Exatamente 25 anos depois da aparição do primeiro caso documentado de aids, a luta contra a doença continua com altos e baixos, devido à propagação do vírus nos países em desenvolvimento e ao surgimento de remédios cada vez mais efetivos.
A "gigantesca" 16ª Conferência Internacional sobre a Aids, realizada em agosto de 2006 na cidade canadense de Toronto, deixou claro que o mundo do vírus da imunodeficiência humana (HIV) causador da aids está dividido em duas realidades.
De um lado estão os países em desenvolvimento, especialmente a Ásia e a África Subsaariana, onde, apesar dos progressos nas últimas décadas, apenas 24% das pessoas infectadas com o vírus recebem tratamento para lutar contra a doença.
No outro extremo aparecem os países desenvolvidos, onde os pacientes têm um maior acesso a remédios. Os produtos disponíveis são mais recentes e, portanto, mais efetivos no combate ao vírus.
Um estudo publicado nos EUA assinalava que um americano infectado com o vírus da aids tem hoje uma esperança de vida em média de 24 anos, quando nos anos 90 era de cerca de 10 anos, números que podem ser aplicados para os outros países desenvolvidos.
Os novos remédios - desde meados dos anos 90 mais de 20 novos produtos anti-retrovirais surgiram na América do Norte - transformaram a aids em uma doença crônica na imensa maioria dos Estados ricos.
Os avanços em pesquisa, a maior distribuição de remédios e as maciças campanhas educativas permitiram que a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmasse este ano que, apesar dos 4,3 milhões de novas infecções registradas em 2006, a epidemia mundial de aids está começando a diminuir.
A OMS estimou em 39,5 milhões o número de pessoas no mundo inteiro com o vírus (1,7 milhão na América Latina) e em 2,9 milhões as que morrerão por causa da aids, números ligeiramente inferiores às de 2005.
A maior preocupação é com a África Subsaariana, onde foram registrados 2,9 dos 4,3 milhões dos novos contágios em 2006, com a África do Sul (país no qual mais de 800 pessoas morrem por dia devido à aids), China e Índia, onde se teme uma explosão de casos nos próximos anos.
Diante do panorama, são feitos esforços para aumentar a prevenção do HIV e para a busca de uma vacina, que o enviado especial da ONU para a aids, Stephen Lewis, considerou "a única cura" contra a doença, durante uma entrevista à Efe.
O problema é que, segundo Lewis, a vacina não estará pronta antes de 2016, e por enquanto são necessárias outras medidas.
Entre as idéias mais discutidas em 2006 estão o desenvolvimento de germicidas, o aumento do uso de preservativos e as campanhas maciças de circuncisões.
Os germicidas, cremes que as mulheres poderão usar à vontade e que seriam uma barreira para impedir a penetração do HIV, receberam o incentivo da Fundação Bill e Melinda Gates, que destina dezenas de milhões de dólares por ano em pesquisa.
O casal Gates, assim como o ex-presidente americano Bill Clinton, também aproveitou a Conferência Internacional de Aids de Toronto para insistir no uso do preservativo como forma de prevenção, apesar da oposição cultural em muitos países ou da Igreja Católica.
A terceira ferramenta preventiva seria a circuncisão masculina, já que um estudo realizado em 2005 assinalou que a taxa de redução de infecções entre homens circuncidados é de 60%.
Apesar dos progressos, Stephen Lewis emitiu uma dura análise sobre a situação da luta contra a aids: "suponho que a História condenará com dureza a indiferença humana e a negligência criminal, especialmente por parte do mundo ocidental".