Críticos norte-americanos de tênis não se conformaram quando Guga assumiu a liderança do ranking mundial em 2000. Segundo eles, os Estados Unidos, com todo o dinheiro e estrutura destinados ao esporte da bolinha, não poderiam ser superados por um País de "apenas um jogador". Passados seis anos, estes críticos devem estar ainda mais preocupados e indignados com a situação. Pois a hegemonia norte-americana não está diminuindo somente no tênis, mas também no basquete, atletismo, boxe, vôlei...
No tênis masculino atual, apenas três norte-americanos surgem entre os 50 melhores. Andy Roddick é o 6º, James Blake, o 7º, enquanto Robby Ginepri é o 39º do mundo. Entre as mulheres, a situação é ainda pior. Somente Lindsay Davenport aparece entre as 30 primeiras colocadas, com um modesto 11º lugar. "Não acho que o tênis americano esteja em crise. Qual outro país tem dois jogadores entre os dez melhores?", despista Blake, esquecendo repentinamente do domínio imposto por Pete Sampras e André Agassi, donos de 125 títulos, 22 deles em torneios de Grand Slam.
As duas medalhas de bronze ganhas nos Mundiais de Basquete Masculino e Feminino são certamente algumas das maiores decepções da temporada para os norte-americanos, donos da cobiçada NBA, a melhor liga do mundo. No Japão, em agosto, LeBron James, Carmelo Anthony e Dwayne Wade ficaram atrás de Espanha e Grécia. Após a Federação Internacional de Basquete (Fiba) aceitar os profissionais, em 1992, os EUA venceram apenas o Mundial Masculino do Canadá, em 1994. No Mundial da Grécia, em 1998, foram bronze, e simplesmente ficaram fora do pódio, jogando em casa, em Indianápolis, em 2002. Nas duas vezes, a campeã foi a Iugoslávia. Na Olimpíada de Atenas, em 2004, os americanos amargaram a medalha de bronze.
No feminino, as americanas perderam, em São Paulo, uma hegemonia absoluta de sete títulos em 15 edições do Mundial, ao serem surpreendidas pelas russas na semifinal. Saíram com o consolo da medalha de bronze, ao baterem o Brasil. "O basquete feminino está em uma fase de transição, com quatro ou cinco países capazes de ganhar o ouro em competições importantes", disse Jan Stirling, técnica da campeã mundial Austrália (venceu a Rússia). "O impacto de ver outro time no alto do pódio é muito grande", admitiu Anne Donovan, técnica americana, sem perder a prepotência. "Queria ver a Rússia jogar duas partidas iguais aquela (referindo-se à derrota na semifinal)."
No boxe, a crise maior está na categoria dos pesos pesados, a menina dos olhos do pugilismo. Pela primeira vez em 115 anos de boxe profissional, a principal categoria não pertence aos Estados Unidos. Após a era Mike Tyson/Evander Holyfield - que insistem em permanecer na ativa em troca de alguns dólares -, o boxe norte-americano assiste ao domínio russo. Nomes como Wladimir Klitschko, Sergei Liankhovic, Oleg Maskaev e Nicolai Valuev são pronunciados facilmente nos ringues de Nova York e Las Vegas. "Estamos à procura constante de um novo campeão", afirmou o empresário Don King.
No atletismo, abalado por escândalos de doping, os norte-americanos viram Justin Gatlin perder o recorde mundial dos 100 metros para o jamaicano Asafa Powell. Gatlin está suspenso por resultado positivo em exame antidoping para testosterona e os EUA tiveram de engolir o escândalo do Laboratório Balco, que fornecia substâncias proibidas para atletas.
Os EUA, que sempre dominaram provas de velocidade, agora compartilham pódios com o chinês Xiang Liu, que faz sombra a Allen Johnson e Terrence Tramell, nos 110 metros com barreiras.
O vôlei teve força nos anos 80, com o time masculino de Doug Beal, campeão olímpico em Los Angeles (1984) e Seul (1988). Mas não apresentou outro grupo como o de Karch Kiraly, que também conquistou o Mundial de Paris (1986).
Em Pequim, em dois anos, se os resultados do esporte americano continuarem a cair, os chineses vão comemorar a realização da maior Olimpíada de todos os tempos e o início de nova era no esporte mundial.