Não é fácil encontrar o equilíbrio entre interesses tão distintos, que incluem a busca de lucro e o impacto sobre o cidadão | Foto: Genilson Frazao | Divulgação
O brasileiro enfrenta, somente neste ano, o terceiro aumento nos preços dos combustíveis praticados pela Petrobras. Nem bem chegou-se à metade do segundo mês do ano e os sucessivos reajustes produzem repercussão imediata no mercado, acompanhando a desconfiança sobre a qualidade do produto pouco fiscalizado.
No acumulado do ano o reajuste da gasolina chegou a 22%, figurando entre os atuais enigmas dos tempos atuais, difíceis de decifrar. Afinal, como defender a autonomia das empresas, ao tabelarem seus preços, sem considerar o forte impacto sobre o cidadão?
Não é fácil encontrar o equilíbrio entre interesses tão distintos, que incluem toda a cadeia de distribuição e revenda em busca de lucro, e os donos de veículos, conscientes do exagero. Ao Estado, restaria conceder, permitindo-se a revisão da tributação, mas alegam os gestores terem de reduzir investimentos em áreas prioritárias, pois o erário seria inevitavelmente atingido.
Para quem conhece a história da Petrobras, desde a campanha ‘O petróleo é nosso’, é de estranhar a adesão da empresa a uma lógica baseada na arrecadação de recursos a ser distribuídos aos acionistas. Na hierarquia de valores da cobiçada empresa, os reflexos de suas decisões relacionadas à segurança financeira da cidadania passaram a patamar inferior, dificultando encontrar a chave de um negócio bom para todos.
Acossado pelos caminhoneiros, impacientes com a elevação do preço do diesel, o presidente Jair Bolsonaro transferiu a solução para os estados, com a proposta de redução do ICMS a fim de controlar os preços nas bombas. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu zerar o PIS/Cofins incidente no preço, embora tenha alertado o corte de R$ 575 milhões de arrecadação a cada centavo a menos, ameaçando setores como saúde e educação.
Responder a esta medusa, sem fitar-lhe os olhos, é como um décimo-terceiro trabalho de Hércules, pois seria feito heroico conciliar perspectivas dos donos de postos, consumidores, frentistas, Estado e sociedade em idênticas proporções de ganhos e perdas.