Varanda do quarto de Wellison, na Toca, tem vista para o Barradão
Titular do Vitória desde o segundo jogo da temporada, com três gols no ano e eleito por torcida e treinador a grande revelação de 2014. Apesar dos feitos, José Wellison ainda está longe da badalação das grandes estrelas do futebol. Ele, literalmente, dorme no trabalho.
O prata da casa mora há quatro anos no apartamento 7 do alojamento da base. Quando não está em campo, José, também conhecido como 'Pai Véi', pela mania de terminar a frase com a alcunha, gosta de ficar em sua cama de beliche ouvindo música gospel ou pagodão, além de usar e abusar do Playstation 3 e da internet.
A família de Wellison mora em São Pedro, Rio Grande do Norte, a 1.120 km de Salvador. Tanta distância dá saudade, mas a vontade de jogar bola compensa. Em 2010, ainda na base do ABC, José, na época com 15 anos, ligou avisando que estava de malas prontas para morar em Salvador. A família aceitou.
"Minha mãe ficou sabendo poucos dias antes da viagem e apenas perguntou se eu tava feliz. Pai também não falou nada. Levaram um susto, mas não me impediram. Quando soube que viria, abri logo aquele sorriso, né, pai véi? Na escola, recebi o telefonema perguntando se eu estava pronto para viajar. Falei: 'Bora!'. Três dias depois estava aqui no Barradão", lembra ele.
Sem carro e teto próprio, José ainda tem que aguentar os amigos do Rio Grande do Norte falando que o meia do Leão está com a vida ganha.
"Eles acham que estou milionário. Quando ligo para eles, alguns dizem que estou na vida boa, indo para praia todo dia e só tendo do bom e do melhor. Acho até engraçado. Nem na praia eu vou".
Na família do meia, o irmão mais novo, Welliton, também joga bola. Atualmente com 15 anos, é atacante na base do ABC, mas quer mudar de ares.
"Ele me liga todo dia pedindo pra jogar no Vitória. Acho que vou trazer. É ousado aquele menino. Ligou um dia pra meu empresário pedindo pra sair do ABC. Vou deixar ele lá um pouco mais pra pegar a malícia do futebol. Precisa aprender um pouco, como eu aprendi. Passei um ano no ABC e enfrentei dificuldades sozinho em Natal", lembra.
Perto do altar
Recentemente evangelizado, José Wellison sai do Barradão apenas para ver a namorada Lorena, a musa inspiradora dele.
"A turma da igreja está na pressão pra gente casar. Vamos noivar primeiro. Deixa eu fazer 20 anos", brincou o meia, que completou 19 na última terça-feira, 11.
Apesar de já profissional, José diz que seu melhor momento na carreira foi na Copa do Brasil Sub-20. Ele estava no elenco, mas atuou em só dois jogos: o primeiro e a partida que deu o caneco à garotada.
"Quando teve aquela briga entre Arthur Maia e Willie, um deles foi cortado (Willie) e eu fui relacionado para a final. No segundo tempo, contra o Atlético-MG, Amadeu (técnico) me colocou. Peguei na bola três vezes e tomamos um gol. 'Lascou!', pensei eu. Mas no finalzinho fiz o gol do título. Foi lindo, né, pai vei?", gaba-se.
No Baianão, Wellison marcou duas vezes na última rodada, mas Dona Maria Francilene, sua mãe, só descobriu quando ouviu o nome do filho na TV.
"Ela me ligou brigando porque não avisei. Ela não perguntou! Mãe e pai não ligam muito pra fu-tebol. Só me perguntam se estou bem, e feliz".