A Conferência sobre Clima das Nações Unidas de Copenhague, no mês que vem, pode ser a última chance de se conseguir o acordo mundial necessário para se reduzir as emissões de dióxido de carbono CO2 e impedir o aumento progressivo da temperatura do planeta em dois graus Celsius nos próximos anos, o que levaria a efeitos desastrosos em relação à produção de alimentos e desequilíbrios climáticos. O alerta é do secretário da ONU Yvo de Boer.
As duas fontes poluidoras principais de C02 são a queima de combustíveis fósseis e desmatamento de florestas.
Elevação do nível dos oceanos, acarretando desaparecimento de cidades, queda drástica na produção de soja, feijão e milho, por exemplo, assim como interrupção do
fornecimento de água para regiões mais secas são efeitos já admitidos e comprovados pelos especialistas sobre mudanças climáticas.
E para os brasileiros que acham que este é um problema fictício o estudo “Economia da mudança do clima no Brasil: custos e oportunidades”, divulgado anteontem, aponta para uma possível perda de R$ 3,65 trilhões do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos 40 anos, ou seja, um ano e meio da produção do país. Amazônia e Nordeste seriam as regiões mais atingidas: aquecimento de oito graus Celsius e redução de chuvas de dois a dois e meio mm/dia, até 2100, em cada região, respectivamente.
É claro que, provavelmente, muitos de nós não estaremos mais aqui para testemunhar estes fatos, mas a Humanidade não pode ser tão egoísta a ponto de não perceber que as futuras gerações têm direito de herdar um planeta limpo, ou pelo menos habitável, ao mesmo que temos responsabilidade para com elas.
A urgência em se tomar decisões mais firmes deve-se ao fato de que as reduções de gases poluentes preconizadas pelo Protocolo de Kyoto, válido entre 1997 e 2012, não ocorreram. Pelo contrário: os principais países poluidores, entre eles Estados Unidos (que nem ratificaram o último protocolo) e China, elevaram suas emissões em cerca de 10%. Além disso, o compromisso mundial deve levar em conta que estas reduções devem começar efetivamente para que sejam atingidas as metas de queda de C02, variando de 25% a 40% até 2020, e de 85% até 2050.
Em função da complexidade do tema, que envolve questões científicas, políticas e ideológicas, o consenso entre países ricos e pobres parece ainda distante. As médias históricas de emissões variam muito já que os países ricos começaram seu desenvolvimento a partir da Revolução Industrial no século XIX, enquanto os demais no século XX.
Não há como esquecer que a economia mundial se desacelerou, neste ano, devido à recessão econômica, sustentando a argumentação de que seria desastroso também fixar metas de redução de desenvolvimento industrial, enquanto enormes contingentes de trabalhadores perdiam seu emprego. Mas a séria crise do setor automotivo americano, por exemplo, propiciou a busca por modelos que consomem menos combustível que, por sua vez, pode ser também menos poluidor. A troca da gasolina pelo etanol é um caminho plenamente possível.
Por outro lado, custariam bilhões de dólares em investimentos para ajustar economias de países em desenvolvimento a novos parâmetros industriais baseados em energia limpa, como eólica e solar.
Não é uma tarefa fácil, mas a vontade política de Estados Unidos, China, Brasil, Índia e União Européia podem pelo menos reverter este panorama de fracasso e pessimismo que se vislumbra para Copenhague, antecipando decisões que não podem mais esperar. São, obviamente, bemvindas as recentes declarações dos presidentes dos EUA, Barak Obama, e da China, Hu Jintao, de prometerem, respectivamente, redução de 17% em relação aos níveis de 2005 e de 40 a 45% de emissão de C02 por unidade do PIB, em 2020, em relação a 2005. Mas estas intenções ainda terão que ser ratificadas.
Divergências ideológicas à parte, não é possível que mesmo os líderes mais desinformados não percebam que as mudanças climáticas, como furações, ciclones ou desertificações, já estão matando milhares de pessoas, principalmente nas regiões mais pobres do mundo. Sem equilíbrio climático para assegurar qualidade de ar e produção agrícola será muito difícil nutrir uma população mundial de 6,3 bilhões de pessoas, em 2020, conforme projeções da ONU. Apenas um acordo mundial generoso e imediato poderá salvar o planeta para futuras gerações.
*Ranulfo Bocayuva é jornalista e diretor executivo do Grupo A Tarde.
Contato: rbocayuva@grupoatarde.com.br