Fábio Bittencourt | Foto: Joá Souza | Ag. A TARDE
Jeanderson e Isabel entregam nas imediações do metrô
“Entrego em estações do metrô”. Esta é uma das frases mais vistas em anúncios publicados em perfis de redes sociais ultimamente. Gente que comercializa tudo quanto é tipo de produto – por meio de WhatsApp, Facebook, Instagram – e depois combina de entregar a mercadoria nesses locais. De roupa infantil a copos e canecas personalizados, passando por eletroeletrônicos, artesanato, até prataria.
Mas o “movimento” deve ser rápido, discreto. Às vezes, com cada um de um lado da catraca – que é para alguém não pagar a passagem; em outras, o ponto de encontro escolhido é a passarela de acesso. Tudo isso porque não é permitido nenhum tipo de comércio nas dependências do sistema metroviário. Segundo os personagens desta reportagem, a escolha do lugar se dá pela “segurança” (do espaço) e a “economia do frete”.
Conhecidos também como “vendedores da web”, o grupo, segundo os especialistas, integra o chamado “varejo digital”, que, de acordo com levantamento do Ebit/Nielsen, deve crescer 15% em 2019 em relação ao ano anterior. Ainda segundo o estudo, o faturamento do setor saltou de R$ 18 bilhões em 2011 para R$ 53 bi em 2018. A participação do comércio eletrônico em todo o varejo brasileiro, contudo, ainda gira em torno de 3%, 4%.
Depois de trabalhar em uma loja (quiosque) de moda infantil em um shopping da capital, a moradora de Cajazeiras Analine Batista, 33 anos, há três decidiu que era hora de empreender. Encomendou seu primeiro lote de 100 peças para bebê, até o tamanho 16, e passou a divulgar entre vizinhos, amigos e grupos de aplicativo de celular. Logo teve a ideia de marcar a entrega em uma estação de metrô.
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“Eles ainda estão comercializando produtos com baixo valor agregado, mas já podem pensar na utilização de ferramentas online de baixo custo, como o desenvolvimento de um site”
Ítalo Guanais, gerente do Sebrae
Dizendo-se uma das pioneiras na “estratégia”, ela conta que às vezes é preciso “driblar” a atenção dos seguranças, que “não querem que a gente venda, pegam no pé”. “Também costumo combinar (de entregar o produto) em shopping. É melhor porque é um local mais seguro, com a circulação de pessoas”, fala Analine.
O publicitário Jeanderson Silva e a mulher, a farmacêutica Isaelba Keila, ambos de 28 anos, resolveram, em meados deste ano, reforçar o orçamento doméstico com a comercialização de canecas e copos personalizados. Mesmo empregados, investiram em curso de aperfeiçoamento da técnica (de sublimação), pesquisas na internet e foram à luta. As estampas são variadas, indo de imagem da banda preferida do cliente a foto em família.
Com um portfólio próprio e canecas girando entre R$ 29,90 e R$ 40 – os copos têm preços variados –, Jeanderson diz pensar em ampliar o mix de ofertas. Segundo ele, o WhatsApp e o Instagram deram outro alcance ao negócio.
“A partir da ativação dessas redes, a gente conseguiu atingir mais gente. E escolhemos as estações do metrô pela segurança. Moramos na (avenida) Paralela e, geralmente, o encontro é na estação Flamboyant, de preferência sem que eu precise passar a catraca. Amanhã mesmo tenho uma entrega em Bom Juá (no terminal)”, conta ele.
Para o gerente do projeto Varejo Digital no Sebrae Bahia, Ítalo Guanais, mesmo se tratando de microempreendedores em “fase inicial” do negócio, atuando ainda com um “certo grau de informalidade”, alguns aspectos são essenciais no tocante ao comércio eletrônico. Uma dica, segundo ele, é utilizar das ferramentas de marketplace – como o Mercado Livre, na internet – para em seguida pensar em uma “plataforma mais integrada”.
Plataforma integrada
“Eles ainda estão comercializando produtos com baixo valor agregado, mas já podem pensar na utilização de ferramentas online de baixo custo, como o desenvolvimento de um site, e o Sebrae pode auxiliar nisso. Para depois pensar em uma plataforma em que ele possa, em um só lugar, reunir serviço de logística (entrega), otimizar os meios de pagamentos, tudo integrado com os sistemas de gestão”.
Enquanto não formaliza o negócio de acessórios de prata, a estudante de nutrição Sheila Oliveira, 24, engrossa a fila dos “vendedores de web” que entregam a mercadoria em estações do metrô. Desde que perdeu o emprego – uma loja de suplementação alimentar que fechou as portas em março –, dedica parte do tempo no comércio de pulseiras, correntes, brincos e pingentes.
“Eu descobri (a prática) como consumidora. Comprei uma bolsa e a vendedora marcou comigo em uma estação do metrô. A logística da entrega é, para mim, a parte mais difícil do negócio”, afirma.
Por meio da assessoria de imprensa, a CCR Metrô Bahia informou que as legislações que regem o Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas proíbem o comércio informal nas estações de metrô, terminais de ônibus, trens e passarelas de acesso. E que “o regulamento visa garantir a livre circulação e bem-estar dos clientes em todas as dependências do sistema”.