No dia seguinte ao decreto do AI-5, os jornais brasileiros noticiaram as novas regras que estavam em vigor no País a partir de então. Em seus textos, os jornalistas tiveram a obrigação de destacar que eles próprios seriam alvo de censura e controle.
“Para orientar a equipe da redação, fizemos uma lista dos assuntos que estavam proibidos e a fixamos no mural”, lembrou o diretor de A TARDE na época, Renato Simões, hoje com 83 anos.
Dentre os temas vetados, contou Simões, estava um surto de uma doença que atingia a Bahia. A censura levou o jornal a suspender a publicação das colunas políticas. Um protesto que foi divulgado em nota ao leitor. “Não adiantava brigar contra tanques”, disse.
Já o Jornal da Bahia continuou elaborando textos políticos e, quando era censurado, deixava o espaço da matéria em branco. “Travávamos uma luta contra Antonio Carlos Magalhães, que era governador da Bahia e um ‘delegado’ da ditadura.
Além da censura, ele proibiu os empresários de anunciarem no jornal. Quem contrariasse era alvo de fiscalização do governo”, afirmou João Falcão, ex-diretor do Jornal da Bahia. “Perdemos 95% da publicidade durante a ditadura e tive que vender o jornal em 1983, depois de 25 anos de trabalho”. O Jornal da Bahia ainda durou mais alguns anos e encerrou suas atividades no início da década de 1990.
Cultura – Além da imprensa, as expressões culturais e artísticas sofreram com a censura e a repressão. Na Bahia, a primeira Bienal de Artes de Salvador, programada para acontecer em 1969, foi cancelada por força policial.
O ator e diretor Harildo Deda lembra que, para burlar a censura, o teatro baiano passou a investir na expressão corporal. “Mas isso afastou o público, que não entendia. Às vezes, nem as pessoas envolvidas entendiam o que queriam dizer. A situação era terrível. A gente preparava o espetáculo e não sabia se iria estrear”.
Na música, artistas tiveram letras censuradas e shows interrompidos, quando não acabavam presos, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, que foram expulsos do Brasil.
*Colaborou Eduardo Vieira