Regina Bochicchio | Fotos: Rafael Martins e Rapahel Müller | Ag. A TARDE
Danilo buscou crédito para ampliar o Bolinho do Hulk
Pedidos de empréstimos em bancos tradicionais, sobretudo para quem quer empreender, estão perdendo terreno para solicitação de crédito em plataformas digitais. Empréstimos feitos com ferramentas digitais por microempreendedores da Bahia aumentaram 158% entre janeiro e agosto deste ano, de acordo com a Serasa Experian. Um total de 13,7 mil microempreendedores individuais (MEIs) e microempreendedores (MEs) pediram empréstimo, face a 5,3 mil pedidos no mesmo período no ano passado.
Os dados da Serasa, que tem plataforma online para operações de crédito com instituições parceiras, como Tutu Digital, BizCapital e Nexoos, levam a crer que operações menos burocráticas e com juros mais baixos alavancam negócios. A 'onda' leva o microempreendedor a pressionar por juros mais baixos em bancos tradicionais.
Empresas, como a Lendico, por exemplo, registraram o dobro do montante em dinheiro emprestado para a Bahia para empreender entre janeiro e julho deste ano. O total emprestado para pedidos da Bahia foi de R$ 559.425,56 em 2019, contra R$ 277.844,07 no mesmo período em 2018.
Do total emprestado para o Nordeste, no período de julho de 2018 a julho de 2019, a Bahia representou 30% dos créditos para empreender.
O CEO da Lendico, Marcelo Ciampolini, diz que, se em outras regiões do País os empréstimos são destinados, em sua maior parte, para o pagamento de dívidas, no Nordeste, a situação se inverte. Ele avalia que o crescimento de empréstimos para empreender na Bahia está ligado às vantagens da plataforma e ao desemprego.
"A pessoa está desempregada e está tentando outra maneira de ganhar dinheiro. E uma alternativa é empreender", diz. A Bahia possui a maior taxa de desocupação do País, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada pelo IBGE no último dia 15. Foi registrado 1,282 milhão de pessoas desocupadas no segundo trimestre de 2019.
Mercado mais otimista
Outro motivo apontado por Ciampolini seria o de que o processo de empréstimo mais amigável (menos burocrático, menor taxa de juros) aliado a um certo otimismo que começa a rondar o mercado estaria alavancando este crescimento. "Além de ser menos burocrático, a gente trabalha com taxa média de 3,5% ao mês. Os bancos tradicionais oferecem o dobro disso", diz.
O microempreendedor Danilo Roma dos Santos, 35 anos, está ampliando seu negócio de salgados fit, o Bolinho do Hulk, e, para isso, buscou vários bancos e plataformas para um empréstimo de pouco mais de R$ 40 mil para aquisição de maquinário que aumentará sua produção. Assim, conseguiu uma taxa de juros de pouco mais de 2%.
Danilo deixou um emprego no setor de comercialização de colchões para apostar no negócio dos salgados. Comprou freezer, uma moto para entrega, tudo à vista. A demanda cresceu a tal ponto que, cinco meses após a empreitada, ele recebe pedidos de mercados e gente querendo revender. "O maquinário vai produzir em um dia o que produzo em uma semana. Pechinchei em muitos lugares porque a taxa de juros tem que ser compatível", conta.
Há casos, porém, em que o dinheiro emprestado é usado para iniciar o negócio. Foi assim com a artista plástica e desenhista de tubulação industrial Patrícia Cerqueira Morais. Há quase três anos ela investiu em um food truck de hambúrgueres gourmet.
Patrícia tomou empréstimo para montar seu food truck (Foto: Raphael Müller | Ag. A TARDE)
"Tivemos que pedir uma parte a um banco e a outra parte através de uma cooperativa de crédito, que ofertava juros mais baixos", conta. Ela e a sócia conseguiram R$ 5 mil em banco e R$ 15 mil pela cooperativa. Compraram uma Kombi retrô food truck, equipada. "O empréstimo à época foi muito importante, sem isso não teria viabilizado o negócio, pois não teríamos o dinheiro da noite para o dia", diz Patrícia. Boa parte do investimento já se pagou com as próprias vendas.
Recursos próprios
A analista do Sebrae Adriana Pereira lembra que "começar o negócio dependendo 100% de recursos de terceiros não é a melhor opção". O ideal, diz, seria usar um financiamento para estrutura (móveis, equipamentos, maquinário, reforma), deixando o dinheiro próprio, ou reserva, para o capital de giro.
"Isto porque o financiamento tem juros mais baixos e prazo de pagamento mais longo. Ainda assim, o empreendedor deverá fazer um plano de negócios para verificar se é viável o negócio em si e qual percentual de recursos de terceiros a futura empresa suporta pagar", aconselha.
Já quando o assunto é ampliar os negócios, como no caso do Bolinho do Hulk, o empréstimo pode ser um caminho mais viável. "Quando o negócio já existe e busca ampliação, o financiamento ou o empréstimo – para capital de giro, investindo em compras de matérias-primas ou mercadorias – pode ser uma excelente opção", diz.