James Story, cônsul geral dos EUA no Rio de Janeiro
Após dirigir o setor de Programas Internacionais de Narcóticos e Manutenção da Lei do Hemisfério Ocidental, em Washington, o diplomata James Story chegou ao Brasil, no último mês de junho, para assumir o posto de cônsul-geral dos EUA no Rio de Janeiro. É um retorno, pois ele já serviu em Brasília e São Paulo. Graduado em Estudos Interdisciplinares e mestre em Relações Exteriores, Story esteve em Salvador na semana passada (5 e 6/8) em uma viagem que considera de apresentação dos seus objetivos: estreitar, cada vez mais, os laços entre os dois países. O novo cônsul demonstrou segurança para discorrer sobre temas variados, inclusive o momento delicado da economia e política. "Sou de alguma forma otimista. O momento é difícil, mas com o tempo e boa governança, o país pode chegar a crescer novamente".
O Sr. serviu no Brasil duas vezes: uma em Brasília e outra em São Paulo. Agora está no Rio de Janeiro como cônsul geral. Qual a sua análise sobre experiências em lugares no Brasil, mas muito diferentes entre si?
As três cidades têm suas características interessantes. A arquitetura de Brasília foi interessantíssima de ver . São Paulo foi como Nova Iorque: bons restaurantes, trânsito intenso. Aproveitei também, nesse período, para conhecer o sul. Curitiba é uma cidade maravilhosa. Agora, no Rio de Janeiro estou na costa. Sou da costa do sul dos EUA e me sinto ainda mais em casa. Os brasileiros sempre me trataram bem, me sinto acolhido. É um sonho dourado voltar ao Brasil que tem locais tão distintos. Quero ter oportunidade de conhecer toda a Bahia e de ter oportunidades para falar das minhas experiências nos EUA e tornar cada vez mais estreita a relação entre o povo americano e o povo brasileiro.
Esta foi a sua primeira visita a Salvador?
Como cônsul geral, sim, mas estive aqui em outras oportunidades. Fiz um trabalho em Praia do Forte com o projeto Tamar. Acho muito interessante o trabalho deles, que permite salvar as tartarugas marinhas.
O Sr. fez visitas a instituições como o Instituto Anísio Teixeira (IAT) e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Pode surgir desses encontros algum tipo de parceria?
Vim a Salvador em primeira visita como cônsul geral para falar com o prefeito, governador, secretários. Tem um projeto vinculado à Secretaria de Educação em que diretores dos EUA estão aqui trabalhando com os diretores de escolas públicas da Bahia. Meu objetivo também foi falar com os empresários e as organizações que trabalham com eles. Isso faz parte do nosso trabalho. Trabalhamos com o governo, com o setor privado, com o povo, em todos os sentidos.
Para o senso comum o consulado é apenas o local para fornecer visto. O Sr. poderia explicar de forma didática o que é o consulado?
O consulado é a representação do governo americano no que chamamos de distrito consular em todos os sentidos. Não é somente o visto. Nós trabalhamos com empresas norte-americanas que querem investir , vender seus produtos e serviços aqui no Brasil e também encontrar parcerias com empresas brasileiras que desejam exportar ou importar. Também trabalhamos para entender melhor o povo brasileiro e trocar experiências.
Na visita oficial que fez aos EUA, a presidente Dilma Rousseff discutiu com o presidente Barack Obama uma pauta extensa: meio-ambiente; comércio, mas uma coisa que interessa aos brasileiros é a questão do visto. O que pode mudar, de forma mais prática, depois dessa visita?
Uma coisa que os dois presidentes discutiram foi sobre a questão do Global Entry que é um programa voltado para viajante frequentes aos EUA. Também seguimos com a conversa sobre a questão da isenção de visto. Mas é importante destacar que a grande maioria dos brasileiros que pede visto recebe . Estamos falando de mais de 95% das pessoas que pedem o visto.
Por que Recife tem uma representação do consulado americano e Salvador não possui?
(Risos) A pergunta é interessante. Reconhecemos o tamanho da Bahia. Salvador é a terceira maior cidade do país, já foi capital do Brasil. Nossa representação aqui começou em 1809 e acho que seguiu até 1986. Estamos sempre averiguando questões sobre demanda para visto. Vamos abrir novos consulados em Belo Horizonte e Porto Alegre. A Bahia é uma questão sobre a qual sempre estamos estudando.
Vamos agora falar do cenário mais internacional. Os EUA acaba de dar um passo histórico na relação com Cuba com a reabertura das representações diplomáticas nos dois países. Como o Sr. avalia esse novo cenário?
O presidente Obama disse que é melhor abrir essas embaixadas e começar com um diálogo para que os dois países possam tratar de todos os temas e tentar resolver algumas das questões pois, realmente, se passaram muito anos sem conversa. A abertura das embaixadas nos dá mais acesso para falar o que nós, como governo, achamos importante. A questão dos direitos humanos e da liberdade de imprensa, por exemplo, são questões que fazem parte da alma dos EUA. Abrir uma embaixada em Cuba não significa que vamos desistir de falar sobre esses temas. Pelo contrário. Vamos ter mais oportunidades para falar sobre eles.
A imigração em massa é um problema que vem afetando as principais economias do mundo. É uma espécie de sonho dourado conseguir entrar em países como os EUA, Alemanha, Inglaterra. Como o Sr. vê essa questão?
Nos últimos dois anos os EUA está fazendo um trabalho que envolve a questão de garantir direitos para imigrantes que já chegaram. É uma tentativa de resolver a situação de quem está vivendo lá. Mas também queremos incentivar as empresas privadas a gerar mais emprego para melhorar a vida dessas pessoas onde elas estão originalmente. Esse debate é muito amplo nos EUA. Somos um país de imigrantes.
O Sr. teve uma atuação no Afeganistão que tem um cenário complicado. Estamos vivendo dias em que o estado Islâmico ( EI ) tem uma abordagem de terrorismo midiático, inclusive com veículos próprios para divulgar suas ações. Como o Sr. avalia essa nova escalada do terror?
Não é um tema para mim, pois não sou perito nessa questão, mas o que posso dizer é que o governo americano reconhece a necessidade de lidar com essa questão de formas variadas.
O Sr. está assumindo o consulado geral em um momento delicado, no Brasil, em relação a denúncias de corrupção, além de uma crise política que é visível com impactos sobre a economia afinal envolve empresas de construção civil um segmento forte no mercado, inclusive internacional. Como o Sr. que é de fora analisa esse quadro?
Não vou falar sobre processo internos. É uma questão para o sistema judicial resolver. A economia tem alguns problemas devido ao preço do petróleo, da soja, do cobre, a demanda na China e em outros países. Isso faz parte de um ciclo econômico. Mas eu vi o Brasil sair de outras situações no passado. Sou de alguma forma otimista. O momento, agora, é difícil, mas com o tempo e com boa governança, o país pode chegar a crescer novamente.
Nos EUA se vê tantos casos de corrupção com explosão midiática ?
Temos vários casos de corrupção, como um que agora envolve o governador da Virgínia que está preso. Tratamos de uma forma judicial à nossa maneira. O Brasil está lidando com a questão à sua maneira, mas acho que no caso dos dois países há base no sistema judicial. Quanto à economia nós tivemos crises também nos EUA no setor de imóveis. Antes foi no setor de tecnologia. As economias entram e saem desses processos e desses problemas.
Como está a questão da prisão de Guantânamo. Se fala no fechamento.
O presidente (Barack Obama) falou sobre isso, mas não tenho mais informações a respeito. É algo que o presidente quer fazer mas, como qualquer coisa delicada, toma tempo para resolver.
Falando de questões mais amenas: um programa de intercâmbio desenvolvido pelo consulado geral em parceria com o Instituto Mídia Étnica (IME) aqui da Bahia vai levar duas jovens comunicadoras baianas -Alane Reis e Cristiana Fernandes - para Atlanta. Depois vamos receber dois jovens comunicadores de lá. Qual a importância desse programa que já aconteceu duas vezes envolvendo o Rio de Janeiro?
Acho esse tipo de intercâmbio uma das coisas mais importantes que podemos fazer. Aprendemos da experiência com os brasileiros que vão aprender alguma coisa conosco. O impacto disso é algo que, às vezes, não podemos ver de forma muito nítida. Mas, eu por exemplo, estudei na escola secundária com um brasileiro de São José do Rio Preto e foi nesse período que tive vontade de ser diplomata. Estou aqui, portanto, porque um brasileiro viajou e estudou no meu povoado de cinco mil pessoas nos EUA (Moncks Corner, na Carolina do Sul). Não sabemos, como toda a franqueza, qual o impacto que haverá do intercâmbio entre esses jovens mas o que temos que explorar é uma maneira de que, além da relação estreita entre os governos, os dois povos tenham uma compreensão entre si. Por exemplo: que uma pessoa dos EUA saiba que o Brasil não é somente o Cristo Redentor e a arquitetura de Niemeyer, mas também o povo da Bahia, o acarajé de Salvador, a canjica da Chapada Diamantina. O objetivo é sempre estarmos mais próximos.
Em que estágio está o Japper, que é o acordo bilateral Brasil- EUA para o combate ao racismo?
Por questão do acordo e também da própria natureza de nossas relações fazemos algumas coisas paralelas. O acordo é uma base para pensarmos sempre como fazer a inclusão de raça, gênero, de pessoas com deficiência. Trabalhamos muito nas favelas do Rio de Janeiro em projetos de inclusão econômica e social. A inclusão racial é um dos pontos de entrada para falar de temas que são muito importantes para os dois países.