Imagem retocada no Photoshop termina sendo um tiro no pé
"Enganaram-me". O lamento do jovem Dom Pedro II, então com 18 anos, ao ver pela primeira vez - em carne e osso - a esposa Teresa Cristina, pode ser trazido para os dias atuais, 171 anos depois. No lugar do imperador, o eleitor; nas vezes da imperatriz, os candidatos.
Dom Pedro só conhecera a futura esposa por retratos de artistas, que a pintaram muito bela. Mas qual não foi a decepção do monarca ao ver desembarcar no Brasil a napolitana, quatro anos mais velha: era baixa, acima do peso e manca. "Enganaram-me", lastimou Dom Pedro, entre lágrimas, contam os historiadores.
E como são belos os candidatos cujas imagens estão espalhadas pelas ruas, nesta corrida eleitoral. Todos com pele de porcelana, dentes branquíssimos e alinhados, sem sinais ou verrugas no rosto. Mais parece que buscam um novo amor e não votos. Não têm bons pintores à disposição tal como Teresa Cristina, mas abusam de uma ferramenta mais moderna: o photoshop.
Publicitário e designer gráfico da agência Catavento, Marcio Zachariades diz que as principais alterações dos candidatos nos materiais de campanha são de rejuvenescimento. "Quase todos perdem as rugas, e alguns chegam ao ponto de parecer feitos de porcelana. Quase todos que vieram pessoalmente aqui não foram reconhecidos pelos meus colegas, por exemplo", disse.
O publicitário citou ainda um episódio que considerou emblemático. "Um caso particular que peguei há dois dias (a entrevista foi concedida na quarta-feira, por e-mail) é de um deputado que tinha sua cabeça inserida no corpo que não era o seu", revelou Zachariades.
Para ele, as alterações drásticas nas peças - uma exigência que parte dos candidatos - "refletem as mentiras que promovem ao falar, apenas para ganhar alguns votos", avaliou o publicitário.
Figurinha repetida
O diretor comercial da agência Camisa da Latinha, João Neto, diz que há candidatos que usam as mesmas fotos de quatro ou até cinco eleições anteriores.
"Se olharmos como o candidato está atualmente, é claro que não é a mesma pessoa", ressalta o diretor, cuja agência faz as peças para pelo menos 60 candidatos.
Neto, entretanto, explica por que são "suavizadas" algumas marcas no rosto dos candidatos. "Alguns têm pés de galinha ou sinais no rosto que precisam ser suavizados. Como as imagens são ampliadas, estes sinais chamam muito mais a atenção", explica o gerente comercial.
João Neto, porém, afirma que estas suavizações devem ser feitas com critério, para que os candidatos não fiquem com as faces "plastificadas". "Mas nem todas as agências têm este 'know-how'", avalia.
João Neto preferiu não dizer quanto gastam os candidatos com as peças - estima-se que campanhas para deputado estadual e federal custem entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões. Certamente muito mais que os quadros de Teresa para encantar Pedro II.