Em sua primeira viagem internacional como presidente, Dilma Rousseff terá
encontro nesta segunda-feira, 31, com a argentina Cristina Kirchner, na Casa Rosada, para
demonstrar apoio à parceria estratégica entre os dois países e mandar recado
aos vizinhos Bolívia, Equador e Paraguai. Antes mesmo de embarcar, ela
sinalizou, numa entrevista no Planalto, publicada no sábado, 29, pelos principais jornais
de Buenos Aires, que não aceitará quebras de contratos empresariais e
comerciais.
Dilma afirmou a jornalistas argentinos que é preciso respeitar
contratos para garantir um marco regulatório estável. Ela disse que entendia os
problemas e as condições históricas enfrentadas pelos países do continente e
avaliou que o respeito aos contratos firmados é o método mais eficaz para uma
região com grande horizonte de desenvolvimento. Diplomatas brasileiros avaliam
que a presidente decidiu se antecipar a novas investidas de mudanças de contrato
por parte dos vizinhos.
Sem a influência e a popularidade do antecessor, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma não pretende ficar refém de
parceiros tradicionais. Durante o governo Lula, o Planalto sofreu uma série de
constrangimentos por queixas públicas e rompimentos de contrato de grandes
empresas nacionais por parte de governos aliados do continente.
O boliviano Evo
Morales chegou a ocupar uma refinaria da Petrobrás. Rafael Corrêa, do Equador,
suspendeu contratos com empreiteiras brasileiras. Já Fernando Lugo, do Paraguai,
quer mudar o acordo do uso da energia de Itaipu.
Na entrevista aos jornais,
Dilma foi questionada sobre uma possível desvalorização do real, uma preocupação
de autoridades e empresários argentinos. Ela afirmou que, no Brasil, o câmbio
não tem oscilado muito, mas disse que não é possível dar garantias. Temos
conseguido manter o dólar dentro de uma faixa de flutuação entre 1,6 e 1,7
real, afirmou. Não tem havido nenhum derretimento.
A presidente lembrou que
sua formação é de economista e, por isso, não poderia dar garantias de que não
haverá desvalorização de uma moeda. Creio que no mundo ninguém pode afirmar
isso, afirmou, rindo. Ela propôs um debate envolvendo organismos internacionais
e países em desenvolvimento sobre o tema.
Mulheres difíceis - A viagem de Dilma
a Buenos Aires será carregada pelo simbolismo. Pela primeira vez uma presidente
argentina recebe uma brasileira. De 1974 A 1976, a Argentina foi governada por
María Estela Martínez de Perón, mais conhecida como Isabelita, mulher e vice
do presidente Juan Domingo Perón, que tomou posse após a morte do marido.
A
chegada de Dilma à Argentina estava prevista anteriormente para a noite deste domingo.
Ela, porém, decidiu encurtar a visita e limitar a agenda a encontros com
Cristina e ministros argentinos na Casa Rosada, sede do governo, e um almoço no
Palácio San Martin, onde funciona o ministério de relações exteriores do país
vizinho.
Vista por políticos e empresários brasileiros como gerente durona,
Dilma foi descrita pelos jornais argentinos neste final de semana como uma
senhora controlada, porém afetiva. A imagem de mulher casca grossa e
antipática, ao menos em Buenos Aires, é reservada para a presidente Cristina
Kirchner.
A viúva de Néstor Kirchner costuma ser ríspida e ficar na defensiva
nas raras vezes em que é questionada por jornalistas. Ela sempre está sob os
holofotes agendados pela máquina de propaganda do governo. A vaidade de
Cristina, dizem, sofreu duro golpe na semana passada, quando o presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, anunciou uma viagem a América do Sul para março,
incluindo apenas Brasil e Chile no roteiro.
A agenda do encontro das duas
presidentas, como Dilma e Cristina preferem ser chamadas, é recheada de temas
requentados e velhos protocolos de intenções, como a parceira para construção de
reator nuclear e hidrelétrica no rio Paraná.
Não há expectativa de demonstrações
de diferenças de interesses dos dois países na rápida visita de Dilma a
Cristina. As diferenças devem ficar mesmo por conta do visual das duas mulheres
que, no momento, estão solteiras. Tudo indica que a presidente argentina, adepta
da saia curta, deve continuar vestindo preto pelo luto do marido até as próximas
eleições. Já a brasileira prefere calças compridas e saias mais longas.