Os processos de indenização arrastam-se em infame morosidade, enquanto credores vão a óbito, sem obter reparação | Foto: Freepik
Um dos benfazejos efeitos da sensação de justiça praticada é a reparação dos danos causados a uma vítima, elevada esta percepção de alívio, quando são centenas delas, mas em contraste, o desapontamento é gigantesco em caso de sucessivos adiamentos. Embora trate-se de abstração impossível de materializar, a decepção traz o ressentimento da dor para os moradores de Mariana, em Minas Gerais, sobreviventes da tragédia de 2015, quando o rompimento de barragem transformou em lama a vida de cidadãos.
O novo prazo para entrega dos reassentamentos das comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo venceu, em mais uma demonstração da famosa tese de embaixador brasileiro na França, segundo a qual o Brasil não seria um país sério. A Fundação Renova, criada com objetivo de gerir a reparação, é tida como a vilã neste enredo entristecedor para aqueles cujo gosto de viver virou amargura, a partir do desastre ambiental, página escrita à tinta grená do sangue perdido de pessoas indefesas.
O Ministério Público de Minas Gerais havia fixado o prazo de entrega das casas e obras de infraestrutura para março de 2019, mas uma outra decisão judicial a postergou, com data de 27 de agosto de 2020, e um segundo adiamento estabeleceu 27 de fevereiro, hoje. Mas ainda não será desta vez a entrega das casas, expondo-se a apenada a uma multa diária de R$ 1 milhão, se o Judiciário não mudar de rumo outra vez, descumprindo a missão reparadora para a qual deve a necessidade de seu funcionamento.
Apenas cinco das 210 casas no novo Bento Rodrigues estão de pé, nenhuma em Paracatu, ampliando o sofrimento de quem viu o mundo tingir-se de marrom, com o rompimento da barragem de Samarco, propriedade das companhias Vale e BHP Billiton. Além da lentidão, em nova projeção de conclusão de 64 casas, no total, até o final do ano, os processos de indenização arrastam-se em infame morosidade, enquanto credores vão a óbito, sem obter a reparação para se poder dizer fez-se justiça, afinal, após a tragédia.