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Começa a ganhar corpo uma quebra-de-braço entre o poder público e setores da sociedade civil sobre o futuro do estádio da Fonte Nova e a construção de novos equipamentos esportivos em Salvador. Medidas que visam de preparar a capital baiana para sediar partidas da Copa do Mundo de 2014.
O primeiro imbróglio envolve a decisão do Governo do Estado de pôr abaixo a estrutura do Octávio Mangabeira e instalar no local um estádio nos moldes exigidos pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). Já se posicionaram contra a demolição da Fonte Nova, entidades como o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), seccional Bahia, além de professores da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que se manifestaram num abaixo-assinado.
O Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) engrossou o coro para questionar a falta de interesse público dos projetos de construção de uma nova praça esportiva em Salvador. O documento elaborado pela elaborado pela Faculdade de Arquitetura da UFBA endossa a tese.
Interesses
No início do mês, governador Jaques Wagner se posicionou a favor da construção de uma arena multiuso, com espaço para um hotel, centro de convenções e empreendimentos comerciais. O chefe de gabinete do governador, Fernando Schmidt, admite que já existem quatro ou cinco propostas que foram apresentadas a representantes do Governo do Estado.
O estádio será feito dentro das normas exigidas pela Fifa, o que deve impossibilitar a prática de outros esportes. A entidade máxima do futebol recomenda arenas com arquibancadas que distem no máximo seis metros do campo de jogo, sem espaço para uma pista de atletismo, por exemplo.
O vice-presidente do Sinaenco na Bahia, Carl Von Hauenschild, critica esta proposta, alegando que ela atende tão somente aos interesses da iniciativa privada: “O governo tem demonstrado interesse nas chamadas arenas multiusos, que colocam a rentabilidade à frente do desenvolvimento do esporte”.
Hauenschild considera “um crime” destruir a Fonte Nova para dar lugar a uma arena com empreendimentos comerciais. “É um patrimônio de 100 milhões de reais que será reduzido a pó. Tudo isso para sediar alguns jogos na Copa e depois servir somente ao futebol, mais especificamente, a um clube”, diz.
Cálculos feitos pelo urbanista apontam para um custo de pelo menos 20 milhões no processo de demolição do estádio, que incluiria a necessidade de seis a sete mil viagens de caçambas carregadas de escombros.
Vila Olímpica
Inaugurado em 1951, o complexo esportivo da Fonte Nova foi concebido para atender à demanda de uma cidade de 500 mil habitantes, então população de Salvador. Hoje, com quase três milhões de moradores, a cidade é carente de equipamentos esportivos e espaços para formação de atletas.
As praças esportivas existentes estão limitadas aos circuitos amador e universitário. O Ginásio Antônio Balbino, o Balbininho, não atende aos requisitos mínimos para sediar um campeonato de nível nacional. Na mesma situação está a piscina da Fonte Nova, única no padrão olímpico do estado, e o próprio estádio Octávio Mangabeira, que não recebe um jogo da seleção brasileira de futebol desde 1999.
O urbanista Carl Von Hauenschild acha que a Copa do Mundo pode ser uma oportunidade de impulsionar o desenvolvimento do esporte no Estado. Ele propõe a criação de novas praças esportivas e a recuperação da Vila Olímpica da Fonte Nova como forma de investimento na formação de novos atletas.
O governo já discute alternativas de novas praças esportivas em Salvador. A principal delas, e que já está em curso, é a construção de um centro na área do Estádio Metropolitano de Pituaçu com ginásio e piscinas. “Os nossos técnicos e os órgãos ambientais estão fazendo uma análise prévia do local para verificar a viabilidade. Já temos um anteprojeto”, garante o secretário Nilton Vasconcelos (Trabalho e Esporte).