Adriana Araújo, de 38 anos, é medalhista de bronze em Londres-2012 | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
No dia 4 de outubro, precisamente um mês antes de completar 39 anos, a boxeadora baiana Adriana Araújo lutará pelo cinturão mundial inédito da categoria superleve. O sonhado título, válido pelo Conselho Mundial de Boxe será disputado em Londres, na Inglaterra. Sua adversária será a britânica Chantelle Cameron.
Ambas estão invictas na carreira profissional, mas a inglesa soma 12 vitórias em 12 lutas, seis a mais que Adriana, apesar de Cameron ter completado 29 anos em maio e ser praticamente dez anos mais jovem que a brasileira. Também com maior envergadura, a inglesa gosta de se proteger dos golpes atrás de seus 1,72 m de altura. De guarda fechada, ela desfere jabs certeiros nas baixinhas que se aventuram a atacá-la, parte da estratégia para acumular sete nocautes nas 12 vitórias. Já a brasileira compensa os 1,66 m de altura soltando a mão pesada para cima das oponentes.
Enquanto Adriana é medalhista de bronze em Londres-2012, Cameron não passou das eliminatórias para a Rio-2016. A chateação por parte da lutadora inglesa foi tamanha por ter perdido a chance de disputar a Olimpíada que ela chegou a cogitar abandonar o boxe. Ou mesmo migrar para o MMA. Acalmada pela sua comissão técnica, respirou fundo, foi derrubando as adversárias e, agora com o cinturão vago, tem a chance de ser campeã mundial. A pretensão é a mesma de Adriana Araújo, que relatou estar há muito esperando por essa chance e que, por nada, vai deixar escapar.
“Cameron faz parte da equipe olímpica da Inglaterra. É uma atleta técnica, trabalha aquele boxe técnico, auxiliado por seu braço longo”, analisou a baiana, acrescentando não ter parado de treinar e cuidar da parte física durante a pandemia. Além de ter estudado também o estilo de luta da inglesa. “Agora não é mais boxe olímpico, é profissional, dez rounds, contundência e resistência”, cravou Adriana.
Com viagem à Inglaterra marcada para o dia 26 deste mês, a brasileira tem boas recordações da capital inglesa, justamente pela medalha inédita garantida por ela no boxe nacional feminino. Mais uma vez terá a companhia do técnico Luiz Dórea, parceiro de 20 anos, chamado há cerca de dez dias para o lugar do atual treinador, Robenilson de Jesus.
“Infelizmente, Robenilson não poderá viajar comigo porque vai fazer uma cirurgia, e eu chamei Dórea. Mudei de técnico, mas não saí da Champion brigada com Dórea, que sempre foi um pai pra mim. Os dois treinadores são importantes na minha carreira e vivenciaram as dificuldades de ser atleta”, explicou.
Mudança de rumo
Uma conquista de título mundial poderia abrir portas na carreira profissional de Adriana, que desistiu de se candidatar a vereadora em Salvador. Segundo a expectativa dela, deverá atrair contratos, compensação financeira e acerto de patrocinadores, transformando para melhor a atual situação em que ela vive. Nos primeiros meses da pandemia, por exemplo, Adriana treinou isoladamente no galpão de um amigo. Ultimamente, o apoio de seus amigos tem sido a saída para viver do esporte, após encerrar as atividades como motorista de aplicativo.
Esse tipo de apoio permitiu a ela blindar-se fisicamente para não perder qualidade muscular e técnica, já prejudicada por ter ficado em casa, parada, no primeiro mês da pandemia. “Os amigos que me ajudaram. Eu e Robenilson levamos para o galpão apenas o essencial para treinamento e mantive 80% de condicionamento. Em abril e maio voltei a treinar normalmente e agora estou 100%”, afirmou a pugilista.
Para alegria de Adriana, a luta que estava programada inicialmente para o dia 27 deste mês acabou adiada. Isso deu mais tempo de preparação depois de ter sido comunicada pelo manager Sergio Batarelli, no dia 3 de setembro, sobre o título vago e posterior disputa em outubro. CEO do Boxing For You, organização pela qual Adriana luta profissionalmente, Batarelli confirmou ter assinado contrato, recebido passagens e feito a pré-pesagem.
A luta terá como palco a mansão do empresário Eddie Hearn, sede de vários eventos já realizados e com protocolo rígido de segurança contra a Covid-19.