Tamar e Cláudia atendem a 35 delicatessens
O fim do ano está chegando e qualquer dinheiro extra é bem-vindo quando o assunto é contas a pagar. Mas emprego, todo mundo sabe, está difícil, e até mesmo os temporários devem ser coisa rara neste Natal. Que tal, então, pôr em prática aquele antigo sonho de "acelerar" a produção ainda caseira - seja de um doce, salgado, lenço pintado à mão? Otimizar os processos, incrementar as vendas, profissionalizar o negócio, acertar o caminho?
Para os especialistas ouvidos por A TARDE, para quem deseja empreender ainda em 2015 o primeiro passo é identificar uma oportunidade (de mercado) em potencial - se não inédita, um produto ou serviço com valor agregado ou oferecido de forma inovadora. A partir daí, aconselham, o ideal é elaborar um plano de gestão e contar com a consultoria prestada por agentes e entidades de fomento e capacitação empresarial.
De acordo com o coordenador de comércio e serviços do Sebrae Bahia, Ítalo Guanais, cautela, planejamento, criatividade e ter em mente o nível de investimento necessário para começar são tarefas indissociáveis na fase de lançamento de um empreendimento. Saber negociar - em especial com fornecedores - também é fundamental para quem quer viver de comércio, ele diz.
"Para empreender tem de saber negociar. Acertar com o fornecedor o pagamento para depois da venda. Além disso, é preciso utilizar de inteligência, identificar as necessidades do cliente. Pesquisar, perguntar à rede de contatos, amigos, familiares. Testar o produto, confirmar o poder de venda junto ao cliente", explica Guanais.
Oportunidade na crise
Mas e a crise? "Na crise é um dos melhores momentos para investir. É só planejar", diz.
Quem confirma essa tese é o presidente da Associação dos Jovens Empreendedores da Bahia (AJE), João Pedro Bahiana. Segundo ele, o momento é o da "reorganização da modalidade de consumo".
"O momento de crise é o de se olhar o que está à volta. Muita gente fica descrente, achando que nada vai funcionar. Mas não é assim. O consumo vai ficar, sim, mais seletivo. Quem tinha dinheiro e pensava em comprar um carro, por exemplo, é muito provável que adie essa compra e passe a investir em outros produtos", diz Pedro Bahiana.
Pois foi um momento de crise que uniu as sócias Tamar Costa e Cláudia Dourado. O ano era 2013 e Cláudia, professora da rede estadual de ensino, em greve, chegou a ficar três meses sem salário. Servidora da prefeitura de Salvador há 28 anos, nascida e criada no Recôncavo baiano, Tamar sempre sonhou viver da gastronomia regional.
Foi então que as duas tiveram a ideia de cozinhar maniçoba e convidar os amigos para comer em casa. Em pouco tempo, elas já estavam fornecendo cerca de 50 porções congeladas do prato por semana. Hoje, atendem a cerca de 35 delicatessens, uma média de 500 pedidos em sete dias.
Qual a grande sacada delas? "Feijoada é muito comum, enquanto maniçoba é um prato quase raro por aqui. Ou seja, tem inovação e exclusividade aí. Realizamos um desejo, sempre quis trabalhar com culinária, e Cláudia administrar, empreender", conta Tamar.
"Para isso contamos com a consultoria do Sebrae, que foi muito importante no quesito gestão empresarial, financeira. Também fizemos cursos de congelamento (no Senac). O desafio era congelar e manter um sabor tradicional. Nos aperfeiçoamos nisso", diz.
Foi em Trancoso, no extremo sul do estado, de tanto ver "gringo" se proteger do sol amarrando a camisa na cabeça, que a artesã Edna Castro teve a ideia de comprar chapéu para revender na praia - além da bijuteria "orgânica". Em pouco tempo, lá estava Edna, costurando os próprios artigos - e ainda incrementando com adereços, focando também no universo feminino.
"Não satisfeita, passei a fabricar bolsas, saídas, tudo de moda praia. De ambulante virei microempresária. Hoje, vendo para vários estados brasileiros e exporto para pelo menos uns quatro países".