Ney Campello, secretário estadual da Copa
A menos de 30 dias para o início do Mundial, o secretário estadual da Copa, Ney Campello, explica os ajustes dos ponteiros na capital baiana e em outras cidades do estado para a recepção de turistas e realização de eventos, como o Forró Copa. No entanto, o secretário aponta os serviços multilíngues como o maior problema estrutural no estado. Para ele, houve falha no envolvimento da iniciativa privada e instituições de ensino em capacitação profissional. Campello comenta ainda a opção de usar o metrô em vez de construir o BRT na Paralela e explica quais serão as opções de transporte - público e privado - para os dias de jogos.
Fala-se muito do turismo internacional como legado da Copa do Mundo. O que temos hoje de concreto sobre torcedores vindos do exterior?
A expectativa para a Bahia é de 170 mil pessoas vindas de outros países. Nosso balanço é de 300 mil ingressos vendidos e calculamos que pelo menos metade deles tenha sido adquirida por estrangeiros. Temos também um público de não adquirentes de ingressos que já estão confirmados, como é o caso dos 3.500 mexicanos, 10 mil japoneses e 10 mil chilenos. Também vamos receber cerca de 3,5 mil portugueses e 10 mil alemães. Junto com os turistas nacionais, esperamos de 300 a 400 mil visitantes durante os 30 dias de Copa na Bahia.
A Match, empresa de turismo parceira da Fifa, desistiu de metade dos bloqueios em hotéis da Copa. Como a Bahia está nessa situação?
A Match, empresa parceira da Fifa, faz o bloqueio dos pacotes turísticos específicos para a Copa. Essa informação é relativa e esconde um aspecto que pode ser favorável. Com o bloqueio aconteceu o fenômeno de elevação de tarifas, porque os hotéis já se sentiam contemplados com as reservas e passaram a cobrar tarifas mais caras. A Match começou a desconfirmar pacotes que não estavam vendidos. Isso não altera o número que apresentei. A Match, naquilo que tinha controle, desistiu de pacotes, e, assim, os hotéis foram obrigados a diminuir tarifas. Agora não sairemos como um país que pratica preços exorbitantes. Acho que teremos mais procura após a baixa dos preços.
Um problema que verificamos é o serviço. Em hotéis, restaurantes e lojas faltam profissionais que falem inglês ou espanhol.
No caso dos idiomas, nós temos um problema no Brasil que não tem como ser solucionado com investimentos do Mundial. Menos de 9% da população brasileira fala mais de um idioma. É óbvio que não podíamos esperar que a Copa revertesse este quadro. Talvez sirva como alerta nacional para o problema.
Mas tivemos sete anos para nos preparar...
Eu não conto sete anos, considero quatro, porque foi em maio de 2010 que Salvador foi definida como sede. O problema da qualificação não é uma prioridade, não há um envolvimento dentro da rede de instituições qualificadoras. Quantas universidades se mobilizaram para isso? Deveriam se mobilizar, porque é uma janela importante. O número de cursos especializados em idiomas ainda é baixo, não daria conta, é preciso de um investimento maior. Vou te dizer uma coisa: investimentos existiram. Mais de 500 baianas foram capacitadas, em números nacionais quase 200 mil pessoas passaram pelos cursos do Pronatec Turismo, então houve investimento. No entanto, foram inferiores ao necessário e ainda está aquém das necessidades do turista. O estrangeiro passa pelo shopping para assistir ao jogo. Como é na loja, com o vendedor, com o segurança? Copa é tarefa de estado, não é tarefa só de governo. Era preciso que empresas privadas, há quatro anos, atentassem para essa realidade e se preparassem. Temos um gap de qualificação em idioma e vamos passar por problemas durante a Copa.
Qual será a saída?
Temos o call center da Bahiatursa, que atende em onze idiomas. A recomendação é que os turistas estrangeiros recorram a ele. Teremos o guia do espectador, em versão eletrônica para download, com informações da cidade, números importantes, destinos. Vamos distribuir a versão impressa no aeroporto.
E quanto à mobilidade? Tivemos o projeto de um BRT na Paralela e o metrô.
Na matriz de responsabilidade da Fifa, eles só falam de aeroporto, porto e a instalação de um BRT. Em nenhum momento o metrô esteve em pauta. Como temos um metrô a caminho, descartamos o BRT e optamos pelo metrô. Mas o metrô na Paralela será construído depois da Copa, o investimento é de R$ 3,7 bilhões, sendo R$ 1,4 bilhão da iniciativa privada, R$ 1,3 bilhão do governo federal e R$ 1 bilhão do governo do estado. Para a Copa teremos ônibus adaptados, vans e táxis, que poderão passar pelos dois perímetros de isolamento. Não haverá cobrança de estacionamento nos bolsões e temos linhas circulares por pontos estratégicos, como aeroporto e rodoviária. O custo é de R$ 15 por dia mais os R$ 2 do Salvador Card.

"Descartamos o BRT e optamos pelo metrô", diz Campello (Foto: Eduardo Martins | Ag. A TARDE)
E o Forró Copa?
Serão duas edições na capital, na praça da Revolução (Paripe) e outro bairro, ainda a decidir. Vamos investir R$ 30 mil em cada uma das 30 cidades contempladas e ainda buscamos patrocínio. A contrapartida da prefeitura é colocar o forró e exibir sete jogos, que são a abertura, a final, independentemente de quem jogar, e os jogos do Brasil. Nossa expectativa é de um público de um milhão de pessoas somando os dias de jogos, além do Fan Fest, que ainda está indefinido, e da Fonte Nova.