Não parece querer consertar-se a autoridade, disposta a atrapalhar, sem trégua, os esforços em imunizar a população | Foto: Sergio Lima | AFP
Insistir no erro, quando implica a morte de milhares de pessoas, seus compatriotas, representa uma escolha negativa, alcançando dimensão imoral, pela descabida persistência. Os erros são variados, enquanto a verdade é uma só, evidenciando-se, no tempo presente de uma pandemia, no dever de um governo sério e comprometido com sua gente, trabalhar para garantir as vacinas, em vez de desacreditar a ciência.
Ao contrariar posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um órgão federal, querem os gestores persistir no estado doxástico – opinião – , negligenciando a chance de operar no campo epistemológico, como pede o contexto.
Chega à raia da teimosia a cantilena do presidente Jair Bolsonaro, ao tentar assumir inapropriados ares de cientista, sem o mínimo estudo capaz de autorizá-lo a desafiar os pesquisadores doutores em suas áreas de atuação, visando produzir a melhor vacina. Ao manter-se em posição de combate, sugere o chefe de Estado a hipótese de nutrir interesses inconfessos, ao remar a favor da continuidade dos efeitos da pandemia, gerando despopulação diária de parte mais desamparada do país.
O conhecimento é provisório e refutável, ao contrário do dogma, petrificado na inflexibilidade à qual apegar-se o presidente em sua esquisita e despropositada certeza de viés mórbido. De algo, não se deve, entretanto, questioná-lo: a coerência em indispor-se contra os cientistas segue comportamento extemporâneo de incentivo às aglomerações e rejeição ao uso de máscaras, atitudes demonstrativas de desprezo pela vida.
Não parece querer consertar-se a autoridade, disposta a atrapalhar, sem trégua, os esforços de verdadeiros patriotas em imunizar a população, parte dela composta de seus seguidores. Trata-se da tragédia de um país vitimado por intransigência de seu presidente, uma vez sabermos ser mais eficiente a vacinação, se levada a termo pela coletividade, não sendo escolha individual tomar ou não o imunizante, por conta de seu necessário efeito social.