Um tribunal boliviano manteve a decisão do governo em confiscar uma fazenda de um criador de gado norte-americano e da sua família, com o argumento de que eles tratavam seus empregados como escravos, anunciou um funcionário da Justiça da Bolívia.
O Tribunal Agrário Nacional boliviano rejeitou um pedido de reintegração de posse da propriedade, feito por Ronald Larsen, um homem de 65 anos, que foi proprietário da fazenda de 15 mil hectares por quase quatro décadas, disse o vice-ministro da Agricultura, Juan Manuel Pinto, em encontro com jornalistas.
Segundo o vice-ministro boliviano, a fazenda Caraparicito ficará com os índios guaranis, habitantes tradicionais da região sudeste da Bolívia, conhecida como El Chaco. Ele disse que a propriedade, bem como uma outra fazenda de 3,7 mil hectares ao lado, que pertence a outra família, os Chavezes, serão desocupadas e entregues a 2 mil famílias de indígenas. Pinto não disse quando o tribunal tomou a decisão, da qual não existe mais apelação.
A família Larsen não foi encontrada ainda para comentar a decisão da Justiça. Todos os Larsen negaram terem tratado os empregados, todos indígenas guaranis, como escravos. Larsen mudou-se para a Bolívia em 1969, começou a adquirir terras e casou com uma boliviana. Ele disse no ano passado que passou a escritura da fazenda aos seus três filhos, em 2005, todos eles cidadãos bolivianos.
Reforma agráriaApós o presidente da Bolívia Evo Morales tomar posse, em 2006, Larsen virou um alvo para a campanha de reforma agrária do governo, cuja lei afirma que terras onde houver trabalho considerado escravo podem ser confiscadas.
Grupos dos Direitos Humanos disseram no ano passado que vários milhares de indígenas guaranis na Bolívia vivem em condições de "trabalho forçado ou servidão" no Chaco, recebendo salários de apenas US$ 40 por ano.
Líderes dos guaranis, terceiro maior grupo étnico indígena da Bolívia, após os quíchuas e aimarás, acusaram, em 2008, que 12 famílias viviam em regime de servidão na fazenda da família Larsen. O dono da fazenda afirmou que durante quatro décadas ele alimentou e vestiu seus empregados, que do contrário viveriam na miséria, educou seus filhos e proveu assistência médica a todos.
Ele afirma que é perseguido porque é visto como um branco norte-americano, relativamente rico para os padrões locais, num país racialmente dividido como a Bolívia, cujo presidente é um indígena aimará que cresceu na pobreza.
A família Larsen acusa que Evo está mais interessado nas possíveis reservas de gás natural e petróleo que podem existir no subsolo da fazenda Caraparicito do que em devolver terras aos indígenas. A perfuração e busca pelas reservas naturais começou na fazenda no ano passado.