Times estão juntos na zona de rebaixamento pela 1ª vez na temporada | Foto: Lucas Melo | Ag. BAPRESS
Em tempos de valorizar ainda mais a ciência, é preciso desmistificar certas coisas: dois raios podem cair, sim, no mesmo lugar. Na verdade, eles caem muitas vezes em um mesmo local quando este já apresenta grande incidência do fenômeno natural. No futebol baiano, o desastre do rebaixamento conjunto já caminha para a terceira ocorrência.
1ª queda conjunta - 2005
Em 2005, Bahia e Vitória chegavam ao fundo do poço com a queda inédita à Terceirona. O Leão conseguiu empatar em 3 a 3 com a Portuguesa, mas uma vitória do CRB sobre o Criciúma decretou o descenso do time. O Esquadrão perdeu para o Paulista
2º raio no mesmo lugar - 2014
Vivendo momento conturbado dentro e fora de campo, a dupla Ba-Vi voltou ao inferno em 2014, caindo para a Série B. O Bahia, após perder por 3 a 2 para o Coritiba na última rodada, e o Vitória com a derrota derradeira por 1 a 0 para o Santos, no Barradão
Bahia e Vitória encontram-se em situação semelhante em suas respectivas tabelas. Na Série A, o Esquadrão abre a zona de rebaixamento, com 29 pontos. São três a menos que o Fortaleza, que é o 16º. Na B, o Leão tem a mesma posição (17º), com pontuação (39) idêntica à do Náutico, primeiro clube fora do Z-4.
Os dois primeiros raios
A primeira vez que os dois principais clubes baianos caíram ‘abraçados’ foi em 2005, rumo à Série C. Em meio à reformulação do Brasileirão, que alterou o número de clubes por divisão de 22 para 20, os dois times ficaram entre as seis piores campanhas da Série B. O Rubro-Negro foi o 17º, com 27 pontos. O Tricolor terminou em 18º, com 25.
O segundo raio caiu em 2014, quando fora de campo o Bahia viveu um ano de transição após o impeachment de Marcelo Guimarães Filho (MGF). Já o Vitória acumulou eliminações precoces e momentos conturbados.
As posições foram iguais às do rebaixamento para a Série C: Vitória em 17º, dessa vez com 38 pontos, e Bahia em 18º, com 37. O primeiro voltou à elite em 2015, para cair de novo em 2018. O segundo, em 2016, e permanece até hoje.
Pontos de interseção
Já que estamos falando de ciência, é importante encontrar uma justificativa para que esses rebaixamentos conjuntos tenham ocorrido. O ponto de interseção entre esses dois clubes em 2005 e 2014 é a tragédia anunciada.
No caso do Vitória, ainda há um outro encontro de linhas: o presidente do clube-empresa Vitória S/A em 2005 era Paulo Carneiro. O mandatário já comandava o Leão há 16 anos, e terminou afastado do cargo ao final do certame.
O ano de foi marcado pelo atraso de salários de funcionários e jogadores, coisa que voltou a ser rotina no clube nos últimos anos e segue em 2020/21. No Bahia, a coisa não era muito diferente. Também convivendo com salários atrasados, o elenco ‘de peso’ contratado para tentar subir à Série A decepcionou. Marcelo Guimarães, presidente desde 1997, saiu em julho de 2005 e as eleições só vieram a ocorrer em novembro daquele ano, pois a oposição conseguiu adiar o pleito.
O presidente interino, Petrônio Barradas, acabaria eleito. Dentro das quatro linhas, o Tricolor trocou de técnico cinco vezes. Em 2020, o Bahia trouxe também reforços considerados de peso e até agora não conseguiu desempenhar bem. Dado Cavalcanti já é o terceiro técnico na temporada.
O rebaixamento conjunto de 2014 também tem um script claro. O Leão, que fez campanha histórica em 2013 – chegou em 5º – sentiu falta do Barradão, que foi fechado para reformas, e protagonizou uma das piores defesas da competição, com 54 gols sofridos. A equipe echou o primeiro turno na lanterna, com só 15 pontos, e se recuperar ficou difícil.
Não que em 2020/21 a defesa do Rubro-Negro esteja boa, mas a instabilidade no setor é mais característica do Bahia. O Esquadrão viu seus adversários balançarem as redes em 51 oportunidades no Brasileirão desta temporada, rendendo-lhe o título de pior defesa do certame.
O aproveitamento fora de casa, dessa vez, é o principal problema do Leão. Apenas um triunfo em 17 jogos, e dos três duelos que restam em 2021, dois são longe do Barradão, contra Guarani e Brasil de Pelotas (veja abaixo a sequência de cada clube).
Já o Tricolor teve de lidar, em 2014, com a herança tenebrosa deixada pela gestão de Marcelo Guimarães Filho. Fernando Schmidt assumiu o lugar em um mandato-tampão após a primeira eleição direta da história do clube até que um novo pleito, mais estruturado, fosse finalmente convocado.
Em 2020, porém, o lado extracampo parecia caminhar nos eixos para o Esquadrão, com a boa gestão do presidente Guilherme Bellintani. Porém, dentro de campo o que se viu foi uma série de erros. A pandemia também deixou seu legado: uma dívida de R$ 20 milhões, segundo o gestor.
E agora?
Agora, só resta às duas equipes se preparar para o fim de temporada para tentar impedir que um terceiro raio cause ainda mais estragos no futebol baiano. O Tricolor volta a campo na quarta-feira, 20, contra o Athletico-PR, às 18h, na Fonte Nova. Aproveitando o tempo de treinamento que teve desde a última partida, o clube antecipou a concentração para esta segunda, 17, na Cidade Tricolor.
Nesta segunda, Dado comandou treino tático e, antes, passou vídeo sobre o adversário. A novidade foi a presença do zagueiro Lucas Fonseca. De acordo com o coordenador médico do clube, Luiz Sapucaia, ele já está pronto para jogar. “É uma lesão chata, que tem um risco de reincidência muito alto. Por isso a gente demandou tanto tempo no tratamento do atleta. Não queríamos correr o risco de que essa lesão reabrisse. Mas já está apto, treinando com bola, à disposição”, disse.
O Vitória também joga na quarta, contra o Guarani, às 16h. Após o empate com a Chapecoense, o técnico Rodrigo Chagas terá de lidar com os jogadores lesionados. Durante o confronto, Léo Ceará, Matheus Frizzo e Thiago Lopes deixaram o campo machucados. O atacante Vico, que não jogou contra o clube catarinense por um quadro de infecção viral, também é dúvida na equipe rubro-negra.
*Sob supervisão do editor Daniel Dórea