Já diziam os ingleses que “foreign policy is trade policy”, ou seja, que “política externa é política comercial”. Mas tudo tem limite. Política e diplomacia precisam ser coerentes para que negócios e interesses econômicos coadunem com princípios constitucionais.
Ao que tudo indica, o Brasil está caminhando para posição privilegiada e hegemônica na América do Sul, ampliando sua participação em mercados de países vizinhos, como a construção de estrada em terras bolivianas e usina hidrelétrica na fronteira equatoriana, com o objetivo de descobrir novas rotas de escoamento de seus produtos e para aumentar sua capacidade industrial e energética.
Mas o estreitamento das relações com Venezuela na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e com Cuba, a partir de investimentos do BNDES no Porto de Mariel, também levanta dúvidas políticas. A Venezuela até agora não investiu o que deveria nesta parceria.
É bom lembrar que Evo Morales nacionalizou, no governo Lula, projetos de gás da Petrobras em detrimento dos interesses brasileiros.
Em relação ao Paraguai, também são preocupantes as ameaças feitas aos 350 mil “brasiguaios”, que cultivam produtivamente terras perto da fronteira brasileira. Mas até agora o companheiro e presidente Fernando Lugo nada fez para fazer respeitar a ordem e defender os brasileiros que ali se instalaram antes da Lei de Fronteira, de 2007.
Ninguém duvida de que Cuba se prepara para abandonar o socialismo econômico devido à asfixia industrial, ao isolamento e à falta de apoio das ex-potências comunistas para aderir ao capitalismo de Estado.
Faltam produtos básicos à população cubana e a única solução seria realmente encontrar novos parceiros econômicos para enfrentar uma transição pós-Fidel Castro.
Os sinais da abertura econômica são claros e a visita recente da presidente Dilma Rousseff ao Porto de Mariel coroou a parceria com Havana por meio de investimentos brasileiros da ordem de US$ 640 milhões de um total de US$ 900 milhões.
Certamente, a iniciativa brasileira representa oportuna e bem-sucedida aposta de conquista de mercados. Além do potencial promissor para as exportações brasileiras, teremos chance de participar de porto com localização geográfica estratégica, já que as empresas ali instaladas terão acesso a mercados privilegiados, incluindo o americano, caso seja suspenso o embargo decretado contra Cuba, há 50 anos.
As perspectivas de abertura política do regime cubano por parte de Raúl Castro são desconhecidas, mas com base nos últimos acontecimentos, percebe-se que a linha dura impera.
Se uma blogueira e militante, como Yoani Sánchez, ameaça este regime a tal ponto de ter sido impedida de viajar para Jequié, na Bahia, para participar do lançamento do filme Conexão Cuba-Honduras, supõe-se que as autoridades cubanas tenham realmente o que esconder. E não deve ser nada abonador.
Se de um lado, a questão da defesa dos direitos humanos deve ser tratada do ponto de vista multilateral, como disse corretamente a presidente, referindo-se às violações cometidas pelos EUA contra prisioneiros na Base de Guantánamo, por outro, não se pode descartar tampouco a falta de liberdades básicas na ilha de Fidel.
Regime, que não permite oposição e imprensa livre, está condenado à morte e à força para sobreviver.
“Todo aquele que emite uma crítica é imediatamente tachado de terrorista ou amoral. São acusações difíceis de ‘desmentir’ num país onde a cada dia a maioria dos cidadãos tem que cometer várias ilegalidades para sobreviver, como comprar leite no mercado negro ou ter antena parabólica”, diz o texto de Yoani em homenagem a Wilman Villar Mendoza.
Mendoza, de 31 anos, morreu, no dia 19 de janeiro, de greve de fome por protestar contra sua prisão durante manifestação pacífica, em 2 de novembro de 2011
Não podemos jamais confundir nossos interesses econômicos e estratégicos com princípios ideológicos, mesmo que haja simpatia política por regimes que já foram, no passado, alvo de admiração e exemplo.