Paulo, Ítala e Hélio são idealizadores do projeto Vale do Dendê
O Vale do Silício, região da baía de São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos, tornou-se conhecido por ser sede de diversas empresas de alta tecnologia. Considerada a meca das startups, a região inspirou a criação em Salvador do Vale do Dendê, projeto que pretende trazer uma identidade baiana ao movimento local de novos negócios.
A iniciativa é um ambiente de aceleração de empresas, aprendizado e networking e pretende mostrar ao mundo os projetos que são fruto da criatividade baiana (daí o “dendê”). “Salvador não tem muita divulgação como uma cidade criativa e inovadora nos negócios, como São Paulo ou Rio de Janeiro. Queremos mostrar as iniciativas que estão fora do radar dos investidores e nos tornar um polo de inovação para o Brasil e o mundo”, explica Paulo Roberto Nunes, publicitário e um dos idealizadores do Vale do Dendê.
O projeto começou no ano passado com um edital para seleção de startups para aceleração. Dentre 107 inscritas, foram escolhidas 30 para a fase de pré-aceleração, que começou em abril e ainda está em curso. Dentre os critérios de seleção, além de inovação e escalabilidade, como é comum nas startups, houve uma preocupação com representatividade e diversidade racial, de gênero e classe e um desejo de alcançar iniciativas de diversos bairros e classes sociais.
“A cidade está pulsando de criatividade em subúrbios como Cajazeiras, Liberdade, Plataforma. Fizemos caravanas de divulgação nesses locais. Achamos importante a trajetória do empreendedor e buscamos diversidade”, conta Paulo, que cresceu no subúrbio ferroviário de Salvador e é cofundador do Instituto Mídia Étnica e do Correio Nagô.
Dentre as 30 startups selecionadas estão iniciativas voltadas para a autoestima e afirmação da população negra, como lojas de moda e beleza, marcas de bonecos e brinquedos e até aplicativos de paquera e agências de viagens. Outros projetos são voltados para áreas como sustentabilidade, jogos eletrônicos e ajuda a projetos sociais, todos com propostas centrais focadas no impacto social.
As startups estão no momento participando de mentorias em áreas como acesso a crédito, gestão, marketing e tecnologia, feitas no Espaço Cultural da Barroquinha. A partir deste mês, o vale ocupará um espaço no Shopping da Bahia, onde serão divulgadas as startups participantes e realizados eventos. Nos dias 10 e 11 de maio, 10 startups dentre as 30 serão selecionadas para prosseguir com a aceleração, enquanto as outras continuarão tendo acesso a eventos e atividades.
Celivan e Kézia, do Muxarabis, são parceiros de Maria e Agnaldo (Foto: Alessandra Lori l Ag. A TARDE)
Impacto social
Geórgia Santos Nunes é uma das selecionadas que estão participando das mentorias de pré-aceleração. Ela criou no ano passado a Amora Brinquedos Afirmativos, que promove a representatividade e empoderamento negro por meio de itens como bonecos, chaveiros e kits de giz de cera “da cor da pele”, com várias cores. A cada boneca “Amora” vendida, um brinquedo é doado.
“A população negra é empreendedora por natureza, pela própria necessidade financeira, mas muitos não conseguem divulgação pela falta de conhecimento técnico”, conta a empreendedora. Para Geórgia, a aceleração é uma oportunidade de aprender a atrair investidores e dar visibilidade ao seu negócio.
A divulgação também é importante para os arquitetos Celivan Góes e Késia Santos, que estão prestes a lançar o site Muxarabis Mobiliário, um marketplace para móveis sustentáveis feitos por pequenos artesãos. “Muitos artesãos periféricos já trabalham com isso, mas não conseguem ser vistos no mercado, queremos criar esse novo canal e ajudá-los a vender”, conta Celivan.
Ele é morador do subúrbio ferroviário, e Késia é de Pau Miúdo. Juntos, eles vêm fazendo parcerias com produtores de móveis de seus bairros em materiais como pneus, pallets e garrafas PET.
Também com foco na ajuda a projetos locais, Nicholas Montenegro está em pré-aceleração com o Solidareasy. A plataforma pretende conectar organizações sociais sem fins lucrativos e pessoas interessadas em ajudar.
“Pelo site, a pessoa pode se voluntariar ou comprar produtos da lista da organização. Assim é possível ajudar exatamente com o que eles precisam”, conta Nicholas, que teve a ideia após ser voluntário em diferentes projetos.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló