Os britânicos marcam nesta sexta-feira o primeiro aniversário dos ataques suicidas de Londres, enquanto o chefe da polícia da cidade alerta para um aumento da ameaça de outra explosão do tipo. Um ano depois que quatro jovens britânicos muçulmanos explodiram bombas em suas mochilas dentro de trens do metrô e de um ônibus, matando 52 pessoas e ferindo outras 700, o comissário da Polícia Metropolitana, Ian Blair, descreveu a ameaça como "cruel".
"Há, no momento em que falamos, gente na Grã-Bretanha planejando mais atrocidades", disse ele à Rádio BBC. "Desde julho, a ameaça cresceu de forma palpável".
Muitos londrinos colocaram flores no local dos ataques de 7 de julho de 2005 e o clima era de resignação e desafio.
"Eu estava aqui. Poderia ter sido eu, então tenho sorte de estar vivo e de lembrar aqueles que não tiveram tanta sorte", disse Robert Andrews, de 29 anos, que estava em um dos trens atacados.
"Sei que pode acontecer de novo, mas não me preocupo", disse ele à Reuters. "Tenho que continuar a vida".
No que parece ser um ato programado para aumentar o terror, um vídeo divulgado na quinta-feira mostrava um dos suicidas, Shehzad Tanweer, lendo seu testamento antes da morte. O vídeo, inédito, foi transmitido pela rede de televisão Al Jazeera, do Catar, e mostrava também o vice-líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahri, sugerindo uma ligação entre a rede e os suicidas.
SEM ACUSAÇÕES - A polícia não acusou ninguém em relação aos ataques, apesar da ampla investigação, e isso aumenta a sensação de insegurança. O governo britânico afirma que tem poucas informações sobre as razões dos suicidas, sobre seu possível treinamento no exterior e sobre a suposta ligação com a Al Qaeda.
Uma pesquisa da Pew Global Attitudes Project, divulgada em Washington na quinta-feira, mostrou que 42 por cento dos britânicos estão preocupados com um crescimento do extremismo islâmico na Grã-Bretanha, em comparação aos 34 por cento de um ano atrás.
Vivem na Grã-Bretanha 1,8 milhão de muçulmanos e muitos deles sentem que a polícia vem atacando sua comunidade de maneira injusta desde os ataques. Duas operações antiterrorismo fracassadas, em que a polícia matou dois inocentes a tiros, um deles o brasileiro Jean Charles de Menezes, não ajudam a melhorar este sentimento.
Sobreviventes dos ataques dizem que o relatório oficial sobre o caso, publicado em maio, não responde a todas as perguntas. Muitos querem uma investigação pública aberta sobre o evento que, a exemplo dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, ficou conhecido na Grã-Bretanha pela data -- 7/7.
O primeiro-ministro Tony Blair, cuja decisão de mandar tropas ao Iraque e ao Afeganistão foi citada por Tanweer e por alguns analistas como o motivo dos ataques, vai tentar tirar a atenção das críticas e participa dos 2 minutos de silêncio nacional ao meio-dia (8h de Brasília).
Foram acesas velas de memórias às 8h50 e às 9h47 (4h50 e 5h47), horários das explosões, sob o domo da Catedral de St. Paul, sob o som da batida de um sino. Também serão inauguradas placas comemorativas perto dos locais das bombas.