Ao desistir de tão desditosa ousadia, o ministério não deixou de passar mensagem persecutória | Foto: Marcos Oliveira | Agência Senado | 6.2.2015
Na mesma medida de o aparecimento das sombras estar necessariamente relacionado a alguma fonte de luz, a censura contrasta com a livre manifestação de ideias, como pode-se verificar na refrega recente entre o obscurantismo e a aurora nascida das universidades. O Ministério da Educação (MEC), em arroubo de coragem observado apenas nos períodos de trevas da história deste país, enviou ofício ameaçando os acadêmicos por uma suposta imoralidade administrativa, oriunda de atos qualificados como “políticos”.
Precisou o Ministério Público Federal entrar em ação, pedindo explicações para o ataque, provavelmente inspirado em Lyssa, a deusa da loucura, pois a sensatez passou bem distante de tão hediondo mergulho no lodaçal de mais abjeta escuridão.
Vocacionado para a grandeza, o Brasil não compactua com a miúda percepção do ministério, pois as manifestações por ele apontadas como “imorais” fazem parte do jogo democrático há 25 séculos, desde as polis – primevas povoações na Antiguidade Clássica. Vergou-se a maldita cobrança ao condão iluminado das forças heroicas, assinando o senhor secretário de Educação Superior, Wagner Vilas Boas de Souza, um segundo documento, desmentindo o anterior, como tem sido praxe nas sinuosas ações do governo.
Preocupavam-se os adeptos do breu com atos adesivados de político-partidários nas dependências das instituições, onde os valores do conhecimento e da moderação podem, eventualmente, sinalizar trilhas mais apropriadas para o desenvolvimento do país.
Ao desistir de tão desditosa ousadia, remontada às agressões sofridas pela classe produtora de saber, nos frequentes períodos ditatoriais, o ministério não deixou de passar mensagem persecutória, sinalizando emergência de mais união na comunidade científica.
A imbatível autonomia dos novos liceus precisa da tranquilidade e da proteção do Estado, em vez de ameaças provenientes do submundo contraído pela raiva, à guisa de enfermidade, em epidemia cuja vacina seria a humildade de respeitar os pesquisadores.