Tati recebe sua primeira chance na equipe olímpica já aos 28 anos | Foto: Amonio Silva | CBBoxe
Lutadora de boxe há quase dez anos, a baiana Tatiana Chagas é a mais nova atleta soteropolitana a integrar a seleção brasileira da modalidade. Recém-convocada para compor a equipe olímpica como a segunda representante da categoria até 57 kg, a atleta de 28 anos viajou na última quinta para São Paulo, onde vai treinar em busca de firmar-se no grupo titular da seleção do país.
Tati deverá se sentir em casa, pois, com a chegada dela, agora serão dez baianos entre os 25 lutadores da equipe de boxe olímpica. Sua convocação obedece ao critério objetivo de bons resultados no Campeonato Brasileiro. “Faz uns três anos que estou lutando por essa oportunidade. Venho me dedicando bastante todo esse tempo e tendo boas lutas com as melhores do Brasil. Também fui convocada por estar entre as melhores do ranking na categoria 57 kg”, relatou ela.
Tati, como é conhecida, é a segunda colocada do ranking brasileiro, estando atrás apenas da paulista Clélia Costa, titular da categoria 57 kg. Seu histórico nos ringues do país fala por ela mesma: “Já fui campeã brasileira. Na Bahia, já fui pentacampeã”.
A categoria de Tati é a mais disputada na equipe feminina, por terem sido chamadas três atletas. Além dela e da titular Clélia, a paulista Juciele é outra concorrente. Em Salvador, ela treina no time da Academia Champion, que tem um histórico de revelações de talentos na modalidade. Os principais nomes são Popó e o campeão olímpico Robson Conceição. Técnico de Tati, o ex-boxeador Marco Antônio aposta alto na atleta. “Pode esperar dela muita garra e determinação”, garantiu ele, que espera ver a pugilista em Tóquio: “Ela tem chances reais de defender o Brasil nos Jogos Olímpicos, pois vem lutando com as melhores do Brasil”.
Contra o sobrepeso
Tatiana começou sua trajetória no boxe em 2011, na intenção de baixar os 83 kg de peso, distribuídos em 1,58 m de estatura. “Eu era bem gordinha e por causa disso tinha a minha autoestima muito baixa. Havia acabado de concluir os estudos e não sabia o que faria da minha vida. Certo dia fui comprar pão e pelo meio do caminho encontrei uma academia que dava aula de boxe”, contou.
Na academia, situada no bairro do Uruguai, ela desembolsava R$ 15 mensais para ajudar na compra de materiais. Com o tempo e o excelente desempenho, as aulas passaram a ser gratuitas. O exemplo da também baiana Adriana Araújo ajudou no interesse de Tati pelo boxe.
No mesmo dia em que descobriu a academia, Tati se deparou com uma reportagem sobre a medalhista olímpica em Sydney-2012. “A entrevista saiu um ano antes da Olimpíada. Foi através dela que conheci a modalidade e a ter interesse em treinar”, reconheceu Tati, que, apesar de atualmente pertencer à mesma academia de Adriana, nunca revelou essa história à colega.
“É muito bom servir de motivação. Tati treinava pela tarde com o professor Marquinhos e, às vezes, aparecia pela manhã para os treinos com Dórea e a galera elite do boxe. Eu sempre passava dicas pra ela durante os treinos”, relembrou Adriana, que ganhou a histórica medalha de bronze no mesmo dia em que Tati participou de seu primeiro Brasileiro, já tendo emagrecido cerca de 29 kg.
Quatro anos depois de ingressar no boxe, Tatiana sofreu um duro revés: a morte do seu pai, assassinado aos 43 anos. “Meu pai me apoiava em tudo. Tiraram a vida dele na porta de casa. Ele era um pai maravilhoso para mim”, emocionou-se Tati.
Com todo esse histórico de luta e superações, ela chega à seleção para lutar por vaga em Mundiais e nos Jogos Olímpicos. Nesse tempo, procura sublimar as perdas treinando e se dedicando à carreira.
Todo o sacrifício valerá a pena, nas contas da pugilista. “Com os treinos na seleção e a minha dedicação, tenho grande chance de chegar à Olimpíada”, espera Tatiana.
Técnico da seleção brasileira, Amonio Silva confia tanto nela em Tati que a convocou mesmo sem ela ter disputado o título brasileiro. “Ela perdeu na semifinal para Clélia Costa, titular da seleção olímpica, mas foi uma luta muito acirrada. Resolvemos dar uma oportunidade a ela, já que no ano passado ela também chegou bem e fez a final do brasileiro com Clélia”, explicou o treinador.
Outro baiano lembrado foi o garoto Wanderley Pereira, de apenas 19 anos. Natural de Conceição do Almeida, mesma cidade de Keno Marley, titular da categoria até 81 kg, Wanderley integra a categoria 75 kg, do titular Hebert Conceição, também baiano. Na semana da convocação, o jovem atleta testou positivo para Covid-19 e está em quarentena, isolado, recebendo suporte da seleção. Também derrotado na semifinal do Brasileiro, para Herbert,a jovem promessa ganhou a chance e é visto com muito potencial de futuro.