Ingrid Betancourt recebeu ameaças de abuso sexual por parte de companheiros de cativeiro, afirmou o ex-congressista Luis Eládio Pérez, que foi refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) por sete anos, dos quais quatro ao lado da ex-senadora. Segundo Pérez, em algumas épocas os conflitos entre os reféns eram quase diários, o que complicava ainda mais a rotina de doenças, longas caminhadas e do acorrentamento a árvores ou a outros companheiros.
"Sem dúvida é difícil quando muitas pessoas vivem juntas", disse Pérez, ao descrever a rotina de privações e desespero. "Diferenças de opinião criaram atritos que levaram a brigas (no cativeiro) e houve pelo menos dois casos que (algumas pessoas) passaram dos limites, parcialmente por causa da atitude e dignidade de Ingrid. Mas nós, que somos seus amigos, a apoiamos", afirmou o ex-senador, evitando se alongar muito sobre o assunto.
Em suas entrevistas depois do resgate, porém, Ingrid não mencionou qualquer tentativa de abuso ou hostilidade por parte de seus colegas de cativeiro. Pérez contou detalhes de uma fuga frustrada em que ele e Ingrid tentaram fugir para o Brasil. A decisão de escapar teria sido feita quando eles perceberam que os guerrilheiros estavam cercando seu acampamento com arame farpado. Ambos andaram muito em meio à selva mas a saúde precária de Pérez os impediu de continuar e eles se entregaram para os guerrilheiros.
A tentativa de fuga fez com que os rebeldes endurecessem as condições do cativeiro e acirrou o racha entre os reféns, que culparam Ingrid pela piora das condições em que eram mantidos. Segundo relatos da franco-colombiana, a partir dessa ocasião ela passou a ser acorrentada pelo pescoço 24 horas por dia.