Os Estados Unidos pode ainda se ver como a terra das oportunidades, mas as chances de passar da miséria à riqueza em uma vida são bem menores ali do que em outras partes do mundo, segundo um estudo publicado na quarta-feira.
A possibilidade de uma criança nascida em uma família pobre chegar ao grupo dos cinco por cento mais ricos é de apenas um por cento, segundo a pesquisa "Entendendo a Mobilidade na América", de autoria do economista Tom Hertz, da Universidade Americana.
Por outro lado, uma criança que nasça rica tem 22 por cento de chance de continuar rica quando adulta, segundo ele.
"Em outras palavras, as chances de ficar rico são 20 por cento maiores se você já nasce rico do que se nasce em uma família de baixa renda", disse ele numa palestra no Centro para o Progresso Americano, entidade liberal que patrocinou o estudo.
Ele também concluiu que os EUA têm um dos menores níveis de mobilidade social intergeracional no mundo rico, junto com a Grã-Bretanha, mas bem aquém da maior parte da Europa.
"Considere uma família rica e uma pobre nos Estados Unidos, e um par similar na Dinamarca, e pergunte quanto da diferença nas rendas dos seus pais será transmitida, em média, a seus netos," disse Hertz. "Nos Estados Unidos, seria 22 por cento; na Dinamarca, seria dois por cento."
A pesquisa se baseou numa amostra de mais de 4.000 crianças cujos pais tiveram a renda observada em 1968 e cujos rendimentos quando adultos foram novamente analisados em 1995, 96, 97 e 99.
A pesquisa não incluiu imigrantes, por causa da amostra original. Milhões de imigrantes trabalham nos EUA, muitos ilegalmente, ganhando salários muito maiores do que nos seus países.
Vários especialistas convidados a revisar o trabalho aprovaram as conclusões gerais, embora tivessem reticências sobre as recomendações que o acompanham.
"Isso desvenda o mito de que a América é a terra das oportunidades, mas não nos diz como resolver," disse Bhashkar Mazumder, economista-sênior do Federal Reserve (Banco Central dos EUA) em Cleveland, autor de pesquisas nessa área.
Recentes estudos destacam a crescente desigualdade de renda nos EUA, mas os norte-americanos permanecem muito otimistas sobre as chances de melhoria econômica para si próprios ao longo da vida.
Pesquisa feita no ano passado pelo jornal The New York Times mostrou que 80 por cento dos entrevistados achavam possível começar a vida pobre, trabalhar com afinco e se tornar rico. Em 1983, menos de 60 por cento tinham tal crença.
Os dois dados significam que, embora as pessoas pensem que vão conseguir subir na vida, a realidade é diferente. Essa contradição já foi aproveitada por críticos da reforma fiscal feita pelo governo Bush, que segundo eles beneficia os ricos.
Hertz identificou a educação como o principal fator para a mobilidade social, explicando 30 por cento desse fenômeno -- um argumento em favor do maior acesso da população às universidades.
As características raciais são o segundo principal fator que explica por que muitos pobres continuam pobres.
Na média, 47 por cento das famílias permanecem pobres. Entre as famílias brancas, a chance de isso acontecer é de 32 por cento; entre as negras, de 63 por cento.
A recíproca é verdadeira, pois apenas 3 por cento dos negros vêm do grupo dos 25 por cento mais pobres e chegam aos 25 por cento mais ricos da população. Entre os brancos, a chance de sucesso sobe para 14 por cento.
"Parte da razão para a mobilidade ser tão baixa nos Estados Unidos é que a raça ainda faz diferença na vida econômica," afirmou.