Thomaz Bellucci, tenista número 1 do Brasil
Segunda-feira, 31, começa o tão aguardado Aberto dos EUA, que vai até 13 de setembro. O quarto e último Grand Slam da temporada 2015 pode reservar a um tenista brasileiro em especial boas surpresas. Thomaz Bellucci chega com moral ao torneio. Há pouco menos de uma semana, o paulista de 27 anos regressou ao Top 30 do ranking da ATP - fato que não ocorria desde junho de 2011, quando chegou a ficar em 28º - e se garantiu como cabeça de chave do torneio. Vivendo sua melhor fase na carreira, como o mesmo faz questão de afirmar, Bellucci fala sobre o bom momento em entrevista exclusiva. No bate-papo, comenta sobre o festejado retorno ao Top 30, o 'frio na barriga' por disputar os Jogos Olímpicos do Rio-2016 e a eterna pressão que sofre dos brasileiros que o têm como um possível substituto do ídolo Gustavo Kuerten, o Guga.
Sua campanha no Masters 1.000 de Cincinnati (EUA), no início do mês, lhe rendeu o retorno ao Top 30 da ATP após quatro anos. Qual foi a sensação que teve ao receber esta excelente notícia?
A certeza de que estamos no caminho certo. Depois de um primeiro semestre não tão bom quanto esperávamos, os resultados começaram a aparecer no segundo semestre. Trabalhamos muito para isso, tenho uma equipe competente que compartilha comigo o mesmo objetivo. Chegamos ao Top 30, mas não estamos satisfeitos.
Com a vaga no Top 30, você se garantiu como um dos cabeças de chave para o Aberto dos Estados Unidos. O que espera desse torneio?
Era um dos nossos objetivos. Ir bem nesses torneios que antecedem o US Open para garantir uma vaga entre os cabeças de chave (o que não ocorria desde o Aberto da Austrália em 2013). Para mim é ótimo, pois não enfrentarei os jogadores mais bem ranqueados logo no início do torneio. Mas isso também não deixa o caminho fácil. Nos Grand Slam estão todos os melhores do mundo, por isso vou focar em um jogo de cada vez e tentar chegar o mais longe possível. (O sorteio do US Open foi realizado após a entrevista. Bellucci fará sua estreia amanhã, diante do britânico James Ward, atual 134º colocado pelo circuito. Eles nunca se enfrentaram).
A quem ou a quê você atribui essa sua franca ascensão neste momento de sua carreira?
A um conjunto de coisas. Apesar de entrar sozinho em quadra, tenho um suporte e tanto fora dela, que me ajuda a correr atrás dos resultados. Vai desde o meu técnico João Zwetsch e o Erick Gomes, que me treina quando estou em São Paulo, o meu preparador físico, o André Cunha, e o Dr. Gustavo Magliocca, até os meus patrocinadores - Correios/CBT, Embratel, Adidas e Wilson - que me dão toda a retaguarda. Existe também o fato de eu ter 27 anos e estar mais experiente e maduro. Isso conta bastante no circuito. Antigamente, os tenistas despontavam mais jovens. Hoje em dia, existem muitos jogadores acima dos 30 anos ganhando torneios. Eu entendo melhor meu corpo, consigo ler melhor o jogo dentro de quadra, sei o que fazer para ganhar jogos quando não estou jogando tão bem. Esse maturidade só se adquire com anos de circuito.
Assim como no futebol, o tênis é um esporte que exige bastante do corpo. Em junho, por exemplo, uma lesão nas costas lhe prejudicou diante de Rafael Nadal na estreia em Wimbledon. Como evitar ao máximo as lesões?
Todo trabalho é pensado e executado para prevenir as possíveis lesões. É um trabalho que vai desde a alimentação e complexos vitamínicos até a preparação física. Tudo conta para manter um corpo saudável.
Seu desempenho poderia ser ainda melhor se não sofresse tanto com as lesões?
Não acho que eu tenha muitas lesões. Eu tive uma lesão grave no abdômen em 2013, que me tirou por meses do circuito, mas depois disso foram alguns probleminhas normais de qualquer atleta. O atleta de alto nível precisa saber conviver com lesões e dor, e isso eu acredito que esteja fazendo bem, depois de tantos anos na estrada.
Especialistas comentam que, além das lesões, você sofre com um fator chave: as trocas constantes de técnico. Isto, de fato, tem lhe prejudicado ?
Acredito que poderia me prejudicar se estendesse a relação técnico/jogador mais à frente quando ela já não estivesse mais funcionando. Já virou jargão, mas a relação técnico/jogador é como casamento. Passamos a maior parte do tempo juntos, viajando, longe das nossas famílias. Isso gera um desgaste natural que, quando começa a refletir na quadra, passa a ser hora de terminar. Estou sempre buscando o meu melhor e para isso a parceria tem que estar 100% funcionando (Bellucci trocou de técnico seis vezes de 2007 a 2014).
Curiosamente, em janeiro deste ano, você convidou João Zwetsch (capitão da equipe brasileira na Copa Davis) para ser seu técnico. Ele aceitou e, desde então, a parceria só acumula bons resultados. Qual é a receita?
Eu e o João nos damos muito bem. Ele me conhece bem e sabe como tirar o melhor de mim. E eu confio nele, além de ter uma convivência bastante saudável.
Em sua biografia, o tenista Rafael Nadal (8º) diz que esquece o ponto anterior assim que acaba para evitar que qualquer erro o abale. Em algumas partidas 'ganhas', você acabou vacilando e perdendo. O fator psicológico é algo que lhe prejudica?
O mais importante no tênis é manter a consistência mental durante todo jogo e para alguns jogadores isso é mais fácil. Eu acredito que venho melhorando bastante na parte psicológica, mantendo-me mais estável e focado. Nesse período eu que eu tive bons resultados, consegui reverter várias situações adversas que antigamente não conseguia.
Você tem quatro títulos na ATP, já foi número 21 no ranking, terminou quatro temporadas seguidas entre os 40 do mundo... Apesar de tudo isso, sofre com um problema que acontece muito no Brasil: a pressão por ser o melhor em um esporte após a passagem de um ídolo, no caso Gustavo Kuerten, o Guga. Como você lida com essa pressão?
Não, não tem pressão quanto a isso. As pessoas já sabem discernir a minha trajetória com a do Guga. O Guga é um ídolo mundial, escreveu uma história extraordinária no tênis. Eu trabalho para dar o meu melhor e os resultados são a consequência. Eu me sinto orgulhoso por fazer parte da história do tênis brasileiro e por ter uma carreira de sucesso. As comparações são naturais e vão sempre existir. Mas o Guga é o Guga e o Bellucci é o Bellucci.
Agora, vamos falar de Jogos Olímpicos do Rio-2016. Falta menos de um ano. O coração já bate acelerado?
E como bate (risos)! Vou disputar minha terceira Olimpíada, mas acho que serei um dos privilegiados de poder jogar uma competição tão especial como essa, em casa. Quero aproveitar ao máximo essa oportunidade. Sabemos que a chave do tênis em Olimpíadas se compara a um Grand Slam. Estarão todos os melhores no Rio e eu vou tentar beliscar uma medalha. Já pensou (risos)?
O fato de jogar com o apoio da torcida, tem seu lado positivo e negativo - por conta da pressão de ter que ganhar...
É sempre muito bom jogar em casa, com apoio da família, dos amigos e do público que acompanha tênis, ainda mais representando o Brasil. Aqui acho que vamos jogar com o coração! Na hora, só vão ter vibrações positivas. Tenho certeza.
Na sua opinião, quais os tenistas que vão dar trabalho no Rio 2016?
Todos (risos)! Os melhores estarão aqui: Novak Djokovic (1º), Roger Federer (2º), Andy Murray (3º), Rafael Nadal (8º) & Cia.
Durante dez anos (2001-2011), a Bahia sediou o Brasil Open de Tênis. Qual foi o seu momento mais marcante em Sauípe?
Era um torneio especial, tinha uma atmosfera diferente. Sempre gostei muito de jogar em Sauípe. Com certeza o mais marcante foi na edição de 2009, quando por pouco não conquistei meu primeiro título na ATP. Cheguei na final, mas não consegui segurar o (espanhol) Tommy Robredo na época.