O ex-primeiro-ministro russo Yegor Gaidar está certo de que a sua repentina doença misteriosa foi causada por envenenamento, e os responsáveis provavelmente são opositores das autoridades russas, declarou hoje. Ele também afirmou excluir a possibilidade de que as autoridades possam ser responsáveis pela morte do ex-expião Alexander Litvinenko, já que isso não seria de seus interesses. "Isso quer dizer que o mais provável é que alguém entre os inimigos declarados ou não das autoridades russas, aqueles que estão interessados em uma radical deterioração dos laços entre a Rússia e o Ocidente, está por trás disso."
Gaidar é um economista liberal de 50 anos que assumiu brevemente o cargo de premiê nos anos 1990 durante o mandato do presidente Boris Yeltsin, e é um líder de um partido liberal russo de oposição. Ele ficou gravemente doente durante uma conferência na Irlanda em 24 de novembro, e foi levado a uma unidade de tratamento intensivo de um hospital.
No dia anterior, o ex-espião da KGB Litvinenko morreu em Londres após ter sido envenenado com a substância radioativa polônio-210. O caso criou a especulação de que estaria sendo realizada uma caçada contra os liberais russos, o que inclui a jornalista Anna Politkovskaya, assassinada em seu prédio em outubro. Nenhum dos dois assassinatos foram solucionados.
Em artigo publicado hoje no Diário Vedomosti, Gaidar descreveu o início de sua doença e os sintomas: fadiga irresistível, sangramento do nariz e boca, vômitos e perda de consciência. Médicos irlandeses concluíram que ele não foi envenenado por uma substância radioativa, mas disse que a sua saúde havia sofrido "mudanças radicais". Quando Gaidar voltou a Moscou no dia seguinte e deu entrada em uma clínica, já era tarde demais para detectar por meio de testes qual foi a toxina que supostamente causou sua doença, escreveu no Vedomosti. Isso significa que seu médico de longa data não poderia usar a palavra envenenamento.
"Mas nós nos entendemos bem. Você pode culpar pequenos homens verdes - mas se você se mantiver nos limites da razão, estamos falando precisamente de envenenamento", escreveu Gaidar.
Críticos do presidente Vladimir Putin têm acusado o Kremlin e os serviços de segurança russos da responsabilidade dos assassinatos de Politkovskaya e Litvinenko, e políticos ligados ao Kremlin e analistas têm rebatido, apontando para o grupo emigrado do magnata Boris Berezovsky, auto-exilado em Londres. Eles dizem que Berezovski, uma vez membro do círculo de Boris Yeltsin que se desentendeu com Putin, tenta denegrir a imagem do presidente.
Gaidar é um economista que trabalhou no governo russo - pós-União Soviética - mais liberal e democrático. Ele é impopular entre muitos russos que culpam as políticas liberais, apoiadas pelo Ocidente e por ele implementadas enquanto premier como a razão do declínio da qualidade de vida após o colapso soviético. "Se estamos falando de uma explosão ou tiros em Moscou, eu teria pensado primeiro que nacionalistas radicais (são responsáveis). Mas em Dublin? Envenenamento? Obviamente não é o seu estilo."