Deputado baiano Jean Wyllys cuspiu em Bolsonaro
Foi um show à parte a declaração de votos dos deputados na sessão do plenário da Câmara, no domingo, 17, que decidiu pela continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado.
Ao invés de se aterem às razões alegadas no processo (possíveis pedaladas fiscais e outros crimes de responsabilidade cometidos por Dilma), boa parte dos parlamentares preferiu dedicar o voto às suas cidades, aos prefeitos dos colégios eleitorais e a correligionários.
Também teve quem aproveitasse o microfone e as câmeras de TV para mandar beijinhos à mulher, aos filhos, à mãe, agradecer ao pai e evocar a Deus, os evangélicos, a Igreja e os cristãos.
Para o sociólogo e cientista político da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o Joviniano Neto, a cena mostrou um espelho "bem deformado", porém atual, da política brasileira. "Quando o deputado dedicou o voto a determinados segmentos, ele estava mostrando fidelidade ao seu eleitor e a seu financiador, que nem sempre têm os mesmos interesses", assinalou o professor.
Como os mandatos ainda dependem fortemente desta correlação, explica Joviniano Neto, os deputados aproveitaram os "30 segundos de fama" para fazerem discursos que, acreditam, não só entrarão para a história, como poderão ser usados na próxima campanha eleitoral.
Mudanças só ocorrerão, afirma o cientista político, na medida em que os vários setores sociais forem se fortalecendo e a cultura se tornar mais democrática, para haver um menor desequilíbrio na representação parlamentar.
Entre as cenas patéticas protagonizadas pelos deputados, e que mostram o que professor chama de "dissonância" na política, estiveram a homenagem que o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) fez ao coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido como torturador.
Ao declarar "sim" pelo impeachment, ele disse: "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff''. Momentos depois, Bolsonaro foi cuspido na cara pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), por tê-lo insultado na hora de votar.