O magnata russo Boris Berezovsky defendeu que seja usada a força para derrubar o governo do presidente Vladimir Putin e alardeou ter apoio entre a elite política do país, divulgou hoje o jornal britânico Guardian. Autoridades russas reagiram imediatamente. O governo da Rússia, alegando que Berezovsky estava abusando de seu status de refugiado político, voltou pedir à Grã-Bretanha sua extradição. Por sua vez, a Polícia Metropolitana de Londres anunciou hoje a abertura de uma investigação para apurar se os comentários de Berezovsky violam as leis britânicas.
Nos comentários que certamente irão agitar o Kremlin e a cena política antes de cruciais eleições, o exilado bilionário afirmou estar financiando importantes integrantes do governo que estariam conspirando para tomar o poder. "Precisamos usar a força para mudar o regime porque esse regime é inconstitucional", afirmou Berezovsky ao jornal londrino. "Isso significa que peço para usarem a força para recriar um regime constitucional", declarou.
Berezovsky - um empresário influente do Kremlin que caiu em desgraça com Putin e fugiu para a Grã-Bretanha, onde conseguiu asilo - acusou o presidente russo de criar um regime totalitário. Ele defendeu que "não existe chance de mudança através das eleições, o único meio é usar a força". Segundo o Guardian, Berezovsky disse ter contato com membros da liderança política russa e tem oferecido a eles não apenas ajuda financeira mas também "meus conhecimentos de como poderia ser feito" um golpe palaciano. Antes Berezovsky dizia que apoiava forças da oposição na Rússia, e não participantes do governo.
"Se uma parte da elite política discorda com outra parte da elite política - esta é a única forma de mudar o regime na Rússia. Tento fazer isso", explicou. Berezovsky já tinha feito comentários semelhantes no início de 2006, mas suas atuais declarações aparecem num momento de tensão antes das eleições parlamentares de dezembro e das presidenciais de março. Pela Constituição, Putin não pode buscar um terceiro mandato. "Existe um antigo pedido para que se ponha um fim à situação na qual Berezovsky aproveita seu status de refugiado, abusando grosseiramente desse status, assumindo atitudes que, pela legislação britânica, exige sua extradição", afirmou o ministro do Exterior russo, Sergey Lavrov.
O procurador-geral Yuri Chaika ordenou a abertura de um novo processo criminal contra Berezovsky por considerar que suas declarações contêm "pedidos pela tomada violenta do poder". Também seria formalizado um novo pedido de extradição à Grã-Bretanha. Berezovsky transformou-se num dos mais ricos magnatas da Rússia no caótico e violento período pós-soviético do início da década de 1990, controlando um império que envolvia empresas petrolíferas, automobilísticas e de comunicação. Ele ganhou uma reputação de recorrer a métodos violentos contra seus adversários, tanto nos negócios quanto na política.
O líder do Partido Comunista da Rússia, Gennady Zyuganov, acredita que qualquer tentativa de golpe de Estado por parte de Berezovsky fracassará, já que existe uma profunda desconfiança hoje em relação aos magnatas que fizeram fortuna se apoderando de antigos bens estatais soviéticos. "Berezovsky ajudou as antigas autoridades a roubarem o país, e agora se torna repentinamente um revolucionário. O povo nunca irá segui-lo", estimou Zyuganov.