“Pai, lutei, mas não deu!” No telefonema-relâmpago de Silas Cerqueira ao pai, Edelmar, o tenista de 12 anos lançou um grito surdo de lamento controlado pela determinação de quem quer se transformar em profissional e tem que agüentar pressão.
Nesta terça-feira, 23, Silas ligou para Feira de Santana minutos depois de perder a final do Orange Bowl para o sul-coreano Hyeon Chung, por 6/3 e 6/4. “Ele parecia triste, mas estou alegre. Uma campanha desta só acontece uma vez na vida”, disse Edelmar.
Antes do jogo, Silas fizera contato com a família. “Ele demonstrava muita tranqüilidade. É um menino maduro. Mas quem sabe por dentro não havia inquietação? Ele sabia que jogava por ele e por outras pessoas”, interpretou Edelmar.
Na incerteza se o filho sentiu ou não o peso da decisão, Edelmar prefere recorrer ao Supremo. “Se Deus quis assim, está tudo bem. Ele é ainda uma criança e tem muito chão a percorrer”.
Silas esteve no exterior acompanhado de seu treinador mineiro, Mário Mendonça. Na Bahia seu técnico é Evaldinho Silva. Em janeiro, ele disputa as etapas de Salvador e Aracaju do Rota do Sol, circuito infanto-juvenil da Confederação Brasileira.
Em seguida, Silas vai encontrar tempo para continuar os estudos no Colégio Hélios e disputar etapas na Colômbia, Peru e Equador válidas pelo Circuito Sul-Americano (Cosat).
Edelmar espera que o sucesso de Silas no Orange Bowl favoreça o surgimento de um patrocinador. As viagens do tenistas são bancadas exclusivamente pelo orçamento famililar.
Atualmente, Silas tem apoio de duas empresas de material esportivo (Head e Adidas), fornecedoras de roupas e material de jogo e treino que executa na Academia Smach.
Se um garoto de 12 anos pode ser maduro ou não é discutível, Mas é certo que Silas estava blindado por 17 finais exitosas no Brasil, informa Edelmar. “Essa agora foi sua primeira saída internacional. Ele também foi finalista no Canadá, mas jogou com problemas. Não se adaptou bem à comida e adoeceu. Mas está bom demais”.
Edelmar lembra que grandes tenistas também não venceram o Orange Bowl. Um deles foi uma estrela de quinta grandeza, Andre Agassi. Outro foi Guga, tricampeão de Roland Garros. “Se a história se repetir, Ave Maria. O futuro é que vai dizer. Só sei que faremos uma festa bonita para recebê-lo às 7 da manhã de amanhã (quarta-feira), no aeroporto”.
Edelmar diz que Silas não sofre pressão por conta do esporte e que, apesar do talento precoce, a família impõe o estudo em primeiro lugar. “Mas ele tira de letra. Tanto que já estava aprovado no fial da terceira nota”.