"Não tenho dúvida de que a afirmação de Gerson é verdadeira, ele de fato ouviu aquilo. A dúvida é se Ramírez falou", diz presidente do Bahia | Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia
Após assistir mais de uma hora de lances do jogo entre Flamengo e Bahia no último domingo, 20, pelo Campeonato Brasileiro, o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, afirmou em entrevista estar assustado com o nível de ofensas e desrespeito mútuo que há dentro de um campo de futebol.
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O meia flamenguista, Gerson, acusa o adversário Índio Ramírez de lhe dizer "cala a boca, negro", durante a última partida em que os clubes se enfrentaram.
"Não tenho dúvida de que a afirmação de Gerson é verdadeira, ele de fato ouviu aquilo. A dúvida é se Ramírez falou. Gerson merece o respeito e toda a crença de que de fato ele ouviu, a única dúvida é se Ramírez falou, porque pode ser que ele ouviu algo que Ramírez não falou.", disse Bellintani.
O atleta do time carioca entrou na Justiça Desportiva e na criminal contra o colombiano por injúria racial. Ramírez, por sua vez, nega o ocorrido, diz que falou para os adversários "joguem sério" e que também foi chamado de "gringo de merda" pelo atacante Bruno Henrique.
O ex-técnico do Bahia, Mano Menezes, também foi flagrado pelas câmeras chamando a acusação de Gerson de "malandragem"–, assim como o árbitro da partida –que na súmula relatou a denúncia, mas não a testemunhou–, serão ouvidos no inquérito que corre na Delegacia de Crimes Raciais.
"O Bahia é precursor da luta antirracista no Brasil como clube, foi pioneiro, um dos mais destacados, se não o mais, e o destino colocou um desafio deste tamanho na nossa frente. Não queria passar por isso, está sendo o momento mais difícil da minha gestão, mas acredito que isso tomou destaque no Bahia não por acaso, mas porque estamos preparados para enfrentar", afirmou o presidente do Tricolor.
Ao ser questionado pela reportagem, se caso Ramírez seja considerado culpado, isso mancharia a história do Bahia, Bellintani enfatizou: "Mancha, sempre, se ele for culpado. Mancha o Bahia, o futebol brasileiro. Mas eu procuro olhar, apesar de ser uma situação tão grave, o copo meio cheio. Porque se a gente for analisar, não se trata de um fato, se confirmado, novo, mas um fato antigo que agora está sendo mostrado. A mancha do racismo no futebol brasileiro já existe. Se confirmado, apenas está mais aparente."
"Ele esta muito abalado, demorou para compreender a circunstância. Em todas as conversas, que juntas dão cerca de duas horas, ele afirma que não disse a expressão "cala a boca, negro". Ele é muito veemente na afirmação que não falou isso e que não é uma expressão comum dele o próprio "cala a boca". Ele não fala português, está a 40 dias no Brasil. Ele explica que o jogo estava tenso, com xingamentos e agressões de ambas as partes, diz que foi chamado de "gringo de merda", mas que não falou "cala boca, negro". É a versão dele", disse Guilherme Bellintani, sobre Ramírez.
Ramírez alega que foi chamado de "gringo de merda" pelo atacante Bruno Henrique. Segundo Bellintani, isso é um caso de Justiça, "mas com cuidado para primeiro não parecer que uma denúncia seja uma resposta à outra". "Assim como digo que é direito do Gerson levar o caso às circunstâncias que ele queira levar, é um direito dele [Ramírez] também levar esse tema às consequências, um direito pessoal e individual. Se ele decidir, o clube vai apoiar, sem deixar de puni-lo caso fique comprovado o ato racista", diz o presidente.
Ao ser indagado se o Esporte Clube Bahia planeja defender o seu atleta no Tribunal, Bellintani diz: "Primeiro, vamos concluir nosso processo interno. Temos uma acusação grave, uma voz da vítima que é muito relevante, mas longe de mim entender que a voz da vitima é a única coisa a ser analisada. Tenho que dar ao meu atleta o direito à ampla defesa e ao contraditório. Não posso fazer um tribunal de inquisição, um linchamento público. Após a consolidação desse processo, inclusive com eventuais punições e políticas implementadas a partir disso, a gente vai estabelecer o comportamento do clube nos tribunais externos. Não existe algo definido."
"As imagens que já vimos não mostram que ele falou. Nenhuma imagem é capaz de dizer o que ele falou, que horas ele falou, mas também não mostra que ele não falou. Não há imagem conclusiva nem para o falou [algo] nem para o não falou. O que temos, e que é muitíssimo relevante, é o depoimento da vítima", afirma.
"O Bahia está no caminho certo, mas um fato como este mostra que ainda é pouco", conclui Bellitani.