Grampos foram ordenados por ACM, segundo MPF
Treze anos após virar escândalo nacional e nove anos depois da morte do seu autor intelectual, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM), o caso dos "grampos de ACM", como ficou conhecido, volta à cena, num momento em que o Brasil é sacudido com as denúncias de corrupção da Lava Jato, envolvendo empresários, parlamentares e ministros.
Na última sexta-feira, 13, o Ministério Público Federal na Bahia (MPF-BA) pediu a condenação dos réus Alan Souza de Farias, ex-vice diretor da Central de Telecomunicações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, e Valdir Gomes Barbosa, delegado da Polícia Civil e ex-assessor técnico da SSP/BA, pela realização de escutas telefônicas ilícitas, ocorridas em 2002 e tornadas públicas em 2003.
Na manifestação feita ao juiz da 17ª Vara da Justiça Federal na Bahia, a procuradora da República Melina Castro Montoya Flores assinala que as interceptações ocorreram sem autorização judicial prévia e foram feitas a mando do senador ACM - cuja responsabilização não foi possível devido ao seu falecimento. O processo contra ele acabou sendo arquivado pelo Supremo.
Entre as 232 vítimas das escutas estão o hoje ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB), um arqui-inimigo de ACM ; o deputado federal e ex-aliado do senador, Benito Gama (PTB), e o secretário estadual de Turismo, Nelson Pelegrino, à época líder do PT na Câmara dos Deputados.
Absolvidos
Outros seis acusados de envolvimento nos grampos ilegais a mando de ACM, entre as quais a vereadora Kátia Alves (Solidariedade), ex-titular da Secretaria de Segurança, foram absolvidos pela Justiça por falta de provas.
Em sua manifestação o MPF alega que Valdir Barbosa e Alan Farias usaram o aparato da Secretaria de Segurança Pública para promover o grampo de políticos e de desafetos pessoais do senador, como o advogado Plácido de Faria e sua esposa Adriana Barreto, bem como parentes e amigos deles.
O casal de advogados foi perseguido por ACM, que não aceitava o fim do romance com a ex-amante e filha do ex-desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia, Amadiz Barreto.
Ao pedir a condenação dos réus em seu patamar máximo, de quatro anos de reclusão, e a perda do cargo ou função pública, a procuradora Melina Montoya afirma que há farta prova material e testemunhal que apontam os dois como autores das escutas ilegais.
Valdir Barbosa teria se valido de um caso de extorsão mediante sequestro, ocorrido no município de Itapetinga, cuja investigação supervisionava e tinha autorização da Justiça para realizar interceptações telefônicas. Segundo o MPF, Valdir inseriu números de seu interesse entre os que deveriam ser interceptados para a descoberta dos envolvidos no sequestro.
Indagado, na terça, 17, o que achou da representação do MPF-BA, o ministro Geddel Vieira Lima preferiu citar Rui Barbosa. "Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada".
Para o ministro, treze anos depois do fato e ainda dependendo do Judiciário acatar a ação, é remoer o passado. "Não me importa mais, me importava na época", afirmou Geddel.
Já o delegado Valdir Barbosa disse respeitar o MPF-BA, mas que prefere aguardar a decisão da Justiça. Ele nega a sua participação nos grampos ilegais e afirma que não há provas de seu envolvimento.
Barbosa disse, ainda, estranhar a conclusão do MPF. "Há um crime e quem seria o mandante (ACM) é absolvido pelo STF; há um intermediário que teria determinado as escutas (Kátia Alves), é absolvida pela Justiça. Dos que teriam executado os grampos, inclusive gente da telefônica, foram absolvidos. Estamos (ele e Alan) no epicentro disso tudo, sem que eu consiga entender o porquê", disse o delegado.
A TARDE tentou, sem sucesso, falar com Benito Gama e Nelson Pelegrino. O petista chegou a receber da TIM (ex-Maxitel), a operadora envolvida nas escutas, indenização de R$ 500 mil.