A Casa Branca e líderes democratas da Câmara Baixa chegaram hoje a um acordo sobre um plano fiscal para evitar que os Estados Unidos entrem em recessão pela crise do mercado imobiliário, cujos preços caíram, em 2007, pela primeira vez desde que há registros.
O plano deve colocar nos bolsos dos americanos US$ 150 bilhões, ou 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, com a esperança de que o valor seja gasto, e dessa forma, dêem nova vida a uma economia que agoniza. "Este pacote contém as medidas corretas e tem o tamanho correto", disse o presidente dos EUA, George W. Bush.
Pelo lado democrata as negociações foram lideradas pela presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi. "Não posso dizer que estou totalmente contente com o pacote, mas acho que estimulará a economia e caso isso não aconteça, haverá medidas adicionais", afirmou a democrata.
Os líderes do Senado ainda não se manifestaram sobre o plano, que pretende evitar que os temores de que a maior economia do mundo entre em recessão se tornem realidade. Hoje, no entanto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) distanciou-se da visão pessimista e afirmou que, apesar das recentes reviravoltas nas bolsas em nível mundial, ainda acredita que os EUA seguirão crescendo, segundo seu porta-voz, Masood Ahmed.
O funcionário defendeu essa tese por causa da expansão fiscal prevista e da política de redução de juros adotada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) que, na terça-feira, cortou os juros em 0,75 ponto percentual, até 3,5%.
Bush não teve que se esforçar muito para convencer os democratas da necessidade do estímulo, pois o partido de oposição é mais favorável do que os republicanos à intervenção do Governo na economia.
O que surpreende é que Bush, sempre promotor do livre funcionamento do mercado, tenha abraçado as idéias do economista britânico John Maynard Keynes, que recomendou uma expansão fiscal para não cair no precipício da recessão.
Faltava definir o conteúdo do pacote de estímulo. A proposta original da Casa Branca consistia em reduções tributárias para pessoas que pagam o imposto de renda, mas não para os 30 milhões de americanos mais pobres.
Nancy Pelosi, porém, queria estender o seguro de desemprego e os subsídios à alimentação para os necessitados. A democrata retirou as reivindicações em troca de cheques para pessoas de baixa renda. O acordo estabelece que todo americano que tenha ganhado pelo menos US$ 3 mil em 2007, e no máximo US$ 75 mil, receberá entre US$ 300 e US$ 600 em crédito de diminuição de impostos.
As famílias com crianças embolsarão US$ 300 por filho, até o máximo de US$ 1.200. Além disso, o plano prevê diminuição de impostos para as empresas.Segundo Chade Stone, economista-chefe do Centro de Prioridades Orçamentárias e de Política, o pacote dará algum estímulo à economia, mas poderia ser melhor.
Os subsídios de alimentação e o seguro de emprego teriam colocado dinheiro nas mãos das pessoas mais necessitadas e seria gasto imediatamente, afirmou Stone.Pessoas com maior renda tendem a economizar mais, o que vai contra o propósito de estimular a demanda por gastos.
O economista conservador Alex Brill acredita que as medidas são desnecessárias, e que sua motivação é política."A idéia surgiu das campanhas presidenciais, e colocava o presidente na posição de dizer não ao pacote", afirmou Brill, que foi o economista-chefe do Comitê de Meios e Arbítrios da Câmara Baixa até 2007, quando seu controle passou para os democratas. "Além disso, Bush está em seu último ano, e preocupado com seu legado", acrescentou.
Foi divulgada hoje pela Associação Nacional de Agentes Imobiliários, a queda de 1,8% no preço médio do imóvel em 2007, a primeira baixa anual desde que se começou a compilar os dados, em 1968.Ao mesmo tempo, as vendas reduziram 13%, a maior queda desde 1982. A crise no setor imobiliário causou perdas multimilionárias aos bancos e afetou o resto da economia, mas com o plano de estímulo, o Governo dos EUA apelou aos consumidores para que a reaqueçam.