Charles Chibana, judoca medalhista de ouro no Pan
Aos 25 anos, o paulista Charles Chibana conquistou a medalha de ouro no primeiro Pan-Americano de sua carreira e espera arrancar um pódio no Mundial - ele chegou perto em 2013, quando ficou em quinto, e foi eliminado na semifinal em 2014 - e carimbar seu passaporte para a Rio-2016. Nascido em uma família envolvida com as artes marciais, Chibana começou no judô aos cinco anos por influência do avô, e ainda hoje é avaliado pelo pai, professor da modalidade.
Mal voltou de Toronto, você já está se preparando para o Mundial do Cazaquistão, no dia 12. Você, pelo menos, teve tempo de saborear sua medalha de ouro do Pan?
Ah, com certeza. Fiquei feliz com a medalha. Foi meu primeiro grande evento, por assim dizer. Eu curti bastante com a família, mas agora voltei ao Brasil e à realidade de treinos e estou me preparando para o Mundial, que não vai ser um torneio fácil. Tenho que ficar preparado para chegar bem.
Sua família foi te assistir, certo? Como foi tê-los na torcida ao conquistar o ouro?
Foi meu primeiro Pan, fiquei bem contente e ansioso em poder participar. Foi um evento que eu nunca tinha participado, são vários atletas e vários esportes, então foi bem bacana. E ganhar esse ouro foi motivador e muito gostoso. Ainda mais que minha família pôde ir, foi bem emocionante. Meu pai, minha mãe, minha avó e minha tia estavam lá, eles ficaram muito contentes. Foi bem legal.
E suas expectativas para as próximas competições?
A gente viaja agora na quarta-feira para o Cazaquistão, para o Mundial. Na verdade, a gente primeiro faz uma parada na França, para o período de aclimatação, e de lá a gente vai para o torneio no Cazaquistão.
Você chegou a conhecer o Centro Pan-Americano de Judô, em Lauro de Freitas?
Já fui, sim. Fiz uma preparação para o Pan lá em Lauro de Freitas. A estrutura é bem bacana, completa, gostei muito do lugar. Tem bastante espaço, eu pude aproveitar muito.
E o que você projeta para a Olimpíada no ano que vem?
Eu prefiro pensar que o crescimento do atleta tem que ser de degrau em degrau. Não é porque eu tô bem agora que eu vou estar bem sempre e que sou o favorito nas competições, ou que sou favorito para a Olimpíada. A gente tem que trabalhar todo dia e espero conseguir carimbar minha vaga para os Jogos Olímpicos. Tem agora o campeonato mundial, é uma janela, e tenho que ir bem para conseguir me preparar para a Olimpíada. E espero que em abril meu nome esteja entre os relacionados.
O que falta para você se sentir mais seguro com seu desempenho?
Ganhar uma medalha no Mundial (risos)! Aí, sim! É um campeonato que, teoricamente, é até mais forte do que a Olimpíada. Isso porque os países podem mandar até dois judocas por categoria, e não um, como na Olimpíada. Aí o torneio fica mais difícil, mais disputado. Numa chave, pode ter mais de 30 pessoas. Se eu for bem no campeonato mundial, ainda mais se subir no pódio, aí eu dou um passo grande para chegar bem na Olimpíada.
Sua família vem das artes marciais. Isso contribuiu para sua formação como atleta?
Na verdade, meu pai é professor de judô ainda. Eu fui educado assim. Meus amigos tinham bola para jogar e a gente brincava no tatame. A gente tinha tatame em casa e, por isso, eu treinava muito lá. Hoje não moro mais com minha família, me mudei para o Brooklyn (Nova York, EUA) porque fica mais perto do treinamento. Eu antes passava muito tempo no trânsito. Chegava a uma hora, uma hora e meia, e ficava muito cansado. Mas no fim de semana estou sempre lá. Todos fizeram judô, ou fazem ainda. Nessa semana agora meus priminhos foram competir. Aí, como eu já tinha treinado e estava de bobeira eu fui lá assistir. Eles ficaram bem felizes. Valorizo muito a disciplina. Meu avô me colocou no judô justamente por causa da disciplina e da filosofia de vida, e é uma coisa que eu acho muito importante, e muito legal.
Você é um dos vários atletas militares da delegação brasileira. Existe algo específico na preparação de vocês?
Na verdade, a preparação é a mesma, a gente fez um curso de três semanas, e todo ano a gente faz reciclagem pelo programa de alto rendimento do exército. Muita coisa que eu não sabia eu aprendi no exército, é um curso muito legal. O judô tem muito da hierarquia, e o exército tem também. Isso foi uma coisa que eu tiro o chapéu.
Teve toda aquela polêmica na mídia brasileira sobre vocês, militares, prestarem continência no pódio ao som do hino nacional, já que isso poderia ser considerado um ato político por alguns. De que forma vocês enxergam isso?
É porque muitas pessoas não sabem que somos militares. E quando a gente faz esse curso a gente aprende tudo sobre o que é ser um militar, ninguém obriga a gente a prestar continência. A gente aprende que, quando a bandeira é hasteada, se presta continência. É um sinal de respeito e é bem bacana. Foi uma das coisas que eu mais curti nesse curso, a gente aprende muita coisa sobre a pátria. Mas muitas pessoas levaram por outro lado. É uma coisa que a gente aprende. Na verdade, eu acho que em Londres um chinês prestou continência e não teve problema nenhum. Se for alguma coisa política acho que realmente não pode, mas sendo essa coisa nossa de respeito não tem problema nenhum. É de cada um.
Você tem alguma estratégia para esse Mundial?
Eu procuro não competir muito porque eu fico muito visado. Esse eu ano eu preferi participar de duas competições, e por isso caí bastante no ranking. Eu optei por me resguardar e ficar treinando aqui mesmo, ainda mais em ano pré-olímpico. Em 2013 foi minha estreia no mundial, ninguém me conhecia e acabei surpreendendo todo mundo, porque fiquei em 5º. Em 2014 eu cheguei como cabeça nº 1 do ranking e fui muito visado (nessa edição ele perdeu para o bicampeão mundial Rishod Sobirov, do Uzbequistão, na semifinal). Esse ano eu quero medalha.
Na sua opinião, o judô brasileiro vive seu melhor momento?
Sim, e não é de agora. Tudo isso é fruto que a gente tá colhendo do nosso trabalho. E isso vem desde o Aurélio (Miguel, medalhista de ouro na Olimpíada de Seul-88 e bronze em Atlanta-96), desses grandes atletas, e a gente está podendo colher agora. Eles escreveram o nome na história e a gente está tentando manter a tradição.
É um desafio manter esse padrão de qualidade?
É difícil, mas também é um estímulo a mais. A gente conhece essas pessoas e sabe que eles são que nem a gente. Que eles caminharam, treinaram e acreditaram. E assim a gente consegue almejar o que eles conquistaram.
Algo mudou na sua vida depois que você começou a conquistar campeonatos? Tem muita gente falando com você nas redes sociais?
Ah, isso sim. Tem muita gente comentando na minha página do Facebook, curtindo as fotos, dando parabéns... Pessoas que nunca vi na minha vida, mas que me acompanham e torcem bastante por mim o tempo todo. É muito prazeroso.