AG. AFP
Meninas recrutadas nas favelas de Nairóbi, crianças prostituídas em bares de Bangcoc e nas praias do Rio de Janeiro... o turismo sexual prossegue com sua devastação, alertaram neste sábado dirigentes de ONG e viajantes que fazem uma frente comum contre este flagelo.
Cerca de três milhões de crianças são vítimas a cada ano da exploração sexual no mundo e, num total de 842 milhões de turistas, 10% escolhem seu destino em função da "oferta" em matéria de sexo, segundo um relatório publicado por ocasião do primeiro Dia Mundial por um Turismo Responsável.
"Apesar de uma tomada de consciência que aumenta, o turismo sexual progride na medida em que o número de viajantes no mundo não pára de crescer", comentou Frédéric Leroy, coordenador de uma conferência organizada neste sábado sobre o assunto no auditório da Air France no aeroporto parisiense de Roissy-Charles de Gaulle.
O turismo mundial está em plena florescência: o número de turistas no mundo deverá passar para 1 bilhão em 2010 e 1,6 bilhão em 2020, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT).
A democratização das viagens nos países do Norte, conjugada à miséria crescente e a fraca escolarização de crianças nos países do Sul, favorecem o turismo sexual, segundo os participantes da conferência.
O fenômeno se espalha em numerosos países emergentes que desenvolvem sua oferta turística como Marrocos, Hungria, República Tcheca ou Lituânia; a Ásia (Tailândia, Flipinas, Indonésia...) é o continente mais atingido.
No Cambodja, 44% das meninas prostituídas tiveram a primeira relação sexual com turistas, encontrados nos bares, nas casas de massagem, segundo um estudo apresentado pela associação AidéTous, comprometida na luta contra o turismo sexual que envolve crianças.
"A demanda de turistas pela satisfação da fantasia de deflorar uma mulher virgem faz aumentar o número de meninas que entram na prostituição", acusa Frédéric Sorge, pediatra e membro da associação.
Homens em maioria, os turistas sexuais são provenientes de todas as camadas sociais. Têm a atitude de "donos do mundo" e "se deixam tentar pelo que consideram uma experiência exótica", sem terem necessariamente antecedentes pedófilos, segundo as associações.
"Em alguns países, como nos Estados Unidos, agências de viagem continuam a propor aos clientes +a aventura e o exotismo+, uma oferta que esconde veridadeiros circuitos de turismo sexual", revela Leroy, fundador da APSEC, uma organização de ajuda a crianças chinesas e cambojanas.
Na França, o Sindicato nacional de agências de viagem (SNAV) se dispõe a sensibilizar seus clientes através de folders distribuídos durante as viagens. "Manter relações sexuais com menores leva à prisão", alerta um filme divulgado nos aviões da Air France.
O Dia Mundial está também sendo observado na África, com conferências na República dos Camarões, Senegal, Togo, Niger e em Burkina Faso. A "Coalizão internacional para um turismo responsável e respeitoso" reúne 277 associações em 85 países.