Que a pobre Grécia, apesar de seu rico patrimônio histórico, não teria condições econômicas, nem políticas para integrar a União Europeia e a zona do euro já se suspeitava, desde sua admissão, em 1981. Mas o que não se sabia realmente era que os organismos e líderes europeus pudessem perder o controle da fiscalização dos déficits públicos internos de países, como Grécia, Itália, Portugal e Espanha, permitindo que a fragilidade destas economias arrastasse todo o sistema europeu para uma crise sem precedentes no Velho Continente.
Nem a França escapou: seu presidente Nicolas Sarkozy anunciou, há dias, severo plano de austeridade, que inclui congelamento de seu salário e de seus ministros.
Os prognósticos da Comissão Europeia, organismo executivo, são preocupantes: os principais indicadores econômicos, incluindo Produto Interno Bruto e taxa de desemprego, apontam para a estagnação econômica com consideráveis riscos de recessão. As taxas de desemprego deverão permanecer altas no nível de 9,5%. Apenas em 2013, espera-se uma leve recuperação do PIB da ordem de 1%.
A crise é, sem dúvida, econômica provocada por líderes fracos que não souberam controlar suas dívidas e bancos. Indisciplina fiscal, descontrole das contas públicas e mesmo fraude dos balanços sobre endividamento resultam da falta de dever de casa dos governos europeus, que, tampouco, foram cobrados.
Se repararmos as soluções, que varreram para o lixo da História os governos de George Papandreou, na Grécia; de Silvio Berlusconi, na Itália; de José Sócrates, em Portugal, entenderemos que estes líderes foram incapazes de levar adiante os planos de austeridade indispensáveis para a liberação de fundos para salvar suas economias. Existem também críticas sobre como o modelo neoliberal do capitalismo se apressa a salvar bancos e empresas, enquanto trabalhadores perdem emprego e salário.
De seu lado, a própria UE tropeçou no emaranhado de leis e instituições burocráticas, em Bruxelas, e demonstrou letargia para deter a bola de neve que crescia ladeira abaixo.
As cifras são astronômicas e não se sabe qual é exatamente o fundo do poço. Em troca de rigorosas medidas, a Grécia terá injeção de 130 bilhões de euros até 2012, enquanto o Senado italiano acaba de aprovar pacote de redução de 60 bilhões de euros nas contas públicas com forte impacto na vida social do país. Medidas, como congelamento dos salários do funcionalismo público, aumento da aposentadoria das mulheres para 60 anos, em 2014, combate à sonegação fiscal e novo imposto sobre o setor energético, serão adotadas pelo provável novo primeiro-ministro Mario Monti.
Na Espanha, a situação merece atenção também. O atual primeiro-ministro Jose Luis Zapatero, que antecipou eleições gerais em quatro meses para 20 de novembro, deverá ser certamente derrotado pelos conservadores.
Embora ninguém tenha bola de cristal para prever o futuro, como me foi dito por um assessor da Delegação Europeia, em Brasília, é possível que alguns países com menor potencial de reorganização financeira, como é o caso da Grécia, cuja economia gira em torno do turismo, agricultura, construção civil e construção naval, tenham poucas condições de continuar integrando a zona do euro. Este limite deverá ser dado pela UE, cujos fundos de ajuda aos “náufragos” não é infinito.
A integração europeia, desde 1951, talvez tenha sido exageradamente ambiciosa e veloz ao abranger complexidades internas de cada país sem garantias. Desde 2007, com a adesão da Bulgária e Romênia, do Leste Europeu, o total chegou a 27 países-membros.
Está mais do que na hora de ajustar os padrões de adesão e apertar as finanças europeias, antes de deixar a porta aberta para Croácia, Islândia, Montenegro, Macedônia e Turquia. Já está confuso demais.
A Grã-Bretanha deve estar gostando de não ter adotado o euro.
Ranulfo Bocayuva l Jornalista e editor-executivo do Grupo A TARDE