Com a corrida de gregos aos bancos e, nos últimos dias, também de espanhóis que querem defender suas poupanças, aumentam as incertezas sobre as perspectivas na zona do euro, embora risco e consequências da eventual redução da União Europeia (27 países) sejam catastróficos para o sistema financeiro mundial. Tanto saindo ou ficando, o custo da Grécia é altíssimo e difícil de imaginar o que representaria o astronômico déficit da ordem de dois trilhões de euros.
É bom que se diga: a Grécia, com todo respeito, em função de sua história de ditaduras, populismos e com baixa capacidade produtiva, nitidamente agrícola, jamais teve condições econômicas e regulatórias para pertencer a uma associação do porte exigido pelos países do Norte da Europa.
Nada garante que os gregos votarão, no dia 17 de junho, a favor de um governo que defenda as políticas de austeridade fiscal impostas pela poderosa Alemanha, que já não conta mais com o apoio automático da França, agora sob o comando do socialista e defensor do crescimento François Hollande. Nesta nova configuração entre França e Alemanha, os alemães poderiam ditar os próximos passos, graças à significativa segurança bancária e estabilidade econômica. Não se sabe tampouco se as diferenças estratégicas e ideológicas entre as duas maiores locomotivas europeias poderiam surtir efeito negativo para a tomada de decisões.
As próximas eleições gregas serão basicamente um referendo sobre as duas principais posições políticas. De um lado, está a esquerda radical formada pela coalizão Syriza, apoiada por outros grupos progressistas contrários aos planos de austeridade; de outro, estão os conservadores pró-europeus da Nova Democracia, que poderiam formar governo com seus ex-rivais socialistas do Pasok.
O líder radical de esquerda é o jovem político Alexis Tsipras, de 37 anos, que defende o rompimento com a zona do euro (de 17 países), se Atenas não conseguir ampliação substancial dos prazos de pagamento dos créditos recebidos. Mesmo com ruptura ordenada, já admitida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a separação da Grécia da União Europeia teria reflexos no mundo todo.
O cenário é negativo. A fuga de capitais dos bancos de Atenas gira em torno de 500 milhões de euros diários. Já o banco espanhol Bankia pediu aporte urgente de 19 milhões de euros à Comissão de Valores da Espanha para sanear suas finanças. Esta é a maior operação financeira já registrada para salvar um só banco espanhol e, na verdade, indica o começo da nacionalização.
Quais seriam os custos sociais destas medidas de austeridade cada vez mais intensas? Certamente, mais desemprego, emigração e aumento da economia informal.
E se, depois da Grécia, outros países, como Portugal, Itália e Irlanda, que beiram condições deficitárias preocupantes, também recorrerem a empréstimos europeus?
O dominó europeu, formado por economias em perigo, poderia engendrar uma situação insustentável, razão pela qual a eventual expulsão da Grécia permitiria estancar a sangria e concentrar ajuda para aqueles governos realmente disciplinados do ponto de vista fiscal. São as regras do jogo obrigatórias para que uma união complexa funcione.
Numa análise fria, do tipo alemã, o caminho seria a criação de regras mais rigorosas para os bancos, que passariam a ser subordinados a um comando unificado e não mais a instituições nacionais de cada país. Os bancos não seriam mais espanhóis, alemães ou franceses, mas sim europeus. Políticos e governos não poderiam mais socorrer empresas e bancos por própria decisão. Precisariam de uma autorização, como se fossem “miniestados” nas mãos de um “superestado”.
Seria, diriam alguns, também perda intolerável de soberania nacional a favor do poder europeu, mas talvez a única saída para adaptação aos novos e difíceis tempos.