O candidato do DEM à Prefeitura de Salvador, ACM Neto, mostrou no horário eleitoral gratuito que não só vai manter o Bolsa Família, principal programa de inclusão social do governo do presidente Lula, como pretende ampliar o número de assistidos. E, inclusive, se apropriou da imagem do ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), responsável pela execução do programa. Já Walter Pinheiro, prefeiturável do PT, não se cansa de repetir que Salvador precisa de um bom gestor e de alguém capaz de ajustar as contas e apresentar bons projetos. Segue o receituário do prefeito de Belo Horizonte, o também petista Fernando Pimentel, que é aliado do governador de Minas, o tucano Aécio Neves. O governador mineiro adotou, desde o primeiro mandado, um conjunto de medidas para reduzir as despesas com a máquina pública e recuperar a capacidade de investimentos do Estado, o chamado “choque de gestão”, cujo modelo é seguido por Pimentel, que dá a fórmula do sucesso de seu governo: “O que faz diferença não é ter muito ou pouco dinheiro, mas contar com uma máquina pública azeitada”, diz o prefeito petista.
Em termos de gestão, em Minas, o estatismo do PT e o liberalismo do PSDB se misturam cada vez mais. Mas afinal, em qual fonte cada prefeiturável de Salvador bebeu para pensar o modelo de administração que, caso eleito, pretenda implantar na cidade? Em busca desta resposta, A TARDE indagou aos cinco candidatos ao Thomé de Souza sobre as referências e práticas ideológicas que os guiaram na elaboração dos seus projetos de governo para a capital baiana.
Líder nas pesquisas eleitorais, ACM Neto (DEM) foi buscar subsídios junto ao secretário de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Garcia, para pensar os seus projetos sociais. Ex-secretário Nacional de Assistência Social, Garcia coordenou e implantou o Cadastro Único dos programas sociais federais entre os anos de 2000 e 2002 no governo do presidente tucano FHC.
ACM NETO – O candidato do Democratas, segundo o coordenador de sua campanha, o deputado federal licenciado Luís Carrera (DEM), visitou prefeitos e governadores com o objetivo de conhecer experiências e dicas para enxugar a máquina pública, uma de suas principais propostas para Salvador e receita típica do neoliberalismo.
Neto se reuniu, ainda que informalmente, com integrantes da equipe do consultor Vicente Falconi, que transpôs para o governo de Minas o conceito de gestão empresarial que recomenda aos seus clientes, entre os quais os grupos Gerdau e Votorantim. Neves, seguindo as orientações de Falconi, tirou Minas de um déficit de 12% do orçamento para um quadro de superávit. Falconi também deu consultoria aos governadores do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), do Distrito Federal José Roberto Arruda (DEM), do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), e até para o presidente Lula, que recebeu dele um plano para equilibrar as contas da Previdência Social.
O capítulo do programa de governo de ACM Neto sobre planejamento urbano e gestão tem, ainda, a colaboração do ex-prefeito de Curitiba e secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal, Cássio Taniguchi e do ex-ministro da Fazenda e do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Gustavo Krause, que também governou Recife e o Estado de Pernambuco.
Para o combate à violência, Neto foi buscar fora do País, mais precisamente na Colômbia, subsídios para o seu projeto de prevenção da violência. Trouxe a Salvador o consultor em segurança pública da ONU, Hugo Acero, que propôs, entre outras medidas, o Big Brother Bairro.
IMBASSAHY – As leituras do tucano Imbassahy também refletem sua inclinação liberal. Ainda assim, o vice na sua chapa, o ex-vereador Miguel Kertzman (PPS), que militou no antigo Partido Comunista Brasileiro, foi categórico ao dizer que a campanha da chapa PSDB/PPS não se fechou à possibilidade de se nutrir em caldos de outras leituras de mundo. “Tudo o que for somado como experiência e que possa ser adaptado na gestão de uma cidade como Salvador, fomos buscar”, explicou Kertzman, que faz uma ressalva: “Não nos atemos apenas em mesclar excelência técnica com a política. Fizemos uma leitura baiana de cada idéia ou sugestão”.
Tucanos e progressistas foram pegar sugestão da experiência administrativa e dos programas adotados na administração dos prefeitos de Belo Horizonte (MG), Fernando Pimentel (PT) e de Curitiba (PR), Beto Richa (PSDB). Entre os baianos, os “inspiradores” do programa de governo de Imbassahy estão o ex-governador Roberto Santos, e o psiquiatra Antônio Nery Filho, estudioso sobre o uso de drogas, e do professor Jairnilson Paim, do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Ufba, que tem trabalhos sobre violência urbana e saúde pública. Outro consultado, foi o médico paulista José Guedes, especialista em saúde pública, que modernizou o atendimento em São Paulo quando foi secretário de Saúde nos governos municipal e estadual de Mário Covas.
PINHEIRO - O candidato petista, Walter Pinheiro, destaca como referencial teórico de seu modelo de gestão o que chama de “modo petista de governar”, que é fruto de um acúmulo de 20 anos de administrações do PT. Entre as experiências petistas balizadoras, Pinheiro cita as de Porto Alegre e Belo Horizonte. “Tivemos muitas conversas com Fernando Pimentel sobre a questão de como arrumar as contas públicas e gerenciar a cidade”, disse o prefeiturável petista.
Pinheiro pretende basear-se na gestão de Belo Horizonte para capilarizar o Programa Saúde da Família em Salvador (a capital mineira é a que tem a maior cobertura do programa no Brasil). Quanto a Porto Alegre, que já foi administrada pelos petistas Olívio Dutra, Raul Pont e Tarso Genro, o candidato do PT em Salvador citou como referência o Orçamento Participativo e a transparência nas licitações que teria caracterizado a passagem do petismo pelo governo municipal.
O petista ressaltou também a influência sobre ele da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em torno das questões do PAC, e dos ministros Tarso Genro (Justiça), na área da segurança, e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social). Destes, os dois últimos já estiveram presentes em atividades de campanha de Pinheiro em Salvador.
Sobre referências baianas, Pinheiro citou a colaboração da arquiteta e ex-secretária de Habitação de Salvador, Ângela Gordilho, ex-secretária de João Henrique, para pensar a questão da moradia e redistribuição do espaço urbano. E para desenvolver seu programa de transporte, Pinheiro recorreu a modelos de outros países. “Nos referenciamos em cidades que usaram experiências inovadoras de integração do sistema de transporte, como Barcelona, Genebra e Lisboa”, afirmou.
JOÃO - O advogado tributarista Edvaldo Brito (PTB), candidato a vice-prefeito de João Henrique (PMDB), é o coordenador de programa de governo da chapa encabeçada pelo peemedebista. Ele disse que o programa de governo do peemedebista, que concorre à reeleição, se fundamenta na própria experiência do atual governo da cidade. “Nosso referencial são as necessidades coletivas. Nos guiamos especialmente a partir das propostas que o próprio João Henrique concretizou na cidade, esta é a nossa filosofia”, frisou. “Essas teorias [de gurus da administração pública e privada] não correspondem às necessidades de Salvador. Fugimos de elucubrações teóricas que possam estar distantes da cidade”, complementou.
Ainda assim, a assessoria de comunicação de João Henrique, acusada por adversários de falta de firmeza nas opiniões, informou que seu livro de cabeceira neste período de campanha é o best seller O Monge e o Executivo. Segundo textos de divulgação da obra, o livro dá lições de como uma pessoa pode tornar-se um “líder de verdade”. O autor do livro, James C. Hunter virou um guru para executivos e um dos nomes mais requisitados no mercado internacional de palestras e seminários.
HILTON – O candidato do PSOL, Hilton Coelho – que, como o partido indica, tem visão de mundo baseada em idéias de socialistas revolucionários como o argentino Ernesto “Che” Guevara, que lutou pela implantação do socialismo em toda a América Latina – assinalou que seu modelo de governo se baseia em princípios marxistas para construir o seu programa de governo, observando, entretanto, que o socialismo tem que ser construído com bases na cultura e sociedade brasileiras. “A nossa idéia é a da democracia participativa e não só representativa. O nosso objetivo central é colocar a máquina pública a serviço do público”, ressaltou o candidato.
Indagado se ele, que já foi do PT, trazia alguma referência das administrações petistas, Hilton Coelho disse que a única que ficou foi a da administração de Belém (PA), na gestão de Edmilson Rodrigues. “O Congresso do Povo [fórum como se chamava o Orçamento Participativo para a definição dos investimentos na cidade] foi uma experiência positiva, mas, infelizmente, não caracteriza a maioria das prefeituras do PT, que abandonaram a idéia do Orçamento Participativo como um elemento de participação efetiva do povo”, pontuou Hilton.