No mês em que o escândalo do mensalão completou um ano, a Câmara deverá absolver mais um parlamentar acusado de ter sido beneficiado com dinheiro do esquema. Com a votação do processo de cassação de Vadão Gomes (PP-SP) nesta quarta-feira, deverá subir para 11 o número de deputados absolvidos nos julgamentos do plenário. Até agora, dos 15 deputados que foram processados pela Casa, apenas três foram punidos com a perda de mandato: Roberto Jefferson (PTB-RJ), José Dirceu (PT-SP) e Pedro Corrêa (PP-PE). Do chamado grupo dos mensaleiros, ainda falta ser julgado o deputado José Janene (PP-PR), além de Gomes.
Gomes foi acusado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, os supostos operadores do esquema, de ter recebido R$ 3,7 milhões das contas do empresário. O primeiro relator do processo no Conselho de Ética, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), apresentou dados de quebra de sigilo telefônico para pedir a perda de mandato de Gomes. Nas informações apresentadas pelo relator, Delúbio e Marcos Valério telefonaram a Vadão Gomes em datas anteriores aos dias nos quais o empresário afirma terem sido feitos os pagamentos ao deputado.
O relator sustentou que Delúbio ligava autorizando o pagamento dos recursos e Marcos Valério executava o trabalho e, por telefone avisava Gomes da entrega do dinheiro. Segundo Moroni, as investigações confirmaram os depoimentos das duas testemunhas: Delúbio e Marcos Valério. Vadão Gomes nega ter recebido dinheiro do esquema. Ele argumentou no processo que a denúncia contra ele tinha por base depoimentos sem provas. Em sua defesa, o deputado citou o fato de o procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, não ter relacionado o seu nome na denúncia entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar da conclusão do relator pela cassação, o deputado do PP foi, no entanto, beneficiado pela mudança do perfil do colegiado com a saída de cinco conselheiros, e o parecer de Torgan foi rejeitado. O processo de Gomes chega ao plenário com a sugestão de arquivamento, formalizada pelo segundo relator do processo, deputado Eduardo Valverde (PT-RO). Para cassar o mandato, são necessários 257 votos, a maioria absoluta dos 513 deputados em votação secreta. Acreditando na absolvição, Gomes pediu ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que seu processo fosse votado logo pelo plenário.
No dia 31, o deputado José Janene deverá depor no Conselho de Ética da Câmara, depois de tentar com vários recursos que seu processo fosse interrompido. O deputado alegou por diversas vezes não ter condições de saúde para depor no conselho. Janene pediu aposentadoria por invalidez. A aposentadoria foi negada por Rebelo até a conclusão do processo, de acordo com conclusão da Comissão de Constituição e Justiça da Casa (CCJ). Uma junta médica da Casa atestou que o deputado tem uma grave doença no
coração.
Janene, que era líder do PP na Câmara quando o escândalo veio à tona, é acusado de ter sido beneficiado com o dinheiro do esquema. O assessor do parlamentar João Cláudio Genu teria sacado R$ 4,1 milhões das contas do empresário Marcos Valério. O deputado admite saque de R$ 700 mil para o PP pagar as despesas do advogado do deputado Ronivon Santiago (PP-AC), cassado pela Justiça Eleitoral.