Goleada da Alemanha na Copa do Mundo ainda é lembrada
Nos últimos 365 dias, qualquer conversa sobre a Seleção Brasileira teve invariavelmente alguma menção à maior derrota da sua centenária história, que completa seu primeiro aniversário nesta quarta, 8. Está sempre presente a mancha gigantesca como símbolo de uma tragédia que até amenizou a perda do título de 1950 no Maracanã lotado.
Ainda rende piadas mundo afora e, pelo visto, será assim eternamente. Na Copa América encerrada sábado passado, no Chile, houve provocações e até comentários de técnicos e jogadores sobre a surra de 7 a 1 em partidas que não envolviam o Brasil.
Afinal, a mais vitoriosa seleção foi arrasada em casa, em semifinal de Copa do Mundo, sob olhares do planeta inteiro, ao vivo. O maior vexame do futebol em todos os tempos.
A goleada imediatamente tornou-se argumento usual para reclamações contra mazelas do esporte brasileiro e para medir o suposto abismo entre os dois países. "Gol da Alemanha" virou clichê para apontar defeitos. Assim como ocorrências positivas são saudadas com a expressão "7 a 2", automaticamente entendida como um sinal de evolução.
Aspectos como escassez de talento, corrupção endêmica, conceitos táticos, problemas de infraestrutura e campeonatos deficitários foram incluídos em análises sobre o massacre no Mineirão. Os cartolas acabaram responsabilizados.
Nesta segunda, 6, com cinco horas de duração, aconteceu a primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Estratégico do Futebol Brasileiro, anunciado pela CBF logo após a eliminação nas quartas de final da Copa América. O objetivo admitido é buscar melhorias ao debater, receber sugestões e críticas, trocar experiências e conhecimentos entre a entidade, a comissão de Dunga, ex-treinadores da Seleção, atletas, técnicos de clubes, estrangeiros, jornalistas e estudiosos de ciência do esporte.
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Mas o que parecia demonstração de humildade começou com declarações ufanistas e de exaltação do país e de velhas glórias. Para piorar, os dirigentes, que já não tinham credibilidade, enfrentam desconfiança total por causa de escândalo internacional de corrupção. Ex-presidente da CBF, José Maria Marin está preso na Suíça. Seu antecessor Ricardo Teixeira e o atual Marco Polo del Nero são investigados.
No encontro, Carlos Alberto Parreira usou como exemplo justamente o trabalho a longo prazo do futebol alemão - antes do Mundial, dissera que a CBF era "o Brasil que deu certo". Outro ex-técnico da Seleção, Falcão, concordou com ele que se precisa começar pelo fortalecimento dos clubes.
"Tem que reformular o futebol brasileiro, dar condições aos treinadores, trabalhar a categoria de base de verdade, ensinar o jogador a bater na bola, cabecear, passar. A gente vê muitos erros em jogadores profissionais hoje por falta de preparação lá atrás pela pressa de vender. Vejo isso na Seleção", disparou no SporTV o comentarista Casagrande, atacante na Copa de 1986.
Mais fatores
A incontestável superioridade alemã beneficiou-se também do despreparo emocional da Seleção e da ausência do suspenso capitão Thiago Silva e do lesionado astro Neymar.
Em campo, a desorganização se evidenciou. Ao jornal francês 'L'Équipe', o atacante Klose destacou a premeditada pressão na saída de bola. "Normalmente, há um defensor que chega para tomar a bola. Mas ninguém vinha. Avançávamos facilmente", lembrou o zagueiro Mertesacker.