Barreto reforça que há soluções que podem ser feitas com bom acabamento estético e custo menor | Fotos: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE
A busca pelo trabalho de arquitetos no Brasil costuma estar relacionada à renda. A taxa de contratação dos profissionais é mais alta na classe A, em que chega a 55%, de acordo com pesquisa realizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR) em parceria com o Datafolha em 2015. O senso comum faz questionar: seria a arquitetura um serviço voltado, principalmente, aos mais ricos? Especialistas afirmam que não e profissionais mostram que a arquitetura pode, e deve, atender a todas as classes sociais.
Para especialistas, o distanciamento entre o trabalho de arquitetos e classes se relaciona não só a questões financeiras, mas, sobretudo, à falta de compreensão sobre o que o profissional realmente faz. “Quem não conhece não valoriza”, declara a presidente do CAU-BR, Nadia Somekh, que acrescenta que, geralmente, é a elite quem está mais próxima ao trabalho do arquiteto. Um dos pontos-chave para a diminuição dessa distância, para Nadia, é a comunicação. A presidente reforça que é fundamental que seja divulgado como o ofício proporciona qualidade de vida às pessoas.
O presidente do departamento baiano do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-BA), Luiz Antônio de Souza, salienta que é preciso que seja desfeita a ideia de que procurar pelo profissional de arquitetura é procurar por luxo. O trabalho não se resume a apenas levar beleza para dentro de casa, mas tem o intuito, principalmente, de proporcionar conforto e funcionalidade aos ambientes do lar. Luiz Antônio destaca que, em um contexto de isolamento social, a necessidade de a arquitetura chegar a todos os segmentos é intensificada.
Neilton Dórea, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA), concorda que há um desconhecimento geral sobre a função do arquiteto, mas observa também que o custo operacional costuma ser alto para uma camada considerável da população. Neilton afirma que a solução para alguns casos está em ações voltadas a projetos e moradias para pessoas de baixa renda, como a Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (Athis). Além disso, o presidente do CAU-BA considera que o papel do arquiteto precisa ser repensado de forma a estar mais próximo da população.
Foi da aproximação com pessoas que precisavam do serviço de arquitetos, mas tinham receio de buscá-lo por medo de ter que arcar com um custo alto que Márcio Barreto, do escritório Arquitetura do Barreto, desenvolveu uma modalidade de atendimento que coubesse no bolso de mais gente. O profissional oferece uma consultoria de duas horas por um preço menor em que dá instruções ao cliente e tira suas dúvidas. Depois disso, o cliente decide se deseja ou não realizar a obra.
Márcio Barreto afirma que realizar um projeto por custo menor não é fazer uma mera reprodução das plantas desenvolvidas a maiores preços. Envolve usar menos marcenaria e dar soluções em conta sem tentar fazer uma cópia mais barata de algo. “A arquitetura acessível tem características próprias. Há mil soluções que podem ser feitas com bom acabamento estético e custo de execução acessível”, declara.
A Projecta, Empresa Júnior da Faufba, atende por valores mais econômicos
Potenciais clientes
Kézia Damazio, arquiteta à frente do Viva! Arquitetura Popular, visa atender as classes C, D e E. O seu escritório prioriza se adaptar à situação financeira dos seus clientes. Além das adequações que podem ser proporcionadas para garantir um preço menor, Kézia indica que as soluções mais caras sejam feitas em etapas e aos poucos para não comprometer a renda de seu público.
A arquiteta, que sempre morou em bairro popular, observa que há um forte estigma entre colegas de profissão com relação a moradores desses bairros, o que intensifica o distanciamento dos profissionais com potenciais clientes. “Eles enxergam que na periferia só moram pessoas em extrema pobreza, mas nos bairros populares há uma população diversa e o padrão construtivo é variado. Tem uma grande parte que pode pagar pelo serviço, mas não é assistida”, diz.
A Projecta, Empresa Júnior da Faculdade de Arquitetura da Ufba (Faufba), também tem como diferencial o atendimento mais econômico. Os arquitetos têm entre seus princípios os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização Mundial da Saúde (ONU) e, além de um serviço barato, eles buscam sempre requisitar a quantidade exata de material a ser utilizada, para que não haja desperdícios nem gastos desnecessários pelos clientes.
A presidente da Projecta Julia Sousa enfatiza que o papel do arquiteto é vasto e inclui desde um projeto para reforma que garanta a boa ventilação da casa à regularização de imóvel para que seja possível registrar a residência no próprio nome. Julia reitera também que não buscar por um profissional como forma de economizar pode sair caro, já que, sem a presença de alguém qualificado, há riscos de que algo dê errado na obra e seja necessário refazê-la, gerando ainda mais gastos.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló