Banhada pelo Mediterrâneo, a Espanha aposta na dessalinização da água do mar para aliviar a escassez de água doce, intensificada pela seca no país.
As autoridades espanholas iniciaram a construção de três enormes usinas de dessalinização em agosto, das quais a de Torrevieja, perto de Alicante (leste), pretende ser a maior da Europa com uma produção de 80 milhões de metros cúbicos de água potável ao ano, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
Por enquanto, a maior é a de Carboneras, próxima a Almería (Andaluzia, sul), uma das regiões mais desérticas da Europa. Inaugurada em maio de 2005, funciona com apenas 10% de sua capacidade de 42 milhões de metros cúbicos ao ano, que alcançará no fim de 2007, segundo o chefe da usina, José Alonso Cozar.
A água das usinas dessalinizadoras está destinada às áreas urbanas, mas sobretudo à agricultura, que já absorve 78% da água consumida na Espanha, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), publicados nesta quinta-feira.
No caso de Carboneras, 15 hectômetros (hm) cúbicos de água se destinarão às cidades e 27 hm cúbicos à agricultura - em grande parte para os plantios de frutas e verduras em estufas -, dos quais 4 hm cúbicos irão para a irrigação do deserto de Tabernas para o plantio de oliveiras.
O preço da água será de 60 centavos de euro (US$ 0,76) o metro cúbico, "um pouco acima da média" na Espanha (50 centavos de euro ou US$ 0,64 o metro cúbico) "frente a 2,30/2,50 (euros, US$ 2,9/3,2) em países como a Alemanha", segundo Cozar.
A dessalinização é uma aposta do governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero, que em junho de 2004 anulou um projeto do executivo anterior para transvasar água do rio mais caudaloso da Espanha, o Ebro, para as regiões áridas do sul e do sudeste espanhóis.
O gigantesco projeto deve fornecer 1.050 hm cúbicos para o litoral mediterrâneo, mas gerou conflitos entre as regiões úmidas e as secas, assim como críticas dos ecologistas, preocupados com as conseqüências para o meio ambiente e a paisagem.
O governo socialista decidiu fornecer 713 milhões de metros cúbicos por ano através de uma quinzena de usinas de dessalinização e o restante, graças a uma melhor gestão dos recursos.
A dessalinização não é novidade na Espanha, onde desde 1965 existem 700 usinas deste tipo, porém pequenas e que produzem apenas 292 milhões de metros cúbicos anuais.
Em outros países da Europa, como Itália, Grécia, Turquia e Chipre, usam as mesmas técnicas.
Os ecologistas, satisfeitos com a anulação do projeto do governo anterior, têm certas restrições com relação às usinas de dessalinização.
"Consideramos que seria necessário fazer um esforço para administrar melhor os recursos ao invés de estimular a demanda com mais água que alimentará o desenvolvimento urbanístico e turístico" da costa mediterrânea, que em alguns lugares apresenta uma paisagem na qual torres de cimento e campos de golfe se misturam em áreas áridas, explicou María José Caballero, do Greenpeace.
O consumo de água por habitante aumentou 2,4% na Espanha em 2004, situando-se em 171 litros por pessoa ao dia, segundo o INE, enquanto 17,9% da água se perdem no momento de sua distribuição.
Estas cifras contrastam com a seca que a Espanha enfrenta pelo terceiro ano consecutivo ao ponto de as reservas de água caírem na quarta-feira, segundo o Ministério do Meio Ambiente, para 43,9% de sua capacidade, o nível mais baixo em 10 anos.
Quanto às usinas dessalinizadoras, a organização ecologista se preocupa principalmente com os efeitos dos resíduos de salmoura (água saturada de sal), que poderiam degradar as planícies submarinas, onde vivem "centenas de plantas e animais" e que são uma proteção contra a erosão costeira.