Deputado Pastor Isidório, candidato do PDT à prefeitura
Sem recursos para a campanha, o irreverente deputado Pastor Isidório de Santana (PDT), candidato à prefeitura, bola suas próprias peças de propaganda e avalia que conseguirá ganhar a eleição. Diz que o atual prefeito entrava as obras do governo estadual ao negar alvarás e que a campanha de Neto simula até que ele sabe jogar capoeira. O senhor sempre disse que sua vida e trajetória são pautadas pela Bíblia, mas o Livro Sagrado tem algumas condenações duras, como a que preconiza o Levítico 20:13, que condena à morte os homossexuais... A morte que a Bíblia fala não é a morte violenta, não é tirar a vida das pessoas, é a morte espiritual para nós que cremos no espírito de Deus.
Ele (o pecador) morreria para a igreja, então?
Isso, morre para a igreja, morre para a fé. A Bíblia chega a dizer que Deus é inimigo do homossexual. Porque Deus nos criou à sua imagem e semelhança e Deus só aceitou perder a plenitude quando Adão relacionou-se com Eva. Aí ele regulamentou. "Olha, eu os criei só para me adorar". Mas, quando eles tiveram relação sexual, Deus disse: "Me deram 1 a 0". Aí ele os mandou casar para se tornar um corpo só.
Esclareça o eleitor: você vai se pautar pela Bíblia caso seja eleito prefeito?
Não, porque não estou sendo candidato a padre, nem a bispo, nem a pastor. Quando você se torna prefeito, é prefeito de todo mundo. Do candomblé, onde eu manifestava com Logun-Edé, com Oxum, tinha erê, caboclo, tudo isso. Larguei lá pessoas maravilhosas. Tem o catolicismo, onde minha esposa era professora de padres e freiras. O meu candidato a vice-prefeito, Luiz Bassuma, é espírita. Então, tem todas as religiões. Mas o dinheiro é público. Como deputado, sou assim. Quando você é prefeito, não é privado, como o senhor está vendo aí as pessoas administrando Salvador, como se fosse cidade privada. É o estacionamento privativo, roubando o povo. Perceba que o estacionamento aqui tem dono. Eles financiam campanha. Você está vendo os chupa-cabras e tome-lhe multas. As empresas faraônicas de guincho, aquilo é um esquemão miserável.
O senhor pretende rever isso?
Claro, não tem jeito. Não tem como pegar Salvador toda e transformar em zona azul. As pessoas não podem ir mais em lugar algum. É como se fosse uma ditadura: ande a pé porque com carro você vai gastar. Sem falar que guincham seu carro. Aí você tem que pagar R$ 390, R$ 400 de guincho.
O carro do senhor foi guinchado, não é isso?
Pois é. Meu carro foi preso por um tirano aí, pois foi ordem superior, tem um tirano atrás disso.
Quem é o tirano?
O gestor da cidade. O carro, uma Topic que fazia campanha contra as drogas, era novo, tudo pago. Se o problema foi com o motorista e houve desacato, tudo bem, prendia em flagrante. O carro, não.
Na prefeitura o senhor pretende ampliar seu projeto de atendimento a dependentes químicos da Fundação Dr. Jesus?
A prefeitura tem que ser desconectada tanto da minha vida religiosa como da minha vida de dono de hospital de dependência química. Me perguntam: o senhor vai trazer a fundação para Salvador? Não. Não vou transformar Salvador num centro de recuperação. Não estou vindo administrar drogados. Faço isso na Fundação Jesus.
Mas nos postos de saúde haverá esse atendimento?
Sim. Já existe, mas é de mentira, aquele negócio do Capes. Os caras saem com sacola de comprimidos, chegam no primeiro bar tomam um copo de cerveja com comprimidos. Depois, aparecem na fundação todos trepidando, com olhos vitrificados, impregnados de rivotril. Lá, eu apresento o melhor remédio do mundo, deustril e espiritosantotril. Tenho lá a "missionária" Teresa, o porretetril. A psicóloga é uma barra de ferro.
O que o senhor está achando da propaganda de TV do prefeito ACM Neto?
O marqueteiro dele é sabido como uma zorra. Mas é de maquiagem. Você vê ele (Neto) tentando jogar capoeira. Eu quero chamar ele para o Terreiro de Jesus.
O senhor sabe jogar capoeira? Está desafiando o prefeito?
Jogo um pouquinho. Eu o enfrento com os dois braços amarrados para trás. E aí a gente vai saber quem é o original e quem é o paraguaio. O marqueteiro colocou ele também tentando assentar bloco. Quero que ele vá na fundação para ver eu ensinando. Temos cursos profissionalizantes de edificações públicas.
Quais as críticas que o senhor faz à gestão do prefeito? Obras só na orla?
Isso aí está exposto. A obra de R$ 70 milhões no Rio Vermelho está lá para quem quiser ver. O que houve ali? Só fez trocar piso por piso. Como é área nobre, o piso tem que ser de mármore. E as periferias? Você viu que o governador Rui Costa fez as avenidas Orlando Gomes, Pinto de Aguiar, meio mundo de viaduto: R$ 170 milhões. Olhe que volume de obras grande. Você chega numa praça no Rio Vermelho ou área nobre e gasta R$ 70 milhões. É uma piada.
O senhor está insinuando superfaturamento, como fez a candidata Célia Sacramento? Cuidado que o prefeito pode processá-lo também...
Meu nome é processo. No dia que não sou processado não durmo. Me processam porque dizem que sou doido, que moro no meio de drogados. Vou continuar com isso até a minha morte.
Em relação a esse seu slogan, ao se assumir doido, não cria uma confusão para o eleitor, que pode questionar como uma pessoa sem sanidade mental pode administrar a cidade?
Cê tá pensando que o eleitorado é besta? Você iria fazer uma entrevista com um doido? O jornal iria permitir? Nunca vi alguém fazer com quem rasga dinheiro, com quem come cocô, com quem dá paulada e pedrada. O povo sabe que doido não tem sete filhos. Doido não toma conta de 1.200 pessoas com cursos profissionalizantes.
Em relação ao programa eleitoral do prefeito, o senhor não acha que um filme bem-feito influencia os eleitores?
Lamentavelmente ainda engana muita gente. Mas estou lhe dizendo que o povo de Salvador não é bobo. Olhe as pesquisas. Em três eleições na Bahia, toda vez que o cabra está na frente perde no primeiro turno. Tem três eleições que o Ibope está transformado em Ibosta. E esse outro instituto, o Paraná, de quem é? Quem está por trás dessa manipulação? Tem cinco ou seis dias que o Ibope disse que Neto tinha mais de 60% na intenção de voto. Chega agora, no Paraná, está na faixa dos 40%. Ou seja, vai perder a eleição. O povo não aguenta mais tirania e opressão.
Como o senhor vai tratar a questão dos camelôs? Na época de João Henrique não havia ordenamento no centro da cidade. Agora ficou mais organizado.
Qual organizado? Batendo em todo mundo? Não pode ficar nem tanto nem tão pouco. Nem vai para a bagunça total nem pode ir para a violação dos direitos. Uma coisa é conversar com o camelô, dizer a ele que não pode ficar ali, outra é levar a mercadoria da pessoa para um pátio, roubando a mercadoria das pessoas. Isso é molequeira. Homem de bem não vai permitir que se tome a mercadoria de alguém, isso é furto. Se o povo quer voltar de novo para o tempo do arbítrio...
O senhor tem criticado também o que chama de altos impostos cobrados pela prefeitura.
Existe uma fome insaciável de dinheiro. De quem são os grandes patrimônios da Bahia? Por que se multiplicou o patrimônio do atual prefeito em quatro anos? Estou no terceiro mandato de deputado e pode olhar meu patrimônio. Dou até o número da minha cueca, não tem problema nenhum. Tudo que eu tenho invisto na Fundação Dr. Jesus para quando eu morrer, morrer com tranquilidade.
Como está sua campanha em termos de recursos?
Lascada.
E como consegue fazer a campanha?
Eu pulo, eu canto. Paro nas sinaleiras. Outro dia parou uma Cherokee cabine dupla e o motorista disse: de doido você não tem nada. E a filha dele completou: eu sei. É uma campanha de inteligência, não tem dinheiro, mas está dando certo. Quem não tem dinheiro conta história.
O senhor é um grande marqueteiro. Tem marqueteiro profissional na sua campanha?
Não, eu bolo tudo. Lá (na campanha de Neto) ele faz maquiagem, eu sou original.
O senhor tem uma proposta pouco convencional para enfrentar o tráfico de drogas. Como é isso?
A repressão ao tráfico não funcionou. Tanto é que quando uma viatura quer entrar num bairro tem que pedir licença. O que custa, como ultimato, chamar esses vendedores de drogas? E dizer: velho, está na hora de acabar com tanta morte. Não dá, é preciso estabelecer um pacto, não interessa matar você e você matando os filhos dos outros.
E como o senhor acha possível firmar esse pacto?
Conversando. Não é na metralhadora. Quando morre um traficante, já tem dez para tomar a "boca de fumo". Adianta? O problema é que o tecido social foi fragilizado. A gente precisa de estudo, escola integral.
No seu programa o senhor disse que será transparente. Dê um exemplo disso.
As comissões de licitação vão funcionar numa sala com auditório para quem quiser acompanhar, com representante do Ministério Público, da Polícia Federal, do TCM, da imprensa. Essa coisa de terceirização de serviços vai acabar. A prefeitura não compra mais um carro, que tudo é locado. Atrás dessas locações tem tanto esquema pesado levando dinheiro do povo...
Haverá parceria com o governador Rui Costa, que lhe convenceu a ser candidato a prefeito?
Só em eu liberar os alvarás do município para o governador trabalhar já vai ser muito bom ser prefeito. Porque o metrô está atrasando porque é a prefeitura negando alvará. A passarela do Iguatemi com a rodoviária está podre. A nova passarela devia estar pronta, mas negando alvará (não fica).
Por que o senhor acha que o prefeito faria isso?
É uma campanha antecipada ao governo do estado, para tomar o governo da mão de Rui. Ele atrasa as obras prejudicando a cidade toda, prejudicando o governador.