Com no mínimo 30 anos de praia e a prancha sendo uma extensão do pé, os mais experientes surfistas do Estado decidem, nesta sexta-feira, 26, e domingo, 28, o título do Circuito Baiano Master. A quarta e última etapa vai apontar, neste final de semana, a partir das 9 horas, os campeões estaduais em três categorias.
“Vamos ter 32 atletas na master, 32 na gran/master e dez na veteran/master”, listou Carlos Abdala, presidente da Federação Baiana de Surfe (FBS). O primeiro grupo reúne surfistas acima de 35 anos, o segundo acima de 41 e o último de 47 anos em diante.
Na competição de masters, a federação ampliou, de 15 para 20 minutos, o tempo das baterias, prevendo o desgaste físico mais rápido da maioria dos competidores.
“Sinto-me um garoto de 20 anos. Eu treino, faço musculação, pedalo e surfo sempre que estou na barraca”, dispensou a ajuda o líder da categoria gran/master, Aloísio O veterano surfista, de 43 anos.
Ele reconhece, no entanto que, se as condições do mar não forem boas, terá alguma dificuldade com o próprio peso. São 80 kg distribuídos em 1,88 m de altura.
Sua preocupação é válida diante da atual pontuação (3.710 pontos) e a do vice-líder Fábio Rezende, que tem 3.312.
A categoria tem pelo menos quatro candidatos a erguer o troféu de campeão. O terceiro colocado, por exemplo, Renilson Domenech, tem 2.624 pontos, e pode chegar lá, uma vez que a pontuação da última etapa será dobrada, assim como ocorreu na terceira.
No páreo – Há chance até para o quarto colocado Paulo Falcon, com 2.331 pontos, terminar em primeiro lugar, caso nenhum dos três que estão à sua frente consiga pontuar na final.
Disputa igualmente sem favoritos será travada na master, onde os quatro primeiros estão com pontuações próximas. O líder Júnior Sampaio marcou, até agora, 3.312 pontos, contra 3.176 de Esdras Santos, 3.159 de Takito Agachi, e 2.959 de Fábio Rezende, atual campeão master e gran/master.
Para variar, equilíbrio também na veteran/master, onde qualquer um dos quatro primeiros só precisa vencer para ser campeão. O líder Elivaldo Silva tem 3.430 pontos, seguido por Renilson Domenech, 3.358; Marcos Moraes, 3.187, e por André Lima, com 3.185.
A competição amadora reúne profissionais de várias áreas fazendo hora-extra em cima da prancha. É o caso do motorista de táxi Elinaldo Silva, líder da veteran, que aproveita o fato de trabalhar por conta própria para dar umas escapulidas para treinar.
“Hoje mesmo eu fui treinar às 5h30 e, às vezes, eu paro no meio da tarde para cair na água”, conta. O empresário Aloísio Lôro, líder da gran-master e dono de uma barraca, na Praia de Aleluia, também diz parar para o treino. “Eu também moro perto da praia e treino sempre”, revelou.
O empresário da área de segurança Auro Pisani, 48 anos de idade e 32 anos de surfe, é outro que sempre procura uma folga para pegar uma onda. Quinto colocado na gran-master, ele também diz não resistir às ondas quando o mar está bom para surfar.
Estratégia – “Está no sangue. É paixão pelo surfe. Eu só vou parar quando as pernas não agüentarem mais”, confessou Pisani. Com tantos anos de praia, ele criou a própria estratégia para quando a vontade de cair na água se tornar imperativa: “Se eu tiver uma reunião 10 horas e o mar estiver bom, quando eu sair da reunião deixo de almoçar pra surfar”, revelou.
No mesmo caminho segue o filho, Ricardo Pisani, de 15 anos. Quando tinha 13 anos, o pai lembra que deixava o bairro da Graça, onde morava, para surfar em Stella Maris. “Só tinha asfalto até onde hoje é o camping de Itapuã. Stella Maris era um sítio e, para entrar, era preciso pedir permissão a uma pessoa que ficava segurando uma corrente”, resgatou.
As distâncias percorridas para surfar, quando era adolescente, agora são além-mar, na fase de veterano. Em setembro, por exemplo, Auro passou 17 dias no Peru, países da América Central, Ilhas Maldivas, Samoa, no Pacífico Sul, Ilhas Fiji e Nova Zelândia.
“Fomos eu e Ivan Lopes. Saímos de Salvador num dia de sexta-feira, às 9 horas e chegamos nas Ilhas Fiji no sábado, 18 horas”, contou ele.
Pelos 17 dias de viagem, eles gastaram, cada um, cerca de US$ 3.500, o equivalente a R$ 6.265. Para chegar ao destino, fizeram escalas em São Paulo, Santiago, no Chile; Auckland, na Nova Zelândia, e Nadji, nas Ilhas Fiji.
Claro que o ‘sacrifício’ valeu a pena. Afinal, quem é que não gosta de ser um cidadão do mundo?