À parte baixarias e acusações entre os pré-candidatos republicanos, que disputarão em agosto a indicação do partido na convenção nacional e as críticas inerentes à campanha do tipo hollywoodiano ao presidente Barack Obama, as eleições americanas de 6 de novembro serão decisivas para a solução da mais grave crise a atingir o país desde 1929 e também para a negociação de conflitos geopolíticos que geram instabilidade mundial.
Está na disputa republicana o ex-governador de Michigan e empresário Mitt Romney, que conta com 37% dos votos dos 419 delegados para as famosas primárias da próxima “Super-Terça” em dez estados americanos. Ele é seguido por Rick Santorum, ex-deputado e ex-comentarista da Fox Communications, com 32%, segundo resultados divulgados ontem.
Para ser indicado candidato republicano, serão necessários pelo menos 1.144 delegados. É verdade também que nenhum destes dois candidatos, conforme já comentado na imprensa internacional, poderia ser melhor para Obama, em função de suas fracas biografias políticas.
No centro dos debates eleitorais, estão, naturalmente, as principais questões econômicas, como a redução do elevado déficit fiscal, a retomada do crescimento e a criação de empregos, assim como os estratégicos desafios da política externa. Temas espinhosos, analisados pela revista “Time” na reportagem “Obama, o estrategista”, aguardam o próximo presidente.
Como deter, por exemplo, a escalada nuclear de países como Irã, Paquistão, Índia e Coreia do Norte? O temor é que terroristas consigam armas nucleares devido à falta de controle. Como se proteger da crise da zona do euro, caso as rigorosas medidas fiscais europeias não surtam efeito e levem à recessão global? As tropas americanas poderão se retirar totalmente do Afeganistão, caso a guerra civil no Paquistão se alastre?
Nota-se que a abordagem republicana sobre a solução do elevado déficit fiscal passa por cortes em programas sociais que beneficiam atualmente setores menos favorecidos da sociedade, enquanto a maioria dos americanos teria que pagar mais impostos.
Já Obama defende uma “América construída para durar” e quer um segundo mandato para fazer as reformas da imigração e fiscal, de forma a obrigar os milionários americanos a pagarem pelo menos 30% de impostos sobre seus rendimentos. Sua proposta foi, inclusive, ilustrada positivamente pela declaração do próprio Romney que admitiu pagar menos de 15% de impostos sobre rendimentos de US$ 20 milhões anuais (o equivalente a cerca de R$ 34 milhões).
É bom lembrar que os votos latinos, portanto, dos imigrantes e seus parentes, têm peso importante nas eleições americanas, o que favoreceria Obama. Mas em alguns estados, podem prevalecer as preferências mais conservadoras e religiosas, em detrimento das opções mais liberais, por exemplo, a favor do aborto e o casamento do mesmo sexo.
Uma América mais justa, portanto, que equilibraria os impostos que pagam ricos e pobres, é muito bem-vista pela maioria dos americanos. É realmente um absurdo, por exemplo, que a secretária do bilionário Warren Buffett pague mais impostos do que seu patrão.
O atual presidente tem sido reconhecido cada vez mais pelo sindicalismo, graças às suas intervenções para resgatar as fábricas automotivas americanas, que estavam à beira da falência, em 2008. Foram recuperados mais de 200 mil postos de trabalho neste setor.
Além do conservadorismo republicano, o movimento de extrema-direita Tea Party, cujo nome se refere aos protestos revolucionários americanos contra a metrópole britânica, em 1773, também ataca Obama. Duvida de sua nacionalidade americana, apesar de ele já ter provado que nasceu na ilha havaiana de Oahu, e ainda o ataca por ser negro.
A baixaria entre os pré-candidatos republicanos, que recorrem inclusive a fatos pessoais para ofender a honra alheia, e os ataques conservadores e racistas devem beneficiar Obama, mas o fator decisivo será a postura da Casa Branca diante das crises internacionais e a recuperação econômica. Muita água vai rolar até novembro.