têm despesas relacionadas à educação e à saúde dos filhos, consequentemente, sobra dinheiro para gastos voltados para o lazer. Por isso, os setores de entretenimento, turismo, restaurante e de produtos específicos direcionados para esse público são os mais promissores, analisa a coordenadora da Unidade de Acesso a Mercado do Sebrae Bahia, Suely de Paula.
Mais exigentes - Os segmentos de vestuário, moda, beleza, higiene pessoal e serviços em geral, sobretudo os serviços de conveniência, também são beneficiados, destaca a coordenadora do Sebrae. "É um mercado muito parecido com o mercado de solteiros, mas com um diferencial: eles são ainda mais exigentes", afirma.
Outro diferencial é a fidelidade do público LGBT. Se eles aprovam determinado produto ou serviço, provavelmente voltarão a consumi-los e tornam-se, muitas vezes, fiéis àquele estabelecimento. É assim com a hoteleria, as agências de viagens, o turismo e com o mercado de entretenimento. Dono da San Sebastian, boate voltada para o publico gay que funciona no bairro do Rio Vermelho, e da Amsterdã, nos Aflitos, o empresário José Augusto Vasconcelos destaca essa característica do mercado LGBT como um fator importante para continuar apostando no ramo.
Negócio rentável - "Se fizermos um comparativo, percebemos que as boates LGBT no Brasil têm uma duração muito maior em relação às heterossexuais, que sobrevivem de 'modinha', por um, dois anos. Já as boates gays, em São Paulo, por exemplo, têm 10, 13 anos", conta o empresário, que, agora em 2013, completa quatro à frente da San Sebastian. Os seus dois estabelecimentos recebem, mensalmente, 15 mil pessoas, abrindo somente às sextas e sábados. "É um negócio rentável, se bem planejado e estudado", afirma.
Quem pretende investir em um negócio ou adaptar o já existente para atender essa parcela da população, a dica de quem já trabalha e de quem estuda o mercado é conhecer os desejos do público e planejar bem o negócio. "É preciso entender as necessidades, as características pessoais e de com elas gostariam de ser atendidas", destaca Suely de Paula.